 Um porre de felicidade
Foi uma noite prá neguinho nenhum botar defeito! O jantar oferecido pela Importadora KMM, no Mr. Lam, para apresentação de alguns de seus novos rótulos australianos foi um luxo só! Prá começar, enquanto aguardávamos no bar do restaurante a chegada de todos os convidados, jogando conversa fora e deixando a vida nos levar, um Champagne Veuve Clicquot Rosé prenunciava os vinhos que iríamos conhecer. A noite vai ser boa...
O jantar-degustação aconteceu no reservado do segundo andar e foi coisa de bamba. Não só a comida, no capricho, como os vinhos, de prima, fizeram levantar as arquibancadas naquele grito de "já ganhou!".
O início dos verdadeiros trabalhos se deu com um Giaconda Mantua Vineyard Chardonnay 2005, com certeza o branco mais caro que já tomei em toda a minha vida de enófilo. Nem vou falar quanto é... Com aromas florais, discreta madeira e toques minerais, tinha uma boca bem seca, fresquíssima, cremosa, com grande potência e ao mesmo tempo muita elegância clássica, parecia implorar pelo Sqwab que o acompanhou. Dava a impressão que a noite havia começado de trás prá frente!
A sequência foi com o Stonier Reserve Pinot Noir 2006 com sedutores aromas de cerejas, terra molhada e rosas e que na boca era macio, sutil e delicado, o que fez o sommelier Dionísio Chaves comentar que poderia ter sido uma melhor escolha serví-lo antes do poderoso chardonnay.
Enquanto os pratos chineses desfilavam suas alegorias e adereços, eis que entra na avenida, feito um trem francês, o Yalumba TGV 2005, cuja sigla indica que é um inesperado corte de Tempranillo, Grenache e Viognier. Tempranillo na Austrália e ainda por cima cortado à moda do Rhône?!? E, mais ainda, envelhecido em carvalho húngaro?!? Esquisito, não? Pois não é que essa bizarrice toda resultou em um vinho com tremenda vivacidade, intenso, com muita fruta e especiarias no paladar e um nariz floral e frutado? Outorguei-lhe um Estandarte de Ouro!
Continuando com as esquisitices, chegou o Westend Estate 3 Bridges 2006, elaborado com 100% de Durif. Eu já havia degustado a safra 2005 desse vinho, mas nem por isso uma casta dessas deixa de ser esquisita. Cruzamento de Syrah e Peloursin, foi criada no Rhône mas mostra seu melhor potencial na Austrália mesmo. O vinho oferecia aromas de banana madura, amêndoas e tostados e uma boca macia e suculenta.
Tal qual mestre-sala e porta-bandeira, inseparáveis, chega o famoso Crispy Duck acompanhado pelo estupendo Entity Shiraz 2006, do não menos famoso John Duval, ícone australiano reverenciado pelo mundo afora. O Entity é um vinho sedoso, rico, gordo, com boca achocolatada e um nariz de ameixas pretas e café, que parece que não termina nunca... Revela bem porque a Austrália é tão decantada por seus Shiraz.
As sobremesas, de tão lindas e ricas em detalhes moleculares, mais pareciam um carro alegórico de Joãozinho Trinta. Foram acompanhadas pelo Westend Estate 3 Bridges Golden Mist, um delicado vinho botrytizado!
"Tristeza não tem fim, felicidade sim". Mas, para enganar a sabedoria popular, ninguém queria ir embora quando terminou o jantar e subimos todos para o terraço do Mr. Lam, onde cercados pela estonteante vista da Lagoa, ficamos bebendo champagnes como que para prolongar aquele porre de felicidade!
Oscar Daudt |