 O vinho da nobreza
O jantar oferecido pela Importadora Mistral para apresentar os vinhos do Grupo Pesquera foi especial! Realizado no reinaugurado restaurante Quadrifoglio, na JJ Seabra, bem ao lado da vocês-sabem-muito-bem-o-quê, contou com a presença de Olga Fernández Rivera, uma das proprietárias do Grupo, e de Jesus Pascoal, enólogo de campo. O Grupo, essencialmente familiar, possui duas vinícolas em Ribera del Duero (Pesquera e Condado de Haza), uma em Castilla y León (Dehesa La Granja) e uma em La Mancha (El Vínculo) e é comandado pelo grande Alejandro Fernández, o patriarca da família.
Por uma dessas coincidências da vida, quando Olga nos contava com muito orgulho que o El Vínculo Paraje La Golosa Gran Reserva 2002 havia sido o primeiro vinho de La Mancha a ser oferecido pelo Rei Juan Carlos I da Espanha em um banquete oficial, eis que chega a nossa mesa o Príncipe Dom Eudes de Orléans e Bragança, da familia real brasileira, para cumprimentar a produtora, classificando seu vinho como excepcional e deixando emocionada a homenageada.
O príncipe tinha razão, o vinho era excepcional, mas eu e meu sangue vermelho gostamos mais foi do Alenza Gran Reserva 2001, 100% Tempranillo, 23 meses de estágio em carvalho americano novo, com envolventes aromas de baunilha, café, florais e de cereja, e uma boca densa, suculenta e de interminável presença com seus toques especiados. O grande diferencial desse vinho é ser prensado sem desengace. Pensei eu: "Lá vêm os taninos!" Mas qual o quê! O vinho era macio feito um travesseiro de penas. Realmente magnífico e inesquecível! Mas atenção, muito embora o vinho tenha agradado a meu paladar plebeu, o precinho está muito mais adequado às grandes casas da realeza européia: assustadores US$187,50. Mas se eu pudesse, eu pagaria...
Vale aqui esclarecer que absolutamente todos os vinhos do Grupo Pesquera, das quatro vinícolas, são elaborados sempre com a casta Tempranillo. Mas os 5 rótulos que desfilaram em nossas taças nessa noite tinham cada um sua própria personalidade e mostravam os grandes resultados que essa casta pode oferecer quando trabalhada com dedicação em busca da melhor qualidade.
O Dehesa La Granja Selección 2000, com aromas balsâmicos, de framboesa e de madeira, apesar de sua longa idade mostrava uma cor sem nenhum traço de evolução e uma boca com longa persistência e muita estrutura, indicando seu invejável potencial de guarda.
E o outro grande rótulo que Olga nos ofereceu foi o Pesquera Tinto Millenium 2002, elaborado apenas em grandes safras, com aromas de goiaba e rosas e uma estrutura tânica que lhe promete uma longa, longa vida.
Ao contrário do que costumo fazer, hoje estou descrevendo o evento sem respeitar a sequência cronológica das taças e falo agora, por último, do primeiro vinho que nos foi servido: o Condado de Haza Crianza 2005, que não fazia parte da degustação dos grandes rótulos a que o jantar seria dedicado. Como definiu o Reinaldo Paes Barreto, seria um "amuse bouche". Agora, só para vocês terem uma idéia da qualidade dos vinhos da noite, o tal do descompromissado "amuse bouche" consta da lista da Wine Spectator Top 100, de 2008, classificado em 37° lugar (o espanhol melhor colocado), com 93 pontos! É mole? E para alegria dos bolsos não coroados, custa bem mais modestos US$59,90.
Oscar Daudt |