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Mais alto o coqueiro, maior é o tombo
Eu fui conhecer a Enosfera, nova loja e bar de vinhos do Rio de Janeiro, cheio de expectativas. Afinal, eu sabia que o novo ponto de vinhos no Leblon pertencia aos mesmos sócios italianos do excelente Osteria del'Angolo, um de meus restaurantes favoritos e já premiado como o melhor antepasto carioca! As fotos da fachada (como acima) prometiam um ambiente requintado, moderno e muito bonito! O sommelier anunciava uma loja focada em vinhos italianos e argentinos, o que me deixou com água na boca, macaco de auditório que sou dos vinhos da bota. Eu estava esperando o céu e, embora não tenha exatamente embarcado para o inferno, as decepções foram muitas!
Como loja, o catálogo de vinhos é frustrante: a variedade é muito pequena! Para quem almeja ser especializado em vinhos italianos e se define, em italiano, como um Un Mondo di Vino, descobrir apenas seis rótulos da Itália na carta mata qualquer um! E um dos seis, para piorar as coisas, estava com um asterisco ao lado, que eu assumi que queria significar "não disponível". Só cinco! É muito pouca opção!
Na verdade, analisando a carta de vinhos, o que se conclui é que a Enosfera é especializada em vinhos argentinos e brasileiros, de longe, a maior variedade disponível. O que, sob meu ponto de vista de gaúcho, é encorajador. Decidi iniciar com um espumante dos pampas, cujas opções eram animadoras. Frustração #1: apesar de a carta oferecer várias alternativas, havia apenas um espumante nacional disponível no momento, o Valduga Alto Vale. Falha verdadeiramente imperdoável para um bar de vinhos!
Muito embora o bar tenha sido projetado com 2 andares, até hoje, passados 2 meses da inauguração, o segundo andar continua fechado ao público. E o andar de baixo oferece apenas 3 mesas: uma pequena, uma média e uma grande. As mesas média e grande são consideradas comunitárias, o que me parece algo que não dá certo em terras tupiniquins: enquanto estive lá, pude presenciar dois grupos de pessoas que preferiram ir embora a dividir a mesa com estranhos.
O bar pretende ser uma taperia, o que, pelo que eu conheço das tradições espanholas e da Adega Pérola, da Siqueira Campos, significa alta variedade de petiscos. Não é o caso da Enosfera. São apenas 13 ou 14 opções. Experimentamos o salmão marinado, o camarão ao vapor com molho rosé e o presunto San Danielle. Muito bons! Mas cuidado, existe uma vitrine com as principais tapas em exposição. Meu conselho é que você não vá conferir. Os pratos exibidos são velhos, secos, queimados, assustadores! Felizmente, o que chega à mesa, é bem mais fresco...
Quanto à decoração, embora assinada pelo renomado arquiteto Pedro Paranaguá, é quase franciscana! Não há um só quadro ou enfeite nas paredes, brancas e lisas. Não existe um tapete, uma cortina, uma toalha de mesa para abafar o som, tornando o zum-zum-zum bastante desagradável. E se somarmos a iluminação similar à de uma Drogaria Pacheco, vai-se toda e qualquer possibilidade de se definir o ambiente como aconchegante!
E finalmente, os preços. Na prateleira, eles são excelentes, competitivos. Para consumir no bar, no entanto, há um acréscimo de 30%, o que torna as coisas um pouco mais salgadas. Prepare o bolso! E um detalhe um tanto desagradável: o cardápio oferecido apresenta os preços de prateleira. Embora não seja enganação, pois múltiplos avisos estão distribuídos pelas mesas, compete ao cliente fazer as contas para saber quanto, ao final, irá pagar pela garrafa escolhida!
Mas apesar de tantas críticas, eu ainda sugiro a vocês uma visita à Enosfera. O lugar tem tudo para dar certo, mas claro que depois de algumas reformas estruturais e de uma guaribada na gerência. Quanto mais lojas e bares no Rio, melhor para nós, enófilos. Portanto, eu fico torcendo para que esse novo estabelecimento tenha uma longa vida de sucesso pela frente! Afinal, eu não quero que, conforme reza a canção, essa festa termine com a terra por cima e na horizontal!
Oscar Daudt
Serviço: Enosfera - Rua General San Martin, 1241 - Leblon - (21)2512-2244 - de 2ª à sábado, das 10h às 21h |
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