Luis Pato é da safra 1948. Nesse ano os Portos brilharam... o Taylor, por exemplo, fez bonito. Segundo Jancis Robinson, que o bebeu em 2004, "tinha um aroma floral, de pétalas de rosa e o seu sabor era uma autêntica lisonja líqüida..."
O general e grão-mestre da maçonaria Norton de Matos apresentava-se oficialmente como candidato à Presidência, lançando o seu "Manifesto à Nação" e o discurso parecia saído de uma trincheira republicana, com declarações de respeito às instituições e às liberdades democràticas. Um dia antes das eleições, o general iria desistir da candidatura.
Era o ano da criação do Estado de Israel, que punha fim à diáspora de quase dois mil anos do povo judeu... Também era proclamada a República Popular da Coréia do Norte. Infelizmente o iluminado e grande pai, Mahatma Gandhi morria assassinado. Portugal aceitava as regras do plano Marshall.
Este era o mundo em evolução e revoluções.
Assim também anos depois, o engenheiro químico Luis Pato (Universidades de Coimbra e Lisboa), de acordo com seu tempo iria transformar uma região: a Bairrada, e conseguir domar a sua uva emblemática, a Baga. Até então, os vinhos da Bairrada eram conhecidos pela rusticidade, acidez elevada e alta tanicidade.
Luis Pato iria mudar este panorama.
Mike Taylor
Mike Taylor
Luis Pato
Na sua formação como químico / enólogo, você fez algum estágio fora de Portugal?
Não, não fiz estágios fora, minha prática cotidiana foi a minha base. Creio que não fazer estágios fora não me impediu de ter uma visão global e desde 1990 faço parte do Juri do Wine Challenge, em Londres.
Como você vê o enófilo brasileiro?
O enófilo do Brasil tem progredido até mais que o de Portugal. O brasileiro está ansioso por saber mais, enquanto o português acha que já sabe tudo.
Como você vê os enólogos das novas gerações?
O enólogo hoje viaja muito mais e adapta-se ao gosto internacional.
Essa "adaptação" é benéfica para a identidade do vinho?
Não, essa "adaptação" nao produzirá os grandes vinhos. Só a capacidade de evoluir é o que dará grandeza aos vinhos. É bom beber um grande Bourgogne com quinze anos e não com apenas um ano de vida. Os vinhos atuais são muito imediatos.
Como você vê a imprensa especializada?
É importante a função da imprensa especializada até na definição de modas no vinho. A sua função é a de estar à procura de notícias, de coisas novas... Vejo a imprensa positivamente, embora eu possa discordar de alguns críticos.
Para quem você faz vinhos?
Para o consumidor, desde que eu também goste! (risos)
Qual é o desafio que você vê no panorama brasileiro de vinhos importados?
Que o brasileiro desenvolva mais gosto pelos vinhos brancos...
Como você vê a indústria vitivinícola brasileira?
O Brasil tem capacidade para elaborar bons vinhos brancos, especialmente no sul, na fronteira com o Uruguai.
Algum vinho tinto brasileiro o impressionou positivamente?
Sim. O Castas Portuguesas da Miolo.
Seu vinho preferido?
Quinta do Ribeirinho Baga Pé Franco.
Luis Pato interfere no vinho?
Sinceramente, prefiro intervir na vinha. Um vinho se "concentra" na videira.
Luis Pato por Luis Pato?
Luis Pato é o resultado de 24 safras e poderia dizer que atingiu a maioridade.