Tudo estava perfeito naquela tarde. Madeleine Patrício é uma simpatia em pessoa. Atenta e preocupada com os menores detalhes, nos convocou a uma casa portuguesa com certeza: o restaurante Antiquarius.
Lá estava o produtor do Douro, o engenheiro Domingo Alves de Sousa, da renomada Quinta da Gaivosa.
A produção de vinhos é uma tradição familiar para Domingos Alves de Sousa: seu pai, Edmundo Alves de Sousa, e seu avô, Domingos Alves de Sousa, já haviam sido vitivinicultores do Douro.
Como mencionei anteriormente, o nosso entrevistado é formado em engenharia, mas em 1987 abandonou sua atividade e dedicou-se exclusivamente à administração dos seus vinhedos.
Durante muito tempo, forneceu matéria-prima para empresas como a Casa Ferreirinha e a Sociedade dos Vinhos Borges, mas em 1992 ele apresentou seu primeiro vinho: o Quinta do Vale da Raposa branco 1991.
Prêmios: inúmeros... Também, com a equipe que tem... O enólogo da casa é Anselmo Mendes, que foi escolhido o Enólogo do Ano em 1997 pela Revista de Vinhos de Portugal.
A nossa entrevista foi realizada entre belos pratos de bacalhau e os vinhos deste magnífico produtor.
Agradeço a Domingos Alves de Sousa pela entrevista concedida e à colaboração generosa de Aníbal e Madeleine Patrício para a realização da mesma.
Enoabraços,
Mike
Mike Taylor
Domingos Alves de Souza
Qual é a sua opinião sobre os Douro Boys?
Os Douro Boys são, na verdade, cinco empresas que têm feito um bom trabalho em prol da divulgação dos vinhos do Douro, assim como faz minha associação, a IWA-Independent Winegrowers Association of Portugal.
Para quais países você exporta seus vinhos?
Para 20 países, dentre os quais posso mencionar Estados Unidos, Canadá, Brasil, França, Bélgica, Macau, China...
Como você vê a Espanha?
A Espanha é o nosso parceiro mais próximo, não a vemos como ameaça, pois temos as nossas próprias castas portuguesas e eles usam mais castas francesas. O que nós temos é bom e não pretendemos ter um mar de vinhos.
Com vinhos de alta gama, podemos concorrer com eles e outros países tranquilamente. Outro detalhe é que o estágio em carvalho determina a categoria nos vinhos espanhóis e nós, em Portugal, usamos a madeira como um complemento, um tempero...
O capital estrangeiro representa uma ameaça?
Não! Recebemos investidores do mundo todo e eles respeitam a nossa identidade...
E o caso do Bruno Prats e a família Symington, do Chryseia?
Puras castas portuguesas nesse vinho...
Robert Parker?
Ele está começando a descobrir os grandes vinhos portugueses. Pela primeira vez, deu atenção aos vinhos da nossa região e deu destaque. Eu mesmo tive 5 vinhos com mais de 90 pontos, sendo que um deles recebeu 95 pontos.
Você gosta de críticos?
É uma pergunta muito difícil. Considero que não há maus críticos, mas existem aqueles mais ou menos flexíveis. Tem uns que só sabem beber vinhos do Novo Mundo ou de uvas francesas, da dupla Cabernet Sauvignon e Chardonnay. Esses devem abrir a sua cabeca para as castas portuguesas. Eu aprecio os críticos honestos, especialmente os que degustam às cegas.
Poderia indicar nomes de críticos que aprecia?
Sim... os portugueses João Paulo Martins e Luiz Lopes; os ingleses Charles Metcalfe, Jancis Robinson, Tim Atkins e Oz Clarke; e o americano Robert Parker...
E enólogos que você admira?
Em Portugal, o enólogo é a clave de um vinho, sendo parte importante dele e pertence ao conceito de terroir. Mas eu prefiro mencionar produtores e enólogos como um conjunto, como os da Vega Sicilia, Alvaro Palacios da Finca Dofi, Alejandro Fernandez da Pesquera e os enólogos do Château Petrus.
Como você vê o Novo Mundo?
O Novo Mundo elabora grandes volumes com alguma qualidade. Austrália, por exemplo... Mas isso vai mudar, pois o mercado está começando a ficar saturado e por isso procura as tradicionais castas portuguesas.
A Argentina tem melhorado bastante e o Chile também... Veja os vinhos da De Martino, da Montes...
Existe o risco de alguma casta portuguesa se internacionalizar?
Sim, há uma casta portuguesa que corre esse risco, a Touriga Nacional.
Como você vê o vinho português daqui a dez anos?
Espero estar aqui para ver... (risos)
Penso que o vinho português terá um futuro brilhante, não para todos, mas para alguns sim... A nossa juventude está a aderir. Por exemplo, meu filho é agrônomo e enólogo e tem realizado estudos e estágios no exterior e doutorado em Piacenza.
Se tivesse que investir no exterior, onde o faria?
Se eu quisesse atingir o mundo, investiria na California. Se fosse a Europa, seria na Itália, no Piemonte... pelas suas castas autóctones.