Meu primeiro evento alemão

Acredito que quase todos os leitores do EnoEventos sabem que eu sou gaúcho, de tanto que eu falo nisso. Mas o que pouca gente deve saber é que eu tenho ascendência germânica. Meu apelido de infância era Alemão e vários parentes e amigos do tempo de escola ainda me chamam assim. E eu prezo muito essa origem.

Só prá me fustigar, no entanto, de todos os incontáveis eventos de vinho a que já fui em minha vida, absolutamente nenhum era de vinhos alemães. E olha que minha segunda pátria é um dos países mais importantes no cenário vinícola mundial. Portanto, quando fui convidado para uma degustação de vinhos daquele organizado país, vocês podem imaginar minha alegria. E, prá me entusiasmar mais ainda, o local era a belíssima Sociedade Germânia, na Gávea. Denise Cavalcante, a organizadora do evento, mais tarde me contou que eu fui o primeiríssimo convidado a confirmar presença. Bota ansiedade nisso!

Aqui cabe um qualificativo: o evento não era de vinhos alemães em geral, mas apenas do estado de Baden-Württemberg, região ao sul da Alemanha, pouquíssimo conhecida nos trópicos. E pouco conhecida pelo mundo também, pois sua produção sempre foi para consumo interno e apenas recentemente está buscando uma participação no mercado internacional. Mais especificamente, os vinhos eram da Dyade 52, que eu não entendi perfeitamente o que seria, devido às barreiras linguísticas. O alemão é tão complicado para quem tem o português como língua materna, que até a tradução simultânea não era de todo compreensível. Pareceu-me que Dyade 52 seria uma marca do Consórcio de Exportadores de Vinho de Baden-Württemberg para exportar os vinhos aos mercados mundiais, mas não boto minha mão no fogo por isso, não.

Bem, iniciamos com um coquetel em que foi servido o Dyade 52 Premium Range Trollinger 2007 (a Trollinger é a mesma Schiava italiana), que só no dia seguinte eu descobri ser tinto. Bebi pensando ser um rosé, tal a suavidade da cor. Com uma doçura bem pronunciada, não foi um vinho que tenha me agradado, apesar de toda a benevolência de meu olhar prussiano.

Já à mesa de jantar, a coisa mudou de figura com a chegada do delicioso Dyade 52 Connoisseur's Choice Riesling 2008, com aromas frutados e minerais e boa intensidade.

Infelizmente, a sequência foi o Dyade 52 Winemaker's Edition Pinot Noir 2007, um vinho que não fazia jus à elegância e complexidade dessa casta. Mas, como estávamos naquele sobe-e-desce de qualidade, a alegria voltou com o surpreendente Dyade 52 Connoisseur's Choice Lemberger 2007, com complexos aromas frutados, de especiarias e com excelente estrutura tânica. Foi meu vinho preferido da noite!

E acompanhando a sobremesa, o Dyade 52 Premium Range Samtrot 2007, uma casta típica de Württemberg que apresentava um vinho viscoso, porém não doce. Uma pesquisa em meus livros e no Google não me trouxe nenhuma informação sobre essa casta. Para mim, uma ilustre desconhecida.

Apesar de alguns dos vinhos não terem me entusiasmado muito, saí de lá feliz da vida, cantando "Deutschland über alles" e esperando que mais e mais eventos da terras de meus antepassados venham a se repetir por aqui.

Oscar Daudt
Os vinhos
Dyade 52 Premium Range Trollinger 2007 Dyade 52 Connoisseur's Choice Riesling 2008
Dyade 52 Winemaker's Edition Pinot Noir 2007 Dyade 52 Premium Range Samtrot 2007 Dyade 52 Connoisseur's Choice Lemberger 2007
O jantar harmonizado
Os alemães
Hermann Erath, cônsul-geral da Alemanha Michael Dilewski, diretor da Dyade 52 Werner Bender, da Dyade 52
Richard Drautz, Secretario de Economia de Baden-Württemberg   Euclides Penedo Borges, presidente da ABS-Rio, não é alemão, é claro, mas foi incluído nessa categoria em homenagem à sua saudação em perfeito alemão de Munique
Os convidados
Maria Helena Tahuata e Maria Ângela Auler Ricardo e Lucilia Farias Anna Bosso, da Importadora Vinci, e o professor Celio Alzer, da ABS
Margarete e Adolfo Lima, da Importadora Garrafeira Real Maria Carolina Azevedo e Suzi Niv, do restaurante I Piatti Denise Cavalcante, organizadora do evento, e Michael Dilewski
Elizabeth Cascão Fátima e João Fontes Fernando de Oliveira e Affonso Nunes
A sommelier Doris, João Manso (Vini Rio) e Fátima Marcos Coelho Os sommeliers Clara Mey e Marcos Lima
Anna Bosso e Tatiana Constant O salão do jantar
Comentários
Romaine Carelli
Chef
Niterói
RJ
12/05/2009 Tive a oportunidade de provar os referidos vinhos na Expovinis. Realmente muito bons.
Erika Moraes
Rio de Janeiro
RJ
12/05/2009 Não tenho como dar minha opinião em relação aos vinhos, pois não os conheço.

Mas este evento me fez lembrar de minha primeira ida a uma vinícola: http://www.oberkircher-winzer.de/de/index.html (acho que não tem tradução para o Inglês hehe), que inclusive fica em Baden Württemberg (Floresta Negra), numa micro cidade charmosa chamada Oberkirch.

