Em terras hispânicas, "Pepe" é a forma como os amigos chamam as pessoas de nome José. Ele, nascido como José Galante não poderia ser diferente, virou Pepe. Nosso entrevistado veio ao Brasil a convite da Importadora Mistral para comandar a degustação "Malbecs de Vinhedo e Altitude" e apresentar oficialmente os rótulos da nova linha: DV Catena.
Há três décadas trabalha na vinícola comandada pelo guru Nicolas Catena. Muito gentil e sereno, e objetivo na hora de responder.
O local escolhido pela representante da Mistral, Sra. Yoná Adler, foi o restaurante Esplanada Grill, onde em meio a carnes nobres e vinhos da Catena Zapata, o enólogo chefe da vinícola argentina falou abertamente sobre pontuações e outros temas como vinhos varietais e de assemblage.
Com vocês, José "Pepe" Galante
Mike Taylor
Pepe Galante
Segundo Nicolas Catena, a Malbec ganha com mais metros de altitude. Sendo assim, por que a empresa não tem vinhedos de Malbec em Salta?
É verdade que a altitude gera micro-climas especiais, mas na hora de plantar não avaliamos só altitude e sim temperatura média, amplitude térmica... e essas condições em Salta são diferentes das que temos em Mendoza.
Conhece algum vinho de Raul Dávalos, dos Vales Calchaquies de Salta?
Não... mas conheço os vinhos de Michel Rolland, de San Pedro de Yacochuya, e os da vinícola Colomé. São vinhos que refletem um terroir, mas não são tão fáceis de beber como os que nós produzimos em Mendoza.
Quantos vinhos tem o portfolio da Catena Zapata?
Mais de 40 produtos com certeza...
Por que tão poucos vinhos de assemblage? Não é uma limitação da sua companhia?
Não... nas linhas de alta gama, utilizamos corte ou assemblage estilo bordalês.
Existe a possibilidade de Catena Zapata elaborar um vinho ao estilo "Montchenot"?
Não!!! Admiro o trabalho dos Lopez, mas a proposta da nossa vinícola é elaborar vinhos modernos.
Qual é o potencial de guarda dos vinhos de alta gama da Catena Zapata?
Na vinícola temos brancos com sete anos, que estão com bouquet perfeito e temos uns tintos com mais de 10 anos... no mesmo estado.
Boa parte das vinícolas argentinas pertencem a capital estrangeiro, isso ameaça a construção de uma identidade do vinho no seu pais?
Não... pois os capitais do exterior trabalham com a nossa realidade e terroir. Veja Paul Hobbs por exemplo, o seu Malbec é totalmente argentino. Talvez possa mudar o estilo de um produtor para outro...
Quem é o responsável pelo fato de os consumidores do Novo Mundo gostarem especialmente só de vinhos jovens, tipo "blockbusters"?
Eu diria que são os "flying winemakers".
Você dá consultorias para outras vinícolas?
Não.
A tecnologia substitui a tradição?
Não! A tecnologia está a serviço da tradição!
Como descreve as mudanças da vitivinicultura na Argentina desde que você começou com Nicolas Catena?
Radicais! Antigamente produzíamos vinhos que não conseguiríamos exportar. Hoje somos reconhecidos mundialmente e isso foi resultado da nossa reconversão.
Como vê o panorama da Argentina nos próximos anos?
O panorama vitivinícola? Promissor... o "outro" panorama, só Deus sabe. (risos)
Algum projeto de vinhos espumantes?
Sim, em 2008 lançaremos produtos com método Charmat e um Champenoise com 24 meses de "sur lie".
Qual será a composição?
As uvas são de vinhedos de altitude Chardonnay e Pinot Noir.
Algum vinho de sobremesa?
Sim! Elaboramos um belo Semillon com botrytis induzida, de vinhedos que temos em Agrelo, Luján de Cuyo, a 900m de altitude.
Já bebeu algum vinho brasileiro?
Sim, um branco, chamado Villa Francioni... a madeira fala um pouco mais alto do que a fruta, mas acho que deve ser um vinho ícone do Brasil.
Algum vinho inesquecível?
Sim... há dois anos em Nova Iorque, participei de uma degustação de grandes vinhos de Bordeaux, os Grand Cru Classé, e gostei muito. Também gosto dos californianos como Insígnia, Caymus, Screaming Eagle...
Alguma situação bizarra?
Sim! Em 1990 estragamos um Chardonnay! Era o início das nossas experiências com essa uva... no tanque o vinho estava delicioso, mas quando o engarrafamos perdemos todo o produto.
Como nasce a sua própria vinícola Mapema?
Foi um sonho de dois amigos, que se concretizou... Em 1999, junto a Mariano Di Paola, elaboramos o nosso primeiro vinho, foi um corte de Cabernet Sauvignon (50%), Malbec (30%) e Merlot (20%).
Ou seja, na sua vinícola você elabora assemblages e na Catena Zapata varietais?
(risos) Na minha vinícola eu prefiro assim...
Um enólogo que admire? Que não seja Nicolas Catena, por favor...
(risos) O meu professor Francisco Oreglia, que fundou a primeira faculdade superior de vitivinicultura da Argentina.