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Entrevista com Miguel Torres Jr.
Caros enoamigos,

Miguel Torres Maczassek é formado em Ciências Empresariais e sabe que não basta elaborar um bom vinho, também é necessário saber vendê-lo. Hoje é diretor de marketing da empresa familiar que seu pai dirige.

O nosso entrevistado é esguio, de fala e postura elegante, jovial e tem uma semelhança com o perfil do aspirante ao trono espanhol: Felipe Juan Pablo Alfonso de Todos los Santos de Borbón y de Grecia.

Mas nesta entrevista, a conversa é com o herdeiro de outra dinastia, a da vinícola Miguel Torres, onde o representante da quinta geração responde a nossas perguntas com segurança e visão de futuro.

Com vocês, Miguel Torres Jr.

Mike Taylor
Mike Taylor Miguel Torres Jr.
Por que tantas uvas francesas na Miguel Torres? Não escolhemos as nossas uvas pelo fato de serem nativas ou estrangeiras. Trabalhamos com cepas que darão os vinhos de qualidade que pensamos, que queremos.
Retomando o assunto das uvas estrangeiras... as fronteiras européias são muito pequenas... Sim, as fronteiras são permeáveis, compartilhamos uvas e informações. Não vejo nada de errado em elaborarmos um bom Cabernet Sauvignon na Espanha ou que alguém tente um bom Tempranillo na França.
Por que Miguel Torres escolheu o Chile e não outros países do Novo Mundo para investir? Quando chegamos em 1979, gostamos do clima, da amplitude térmica, do solo chileno e pensamos que poderíamos elaborar bons vinhos, aromáticos, expressivos. Mas hoje estamos presentes na Califórnia também.
Por que Chile e não África do Sul? O Chile fala espanhol, temos filosofia de trabalho parecidas.
O Inca Garcilazo era um homem de dois mundos, vocês também são de dois mundos? Como vê o Novo Mundo e o Velho Mundo? O Novo Mundo oferece liberdade para elaborar vinhos do jeito que o produtor quer e o consumidor decide se gosta, se compra, se bebe ou não. O Velho Mundo ainda tem algumas coisas a resolver, como a falta de liberdade do produtor, e conseguir que os vinhos sejam competitivos. Bons vinhos são elaborados em ambas as partes, mas é o consumidor que deve escolher os vinhos de qualidade, sejam do Novo ou do Velho Mundo.
Você considera que as D.O.C. podem matar a liberdade de um produtor? Sim, muitas vezes, sim. Para nós, a garantia de qualidade de um vinho não está em pertencer ou não a uma D.O.C. A garantia é dada pelo conhecimento e boas práticas de viticultura e enología de um produtor e de sua equipe.
Então o produtor é mais importante que o terroir? Não! Um produtor sabe que para elaborar um vinho de alta gama precisa de um terroir de alta qualidade, mas o produtor e a regularidade da qualidade dos seus vinhos serão muito importantes. Ou seja, a marca também tem seu valor.
Por que a Miguel Torres demorou em chegar a Rioja? Demoramos um pouco pois não gostávamos de vinhos onde a madeira fala mais alto do que a fruta. Queremos vinhos com mais expressão de fruta.
Não seria uma contradição não gostar de um Gran Reserva de Rioja, quando no seu vinho Mas Borràs percebe-se muita madeira nova? Vocês usam barricas francesas da Odyse? São conceitos diferentes. (risos). Nosso vinho Mas Borràs tem madeira nova para complementar a fruta. Não queremos usar madeiras velhas que não aportem qualidade ao vinho. Se um vinho estagia em barricas de carvalho, estas devem ser de qualidade.

Usamos barricas de doze tonelerias diferentes, entre elas, as da Odyse.
Tradição ou tecnologia? Pensamos que ambas complementam-se, mas se um dia eu tiver que escolher entre as duas, eu escolheria a tecnologia, pois é com a tecnologia que o vinho avançou, senão estaríamos fazendo vinhos como na época dos romanos...
Você acha que seu pai pensaria igual? Acho que sim, já temos falado sobre este assunto. (risos).
Outros projetos na Espanha? Sim, estamos na fase experimental nas D.O.C. Toro e Jumilla.
Qual foi o prêmio mais importante recebido pela Miguel Torres? Falamos sobre este assunto em família e consideramos que todos os prêmios e boas notas são importantes, mas ficamos felizes quando um cliente nos comenta do prazer que teve com um dos nossos vinhos. Gostamos de ouvir o consumidor.
O que falta a Espanha para ter mais rótulos e vinhos mais populares no mundo inteiro? A Espanha deve romper com a burocracia e o passado e assim permitir que um produtor e vinicolas tomem decisões livremente e que não seja um burocrata quem mande.
A Espanha está dançando conforme a música de Robert Parker? E provável que muitas vinícolas acompanhem o gosto e critérios de Robert Parker, mas ele não é uma garantia a longo prazo para um produtor. Um vinho deve ter identidade e boa qualidade sempre. Uma vinícola deve decidir que vinho quer e não seguir a moda, caprichos ou tendências dos críticos ou jornalistas.