 Uma noite das Arábias
No mundo vinícola, não existe associação maior do que a casta Tempranillo e a Espanha: pensou Espanha, pensou Tempranillo; pensou Tempranillo, pensou Espanha!
Temprano em espanhol quer dizer cedo e esta uva foi assim batizada, em Rioja, por amadurecer antes das demais castas. Mas o nome não é uma unanimidade, pois na própria Espanha ela também é conhecida como Tinto Fino em Ribera del Duero, como Ull de Llebre no Penedés e como Cencibel em Valdepeñas, afora otros nomecitos más.
Apesar de toda essa conexão histórica entre casta e Espanha, outros (pouquíssimos) países também vinificam a Tempranillo, sendo o principal delas Portugal, onde ela é conhecida como Tinta Roriz no Douro - é uma das castas autorizadas para o Vinho do Porto - e como Aragonês no Alentejo.
A Tempranillo é uma variedade refinada que produz vinhos elegantes, complexos e com elevado potencial de guarda e se caracteriza por um nariz com acentuados aromas de cereja.
Bem, e com essa introdução toda, onde é que entram as Arábias? A lógica é que, como a gastronomia espanhola é fortemente influenciada pelos árabes, a harmonização desses vinhos com petiscos árabes deveria funcionar. Foi essa a aposta da Importadora Vinci ao oferecer uma degustação exclusiva de Tempranillos no Restaurante Arab, na praia de Copacabana. E funcionou até bem demais!
Alguns formadores de opinião, junto com destacados sommeliers, tiveram a oportunidade de degustar 10 rótulos elaborados exclusivamente com essa casta (9 espanhóis e 1 argentino; 9 tintos e 1 rosé). E, furtivamente, sabe-se lá como, ainda apareceu um 11° vinho, que não estava no programa, um corte de Tempranillo com castas internacionais! Como se houvessem poucas alternativas...
Noite soberba e divertida! Aliás, divertida até demais, pois como os leitores poderão conferir nas fotos de um ou outro degustador mais afoito, o clima de liberou-geral campeava pelas mesas!
"O Urban Oak Ribera 2005 é um vinho que muito me agradou e fácil de ser trabalhado, floral e muito macio."
Cícero Mendes Sommelier, Hotel Fasano | Mas voltando à seriedade, uma enquete informal realizada entre os presentes mostrou que o campeão das preferências foi o O. Fournier Spiga 2004, de Ribera del Duero, com 12 meses de barricas novas (80% francesas e 20% americanas), um vinho com aromas de cereja, couro e canela, fresco, potente e elegante.
Eu preferi, dentre todos, o Mauro 2005, também de Ribera del Duero, um vinho que mereceu 93 pontos de Robert Parker e apresentava aromas de café, baunilha e goiabada, com muito corpo e longa persistência. Mas eu posso ter sido influenciado pelo preço: era o vinho mais caro da noite. Gostaria de fazer essa mesma degustação às cegas para ver se minha escolha seria igual.
Essa, aliás, foi a mesma escolha de Yann Lesaffre, do Mr. Lam, que confidenciou que sob a ótica de um restaurante, o Comenge Crianza 2003, outro RdD, era a melhor alternativa da noite, com seu preço bem mais acessível, seus aromas de frutas vermelhas, madeira e couro e sua boca aveludada e com muita fruta.'
Ao final, Lilian me perguntou: Por que meus eventos são tão - digamos assim - descontraídos? Eu fiz de conta que não sabia. Mas, cá entre nós, a combinação de 11 vinhos, comidas exóticas (cujos nomes eram tão eróticos quanto chambusak e borreka), excelente companhia e, à meia-luz, uma dançarina do ventre em trajes sumários, talvez seja a chave do mistério!
Oscar Daudt |