 Um pedaço de Bordeaux nos Andes
Emilio de Solminihac, é proprietário da Viña Santa Monica, localizada no Vale de Rapel. Um dos mais respeitados enólogos do Chile, é carinhosamente conhecido como Don Emilio por seus jovens pares. Primeiro profissional chileno a se formar pela Universidade de Bordeaux, sob a orientação do lendário Emile Peynaud, é reverenciado pelo estilo elegante e longevo de seus vinhos, preservando as tradições ao mesmo tempo em que é apontado como o responsável por inúmeras inovações que impulsionaram o Chile a conquistar o prestígio que hoje desfruta no cenário mundial.
Foi realmente uma noite no capricho a que nos foi oferecida pela Importadora Porto Mediterrâneo, do belo Balneário Camboriú, em Santa Catarina, para conhecer alguns dos vinhos da linha Surazo que está sendo lançada no Rio de Janeiro. Reuniu a experiência de Don Emilio na elaboração de vinhos com a harmonização criada pela capacidade atávica do chef Thomas Troisgros, mostrando que a dinastia dos grandes chefs vai perdurar por pelo menos mais uma geração.
Iniciamos com um belo Tartare de atum com caviar de tapioca acompanhando o Surazo Chardonnay 2006, um vinho com deliciosos aromas frutados em uma boca de muita concentração e boa acidez, que me agradou bastante. Considerando que ele faz parte da linha varietal, a mais básica da Surazo, fico só na expectativa de conhecer os outros 2 vinhos dessa casta, o Chardonnay Reserva 2005 e o Chardonnay Reserva Privada 2002. Pelo jeito, me prometem grandes momentos...
Seguimos com um perfumado Palmito recheado com brandade de bacalhau e azeite de trufas, que detonou o Surazo Reserva 5 Big Reds 2003, um vinho que, dizem, possui aromas de cerejas, cassis, amoras e especiarias. Dizem, pois o pronunciado aroma do azeite de trufas tomou conta do salão e decretou o estado de greve de minhas narinas...
Passamos então a um cremoso Risoto ao brie com parma e rúcula que agora sim, se comportou à altura e fez um bonito papel harmonizando com o complexo Surazo Reserva Privada Merlot 2002, com seus 8 meses em carvalho francês bem integrados a muita elegância, com taninos aveludados e grande intensidade. Belíssimo vinho!
O último prato salgado, o estupendo Canon de cordeiro em crosta de shitake e aspargo segurou no osso o portentoso Surazo Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2002, um vinho com aromas frutados e de chocolate, com grande estrutura, muita suculência e interminável persistência, equilibrado por 18 meses de carvalho francês que temperam discretamente o conjunto. Maravilhoso! Nesse momento, vale chamar a atenção para a safra desse e dos demais vinhos, todos eles bem jovenzinhos, apesar da pronunciada idade. Terão, com certeza, longa vida pela frente!
E, para finalizar, o Crepe de Maracujá ganhou a companhia de um vinho que me deixou maluco: o surpreendente Surazo Late Harvest 2003, um corte de Semillon e Riesling em que os aromas minerais dessa última sobressaiam e deliciavam as narinas e as papilas. Era impossível beber só uma taça!
Agradeço ao convite da novata Porto Mediterraneo, que chega com o pé-direito e nos trouxe de volta o gentil Ivan Barros ao mundo do vinho carioca.
Oscar Daudt |