 Vinhos atávicos
A relação entre Portugal e Brasil é umbilical e, principalmente no Rio de Janeiro, onde a colônia portuguesa e seus descendentes é numerosa, os vinhos lusitanos, muito antes de essa bebida entrar na moda, eram fartamente consumidos por aqui. Atualmente, em termos de vinhos do Douro, o Brasil está muito bem na foto, pois ocupa o 3° lugar, dentre todos os países do mundo, na importação desses rótulos (em volume). Para os vinhos do Porto, no entanto, nossa classificação é bem mais discreta, mas ainda assim nos instalamos num honroso 11° lugar.
Tem razão, portanto, o IVDP - Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto em promover um grande evento anual para a divulgação dos grandes rótulos dessas duas denominações, para tentar manter e incrementar esses números. E este ano, mostrando a importância cada vez maior de nosso mercado, são 4 as cidades contempladas com essas degustações: Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Curitiba.
Aqui no Rio, a festa aconteceu em dois dias, com vários acontecimentos: foram duas degustações dirigidas, uma degustação nos salões do Hotel Pestana e um grande jantar para convidados no Terzetto Ristorante.
As duas degustações dirigidas foram comandadas pelo jornalista e escritor Marcelo Copello, uma espécie de embaixador honorário dos vinhos dessa região, desde o lançamento de seu livro sobre o Minho, o Douro e o Porto. Evento de vinho português sem a presença do Marcelo, não conta...
A primeira degustação, Os Tops do Douro, apresentou 10 dos mais prestigiados rótulos dessa denominação. Para desespero dos fígados presentes, não havia baldinhos e tudo que se degustava ia diretamente para a corrente sanguínea. Como eram 10 amostras, ao final, vocês já podem imaginar o desacerto. Mas os presentes ainda mantiveram o bom senso intacto para escolher, como o melhor de todos, o Xisto 2005, fruto de um empreendimento conjunto da Quinta do Crasto com o bordalês Chateau Lynch-Bages, que Marcelo apelidou de um Bordouro. O segundo lugar nas preferências populares ficou com Vinha de Lordelo 2005, de Domingos Alves de Souza.
Teve muita gente, eu inclusive, que seguiu participando da segunda degustação, a Harmonização de Vinhos do Porto com Chocolates. Fomos brindados com uma verdadeira aula sobre chocolates finos, ministrada por Sérgio Venuto, da Fine Cocoa Association, que nos explicou que o chocolate libera serotonina, uma substância que traz euforia e que combinada aos altos teores alcoólicos dos vinhos de sobremesa, levou a platéia ao delírio. Os que conseguiam escutar o Marcelo receberam sugestões de degustar cada um dos vinhos com determinado tipo de chocolate, dentre as 10 diferentes barrinhas que cada participante recebeu. Dessa vez não teve escolha do melhor vinho, pois a turma que estava estirada no chão não conseguia chegar a um acordo com aqueles que estavam dançando em cima das mesas.
Da feira de vinhos eu quase não pude participar, pois ela correu paralela a essas duas degustações dirigidas, mas pude encontrar alguns amigos nos poucos minutos que passei por lá.
No dia seguinte, após os providenciais transplantes de fígado, o IVDP ainda convidou um grande número de enófilos e jornalistas para um jantar no Terzetto. O restaurante estava botando gente pelos exaustores! Além de todas as mesas do IVDP, ainda havia um grande grupo do curso de gastronomia da Estácio, capitaneado por Jô Sodré, e outra grande mesas da Importadora KMM, homenageando o novo produtor chileno de sua carteira. O serviço foi à loucura! Duda Zagari, da Confraria Carioca, bem definiu o evento como um jantar às cegas, pois não se sabia quais os vinhos que eram servidos. Mas isso serviu para mostrar que o gaúcho João Souza, comandante do Terzetto, está com tudo não está prosa. Pensou vinho, pensou Terzetto...
Oscar Daudt |