Se você tiver oportunidade, vale a pena ir lá.

Abraços
Rafael Mauaccad
São Paulo
SP
12/05/2009 Caro Oscar,

Tive a oportunidade de visitar o stand da Dyade52 nesta Expovinis. Você entendeu certo a traducão simultânea, consta no catálogo que Dyade52 é a marca dos vinhos produzidos pela cooperativa ou consórcio de vitivinicultores destas 2 regiões. O que me chamou muito a atencão é que estes vinhos não obedecem a classificacão vinícola alemã, que deveria estar estampada nos rótulos quanto a qualidade, amadurecimento das uvas, o teor alcoólico, o número AP (teste oficial padrão na Alemanha), se produzidos de 1 vinhedo ou conjuntos de vinhedos e outros detalhes que os especialistas identificam. Quando perguntei ao atendente este motivo, ele me justificou como política de marketing para facilitar a identificacão!

Os vinhos são de baixa qualidade para os padrões alemães e na minha avaliacão na escala da WS seriam: 50 a 74 pts - Not recommended e 75-79 pts - Mediocre. Tentaria enquadrá-los na penúltima e antepenúltima classificacões alemãs:

  • Landwein, equivalente ao vin de pays frances, procedente de 1 das 17 áreas designadas
  • Qualitatswein bestimmter Anbaugebiet(QbA), segundo nível na classificacão para vinhos de qualidade feitos em uma região designada, onde a chaptalizacão é permitida.

    Oscar, nem tudo que reluz é ouro, se a você os vinhos não entusiasmaram, a mim trouxeram decepcão e desapontamento. Estes negociantes alemães subestimaram o nível de informacão e exigência de qualidade do consumidor brasileiro e tentarão repetir o marketing da garrafa azul.

    Grande abraco,
    Rafael
  • Rubens Bechara Junior
    Loja de Vinhos - Enótria
    Vitória
    ES
    13/05/2009 Prezado Oscar,

    Parabéns pela maneira fácil e interessante em comunicar sua experiência. Já anotei suas dicas quanto aos vinhos.

    Um grande abraço,
    Rubens
    Tatiana Correa
    Rio de Janeiro
    RJ
    13/05/2009 Warum bin ich nicht eingeladt? Ich bin so traurig!!!

    Das Wort Dyade kommt aus dem Griechischen und bedeutet frei übersetzt Zweisamkeit Gemeinsamkeit.

    Querida prima,

    Pelo menos uma pessoa na família fala alemão. Muito bom!

    Beijo,
    Oscar
    Maria Carolina Azevedo
    Enófila
    Rio de Janeiro
    RJ
    13/05/2009 Adorei as fotos

    bjs
    Denise Cavalcante
    Assessora de Imprensa
    São Paulo
    SP
    15/05/2009 Que bom, os vinhos deram ao que falar. E saber que foi o primeiro de vinhos alemães ao qual nosso precaro "jornalista" Oscar foi convidado, muito me honrou!!

    As suas fotos me ajudaram muito, pois tinham pessoas aqui que não estavam na lista de presença que mandei para eles e agora pude completar...

    Mais uma vez, Oscar, obrigado pelo seu trabalho.

    Abraço
    Frank Norman Hirt
    Stuttgart Imp. Dist. Ltda
    Blumenau
    SC
    17/08/2009 Caro Oscar,

    Os vinhos alemães Dyade 52 realmente estão sendo bastante comentados e eu gostaria de poder contribuir com alguns esclarecimentos a cerca da classificação de qualidade destes vinhos.

    Todos os vinhos Dyade 52 possuem número AP, que é um número oficial que precisa constar em todos os vinhos alemães de qualidade. Os vinhos que foram apresentados na feira Expovinis tinham sido engarrafados exclusivamente para a feira, ou seja, eram amostras sem fins comerciais e em virtude disso o contra-rótulo não exibia a informação do número AP. Os vinhos Dyade 52 importados pela Stuttgart e distribuidos no Brasil têm o número AP.

    Na Alemanha existem 4 classificações de vinhos:

    1. Deutscher Tafelwein (Vinhos de Mesa)
    2. Deutscher Landwein (Vinhos regionais)
    3. QbA (Qualitätswein bestimmter Anbaugebiete, ou seja, Vinhos de Qualidade e Origem determinada)
    4. QmP (Qualitätswein mit Prädikat, ou seja, vinhos de qualidade com características específicas)

    Os vinhos Dyade 52 poderiam ser classificados como QmP, não fosse pelo fato da marca Dyade52 ser elaborada a partir de uvas de diferentes vinhedos das regiões Baden e Württemberg. Um dos requisitos do QmP é que as uvas sejam provenientes de um vinhedo específico, portanto, como os vinhos da marca Dyade 52 são provenientes de inúmeros vinhedos, a marca leva apenas QbA. Lembrando que os vinhos Dyade 52 representam a união de centenas de vinicultores, reunidos sob a forma de inúmeras cooperativas de vinicultores que se dedicam a produzir uvas de elevada qualidade.

    Os vinhos Dyade 52 tem densidades de mosto de 75 até 95 graus Oechsle. Para um vinho ser Kabinett (primeiro tipo de QmP), o mínimo exigido é 70. Ou seja, não resta dúvida de que estamos falando de vinhos de qualidade superior.

    Abraços
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]