 Esse Brasil lindo e trigueiro...
Quem costuma ler minhas reportagens sabe o quanto eu admiro e vibro com os vinhos brasileiros e, portanto, participar de um jantar, elaborado pelo cultuado chef francês Christophe Lidy, com uma releitura dos mais tradicionais pratos da culinária brasileira, e harmonizado com vinhos da Vinícola Salton foi uma oportunidade de lavar a alma. O evento estava lotado, com o público dessa 6ª edição de Uma Noite na Adega batendo o recorde dos 5 eventos anteriores. Quem disse que os enófilos não sabem valorizar nossos vinhos?
Como bem ressaltou o apresentador, nosso colunista Alexandre Lalas, esse jantar não poderia ter acontecido há meros 10 anos atrás. Era impossível, mesmo nesse passado tão recente, contar com uma linha de vinhos de elevada qualidade que atravessasse esse jantar com múltiplos pratos, e oferecesse uma gama de vinhos assim diversa, com belos espumantes, brancos, tintos e doces, todos eles do mesmo produtor. Isso demonstra o incrível salto de qualidade de nossa indústria que até os cegos já estão querendo ver. Segundo Lalas, agora temos é de resolver o problema dos preços altos e da deficiente distribuição.
Para acompanhar o couvert, fomos recepcionados com o espumante de destaque da vinícola, o Salton Évidence, um vinho que evidencia - arghh, que trocadilho safado! - sua qualidade, elaborado com 70% de Chardonnay e 30% de Pinot Noir pelo método tradicional, com aromas de cítricos e de pão, e com uma boca fresca e cremosa. (Preço: R$ 54,00 no G&R)
Eu já havia apelidado o Salton Virtude, novo lançamento da vinícola, de Salton Virtual, já que era mais um dos vinhos brasileiros impossíveis de se encontrar. Mas eis que nessa noite o vinho se materializou para acompanhar a Caldeirada de Frutos do Mar, o melhor prato do jantar, disparado! O Virtude é 100% Chardonnay, com uvas plantadas na região da Campanha Gaúcha, e envelhecido em carvalho novo, 50% francês e 50% americano. Bem, o que resulta dessa vinificação é um vinho maravilhoso, com aromas de frutas brancas, mel, e com madeira discreta e elegante. Na boca, é intenso, equilibrado, com ótima acidez e muita fruta. É de beber com a mão no peito e cantando o hino nacional! Magnífico! (Preço: R$ 61,20 no G&R)
Chef Lidy ofereceu, a seguir, um Ravioli recheado com abóbora e carne seca que fez companhia ao Salton Desejo 2006 um dos ícones da vinícola, elaborado com 100% de Merlot plantadas na Serra Gaúcha e envelhecido 12 meses em carvalho (metade francês e metade americano novo) e mais 12 meses na garrafa. Aromas complexos de flores, ameixa e café, e uma boca com muita malemolência, o vinho movimentava-se no paladar com a velocidade de uma preguiça. (Preço: R$ 79,90 no G&R)
A grande expectativa gastronômica da noite adentrou o salão: uma Feijoada a la G&R. Que diabos seria um feijoada elaborada por um chefão francês? Claro que nada daquilo que a gente conhece. Não dá para descrever, só olhando a foto abaixo. E mesmo assim, lendo a legenda para identificar qual dos pratos se qualificaria como tal! Veio acompanhada do Salton Talento 2005, com 60% de Cabernet Sauvignon, 30% de Merlot e 10% de Tannat, e envelhecido em carvalho francês novo por 12 meses e depois mais 12 em garrafa. A feijoada era deliciosa e o vinho mais ainda, só que um não foi com a cara do outro e, de repente, feito uma certa degustação na Tijuca, começaram a se estapear na minha frente. Para apartar a briga, acompanhei a feijoada com um copo d'água e depois, calmamente, comecei a meditar com o Talento que, apesar da idade, comportava-se feito um garotinho: muita fruta no complexo nariz, com taninos elegantes na boca e uma longa vida pela frente, era um vinho gordo, fresco e com muita personalidade. Para quem ainda não conhece, é um achado! (Preço: R$ 55,70 no G&R)
Para arrematar com vinho de ouro, a sobremesa, uma Baba encharcada de cachaça e compota de frutas tropicais veio serelepe atrás do licoroso Salton Intenso, elaborado com 100% Chardonnay, um vinho que faz jus a seu nome: dourado, com intensos aromas de nozes e bananas e uma boca bem dividida entre a doçura e a acidez.
Ao final, no auge da animação do evento e com as mentes liberadas, uma das convidadas - cujo nome não vou declinar, para não perder uma leitora - cunhou a lapidar sentença:
"É Évidence que eu não tenho Talento para controlar meu Intenso Desejo e preservar minha Virtude!" É mole?
Oscar Daudt |