 Degustação vertical, horizontal... e inclinada
Quando recebi o convite da Importadora Paralelo 35 para uma degustação de Vinhos do Porto da Quinta do Portal, imaginei: "Devem ser umas 5 ou 6 garrafas, portanto tiro de letra: vou beber pouquinho e posso ir de carro. Nenhum bafômetro vai me dedurar." Ledo engano! Só de Vinhos do Porto eram 19 rótulos! E ainda tinha um branco, dois tintos e dois moscatéis. Não era para qualquer fígado!
Assustado com tantas opções, pensei que tal diversidade seria apenas para demonstração e que a Importadora iria trabalhar com somente uma parcela das garrafas. Que nada! Marco Melo, um dos sócios da Paralelo, me disse que eles vão trabalhar a linha inteira. E mais, vão distribuir às lojas e restaurantes uma carta, completíssima, que vai além de apenas descrever os vinhos. Descreve os diversos tipos de Vinho do Porto, seu processo de vinificação, as harmonizações recomendadas, tempo de conservação após abertura e assim vai... E ainda vão oferecer treinamento aos vendedores e sommeliers para que esses saibam oferecer o tipo certo ao cliente. Em suma, um trabalho de utilidade pública!
A degustação, comandada por Pedro Branco, um dos proprietários da Quinta do Portal, iniciou com os dois Moscatéis, tendo o segundo deles, o Portal Moscatel do Douro Reserva 1996, com aromas de nozes e marzipan, bela acidez e muita fruta, encantado o professor Fernando Miranda, nosso colunista, que não se cansava de elogiá-lo.
Após os moscatéis, a sequência de Portos era interminável e eu terminei muito antes dela, não obstante o fato de que eu não estava, prudentemente, engolindo os vinhos. Mas sabem como é, às vezes os sedutores aromas de frutas secas, figos, açúcar mascavo e a cremosidade que envolvia a boca faziam a língua esquecer o que a razão determinava e se entregava às delícias de encaminhá-los para o sentido oposto. A carne é fraca...
Um dos Portos que eu mais gostei parecia uma homenagem a mim. Seu nome: Porto Alegre. Era um dos mais básicos da linha, mas o nome era tudo para mim e eu desfrutei de seus aromas de goiaba e ameixa preta com a nostalgia de minha querida cidade natal.
Mas como não poderia deixar de ser, os vinhos que mais me encantaram foram os Tawny envelhecidos, e que quanto mais velhos, mais deixavam exaltadas minhas papilas. Ingenuamente fui me informar do preço do 40 Years Old Aged e só não caí da cadeira porque não estava sentado. É caro, caríssimo, mas para quem tem bala na agulha, o que infelizmente não é o meu caso, é filé mignon! Vale cada um dos incontáveis reais.
Apesar de todas as precauções, do uso intensivo do baldinho, eu acho que terminei exagerando um pouco. Com tantos rótulos em deliciosas degustações verticais e horizontais, o resultado foi que eu saí de lá meio na diagonal!
Oscar Daudt |