|
A notícia sobre o vexame da Wine Spectator correu o mundo dos vinhos com uma rapidez impressionante. E, é claro, a revista não poderia ignorar o clamor. Ontem, em seu forum de discussões, o editor-chefe, Thomas Matthews, publicou a nota oficial da Wine Spectator sobre o assunto, naquilo que me pareceu uma emenda bem pior do que o soneto.
A revista, em lugar de reconhecer seus erros e listar providências para recuperar a credibilidade do prêmio, partiu para o ataque contra o criador da pegadinha, Robin Goldstein, acusando-o de estar em busca de publicidade, como se isso fosse um crime que pudesse justificar a falta de critérios na distribuição dos Awards of Excellence.
Robin é chamado de um inescrupuloso que deseja desqualificar o trabalho duro de milhares de restaurantes reais que receberam o prêmio. Como é que é? Sob meu ponto de vista, o armadilha de Robin tenta desqualificar a ligeireza dos métodos utilizados para a concessão dos galardões e não os restaurantes em si.
Numa desesperada tentativa de se defender, a revista informa que o inexistente restaurante L'Intrepido recebeu apenas o mais básico dos 3 níveis de prêmios que eles distribuem, desmoralizando, dessa forma, seu próprio prêmio. Com essa, tomamos conhecimento de que, a partir de agora, para termos certeza da qualidade da carta de vinhos do restaurante, deveremos buscar apenas aqueles premiados com o Best of Award of Excellence ou o ainda mais importante Grand Award. As churrascarias paulistas e o Laguiole devem estar se mordendo de raiva com os 250 dólares jogados fora!
Em outra confissão de papel passado, o editor revela que a revista "nunca proclamou visitar cada um dos restaurantes premiados", assumindo a falta de seriedade, e que no caso do L'Intrepido, fez as seguintes pesquisas:
telefonou diversas vezes para o restaurante, tendo sempre sido atendida por uma secretária eletrônica que informava que o restaurante estava fechado no momento (Não era para desconfiar?)pesquisou no Google e encontrou o endereço do restaurante e sua localização no mapa de Milãoentrou no endereço web do restaurante, que exibia apenas o cardápioencontrou no site Chowhound diversos comentários de frequëntadores do restaurante
A única coisa que se pode depreender disso é que o Robin Goldstein fez um trabalho caprichado, bem diferente do trabalho da revista.
Em outro ponto de defesa, o editor informa que somente dois terços dos restaurantes que se candidatam recebem o prêmio. Isso, em si, já serviria para revelar a desimportância do mesmo, mas o jornal Los Angeles Times, em sua edição de hoje, revela que dos 4.500 restaurantes inscritos, apenas 319 não foram premiados! É mole? Quem será que está com a razão? (aqui, vale a pena fazer uma continha: 4500 restaurantes x 250 dólares = 1.125.000 dólares!!! Não é uma receita de se jogar fora!)
Bem, é claro que o autor da armadilha não é nenhum santo e a Wine Spectator revela que a carta de 15 vinhos por ele disseminada é apenas parte da lista completa, que incluía 256 vinhos no total. Desse total, a revista informa que 139 não haviam sido avaliados, 53 ganharam mais de 90 pontos, 102 ganharam mais de 80 pontos e 15 ficaram abaixo dos 80:
"Only 15 wines scored below 80 points. 53 wines earned ratings of 90 points or higher (outstanding on Wine Spectator’s 100-point scale) and a total of 102 earned ratings of 80 points (good) or better. (139 wines were not rated.)"
Ôpa, algo há, esses números não batem! 15+53+102+139=309 vinhos. Mas não eram 256 vinhos no total? Examinando com mais cuidado a informação oferecida, verifica-se o porquê: talvez na tentativa de inflar a quantidade de vinhos bem avaliados, a revista inclui os 53 vinhos com mais de 90 dentro dos 102 vinhos acima de 80. Tecnicamente correto, mas com fortes aromas de má-fé.
De qualquer forma, essa avaliação tem toda a pinta de ter sido postumamente elaborada, pois dos 117 vinhos avaliados, 13% eram de qualidade inaceitável, conforme os padrões da revista e exatamente aqueles que se imagina que seriam os mais consumidos em uma trattoria italiana! Será que se eles tivessem feito essa análise antes, o prêmio teria sido concedido?
Finalizando, eu acho que a Wine Spectator poderia ter feito melhor do que fez. Sua argumentação e o ódio destilado contra o autor da denúncia oferecem mais dúvidas do que explicações. Quem quiser ler (em inglês) a íntegra da nota da revista, é só clicar aqui. |
|
|