 A melhor criação de Filipa
O clima do almoço era bem intimista. Uma varanda no Jardim Botânico, poucos participantes, boa comida e mamadeiras, chupetas e carrinhos por todo o lado. Claro, a gente estava se sentindo quase como num almoço em família!
Foi uma excelente oportunidade que tivemos de conversar, leve e agradavelmente, com uma das mais destacadas enólogas de Portugal, Filipa Pato, de personalidade marcante e que tem seus vinhos cantados e decantados pela crítica internacional.
A conversa balançava entre vinhos e aquele bebê rechonchudo, lindo, risonho e feliz da vida, o Francisco. Convergindo os dois assuntos, a enóloga revelou que ela e seu famoso pai, Luís Pato I, rei da Bairrada, estão desenvolvendo, a 4 mãos, o vinho Francisco, um Baga de excelente estrutura tânica, destinado a ser guardado por 20 anos, quando então o jovem homenageado poderá degustá-lo, legalmente, em lugar das mamadeiras, jovens e lácteas, que vem preferindo atualmente. Será uma pequena e exclusiva produção, a ser vendida apenas na vinícola, que poucos poderão desfrutar.
Além de Francisco (o bebê, não o vinho), Filipa veio acompanhada de seu marido William Walters, um chef belga que mantém um restaurante em sua terra natal, e voa para Portugal todos os fins de semana. Os dois criaram, recentemente, a empresa Vinhos Doidos (ah, essa juventude!!!), e estão produzindo dois brancos: o Bossa e o Nossa, em homenagem à música que é a mais completa tradução brasileira.
O Bossa, 100% Maria Gomes, é um vinho de festa, destinado a conquistar os jovens e ser consumido em discotecas. O Nossa, corte de Bical e Encruzado, de vinhas com baixíssimo rendimento, é um vinho mais íntimo, para ser bebido a dois. Mas recomendo nem se interessar por eles, pois infelizmente não estão a venda aqui nos trópicos.
Outro assunto do almoço foi o FLP 2008, um vinho que saiu do plano virtual e aportou em nossas taças na hora da sobremesa. Também elaborado em parceria com seu pai, Filipa o define com um vinho molecular, destinado a harmonizar com a criativa e atual cozinha do mesmo nome. "Um vinho de autor para uma cozinha de autor", explica ela. Na verdade, trata-se de um Ice Wine, mas que a enóloga não nos leia, pois ela não gosta muito desse rótulo. É um corte de Cercial, Sercialinho e Bical, que são congeladas artificialmente. O resultado é estupendo! Com 100g/l de açúcar residual, apresenta uma marcante acidez que não deixa, nem de longe, se imaginar tanta doçura. Os aromas são inebriantes, trazendo à lembrança bananas, lichia e jasmim, com um toque mineral pronunciado. Clarinho, clarinho, foi uma bela companhia para a sobremesa. E este vinho - alegrem-se! - já está a venda pela Casa Flora/Porto a Porto. Não percam!
Bem, não estranhem eu ficar quieto sobre os pratos do almoço - delicioso, por sinal - mas combinei com nossa crítica gastronômica, Luciana Plaas, que ela iria nos contar da cozinha do Lorenzo Bistrô. Portanto, aguardem até sexta, para saber como foi...
Oscar Daudt |