 A desconstrução de um vinho
A figura ao lado, para quem não entendeu, são duas garrafas de vinhos alsacianos, posicionadas uma ao lado da outra em sentidos opostos, para demonstrar um dos muitos ensinamentos que o diretor da SBAV-Rio, Paulo Nicolay, nos transmitiu em seu verdadeiro curso intensivo sobre a região: o formato das garrafas alsacianas foi desenvolvido de maneira a permitir um perfeito encaixe e protegê-las de quebra durante o transporte.
Paulo, também consultor enogastronômico, alugou uma casa por lá e passou uma semana aprendendo tudo sobre os vinhos brancos daquela região francesa - ou seria alemã? Ninguém sabe, nem os moradores de lá...
Conforme suas palavras, foi uma viagem para os sentidos. Nada de Chardonnay ou Sauvignon Blanc, mas apenas as castas locais. E isso o inspirou a montar uma degustação com um roteiro inédito: a desconstrução de um vinho! Calma, eu já vou explicar...
A degustação teve início com a apresentação do vinho Gentil Hugel 2006, antiga tradição alsaciana que consiste na elaboração de um corte das 5 grandes uvas da região. Paulo, ao descrever os aromas e sabores do Gentil, apontava a casta que contribuía para cada uma das características apresentadas por esse vinho. Com uma bela cor dourada, oferecia aromas de frutas cítricas, lichia, maçãs verdes, flores e minerais com uma boca bem seca, refrescante e intensa. E a partir desse mote, a degustação passou a apresentar os varietais dessas uvas, para que pudéssemos identificar, passo-a-passo, cada uma das componentes do corte do vinho inicial. Show de bola!
A desconstrução começou com o Sylvaner Hugel 2005, uma uva que aporta a refrescância para o corte do Gentil. De um amarelo-palha bem claro, com aromas de lima e jasmim, e uma boca com bela acidez e muita fruta. Seco, refrescante e fácil de beber, é uma bela companhia para frutos do mar e ostras.
O segundo passo foi a degustação do André Kientzler Gewurztraminer 2006, uma uva mais aromática que aporta o caráter floral e de especiarias ao corte do gentil. Apresentava aromas de rosas, lichia, mel, com uma cor amarela com reflexos dourados. Não é um vinho que me agradou, devido a sua doçura, que o Paulo garantiu que não passava de 5g/l de açúcar. Para meu paladar era muito mais... Não é o meu vinho favorito.
A próxima etapa foi um pirata na degustação: o alemão Clemens Busch Riesling Kabinett Trocken 2006, um vinho de cor amarelo-dourada, com muitas flores e minerais no nariz, seco, persistente e untuoso.
Voltando à desconstrução, foi servido o Rosacker Riesling Grand Cru 2005, casta que aporta a elegância ao corte do Gentil. Um vinho que chega a assustar os narizes não acostumados com seus potentes aromas de querosene e resina. A evolução, no entanto, foi maravilhosa desenvolvendo deliciosos aromas florais. Paulo recomendou a harmonização com um queijo chèvre.
E finalizando, o Domaine Sylvie Spielmann Pinot Gris 2004, elaborado com a casta que empresta o corpo ao Gentil. Com uma cor dourada, apresenta aromas de mel, manga madura, damasco e flores. Na boca, o açucar residual é bem marcante, mas equilibrado por boa acidez.
Para que o processo ficasse completo, só ficou faltando um vinho com a casta Muscat, a última componente do Gentil. Paulo fica nos devendo essa para coroar sua criativa degustação.
Oscar Daudt |