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Entrevista com o cantor Ed Motta
Segundo Antônio Carlos Miguel, o carioca Ed Motta despontou em fins dos anos 80, como o vigoroso cantor e um dos compositores e produtores do Conexão Japeri (Warner, 1988), com toques de soul, funk, pop-rock, ainda não vigentes nas terras nacionais. Isto com apenas 16 anos. Mas Ed Motta, é da safra 1971.

Aos 35 anos de idade, ele já misturou samba-canção, jazz, bossa nova, reggae, funk-soul, entre outros ritmos, e é um cantor, compositor, multiinstrumentista, arranjador e produtor musical de bases conceituais que vão da compulsão como colecionador à voracidade enciclopedista. Ele é cinéfilo de carteirinha, expert em peixes e aquários, músico e enófilo...

Muita coisa para 35 anos... bem bebidos, uops!, digo bem vividos.
Mike Taylor Ed Motta
Quando e como chegou ao mundo do vinho? Posso dizer que desde 1994 bebo vinhos com atenção. Morei nos USA e foi aí que descobri o meu entusiasmo pelo vinho.
Onde comprava seus vinhos? Na 95th e Broadway, tinha uma loja chamada Gotham Wine & Spirits, especializada em Bourgogne e Sul da França. Aí fui apresentado aos Morgon de Marcel Lapierre... (http://www.marcel-lapierre.com/)
Mas só Bourgogne? Não, antes eu já gostava muito de Bordeaux.
Fez algum curso de degustação ou de vinhos? Tipo SBAV, ABS? Não. Sou autodidata. Não acredito em academicismo... e por isso não acredito em notas. Mas não sou relativista, sou anarquista. Ainda leio Bakunin. (Mikhail Aleksandrovitch Bakunin, livre pensador russo que proclamava a anarquia, e os conceitos de anti-autoritarismo, mutualismo e descentralização das instituições políticas.)
Como vê as críticas de vinhos? Em 1994, todas as grandes revistas de hoje eram quase desconhecidas. Eu assino somente a Revue du Vin de France. A Wine Spectator é uma revista de anúncios, digamos, uma Vogue do vinho. Vinho está acima disso.
E as publicações nacionais? As nacionais estão bem, mas algumas pecam por serem fiéis demais a uma editoria comercial. Muitas tem veemência a pró e contra pessoas e coisas.
Quantos livros tem a sua biblioteca? (Risos) Acho que depois do Renato Machado, a minha biblioteca é bastante grande...
Você cozinha. Qual é seu melhor prato? Pato recheado com peras. Mas quando vi amigos que faziam melhor, desisti. É coisa de leonino, egocêntrico, ou sou o pior ou devo ser o melhor.
França: quais regiões? Bourgogne, Loire, Alsace...
Uvas? Gewurztraminer, Riesling...
Alguns rótulos, produtores? Sim... ! O Gewurztraminer do Domaine Zind-Humbrecht, o Riesling do Marcel Deiss, ou Hugel, o Saumur Blanc do Château Yvonne.
Como vê os vinhos brasileiros? Nós temos que ter a mesma condescendência que temos com os importados e aplicá-la aos brasileiros. As comparações são chatas... Se eu gosto de um vinho brasileiro, meu prazer é o de um colecionador. Eu não vim pro vinho por interesse elitista ou de sofisticação. Vim como colecionador. Sou um colecionador e o meu interesse é o de saber exatamente o que estou bebendo.
Aquela história de levar as próprias taças ao restaurante .... Há 10 anos atrás, muitos restaurantes nem tinham taças adequadas... por isso eu levava minhas próprias taças. Digo mais, lavava minhas taças com bicarbonato de sódio.
Como define um enochato? É aquele que anda com as notas dos crí­ticos. Eu detesto notas, reafirma -. Muitos brasileiros são relativistas. Mas têm coisas positivas na enochatice também... Eu critico Robert Parker, mas sou a favor dos enochatos.
Como definiria seu gosto? Acima de tudo, eu tenho meu próprio gosto. Eu venho do mundo da música, onde o mais louco é legal... no mundo do vinho, as vezes a anarquia, a diversidade são perseguidas.
França, por que gostar dela? Porque a França é a minha mãe. E não tem como não gostar da própria mãe!
Poderia mencionar uns "unforgettable" (inesquecíveis)? Sim...! La Tâche 1978. Puligny-Montrachet do Domaine de la Romanée-Conti 1982, Bâtard-Montrachet 1992 da Domaine Leflaive e o La Mission 89.