 Vinhos com DNA
Marimar carrega um sobrenome ilustríssimo, Torres, sendo da quarta geração dessa família catalã a se dedicar à produção de vinhos com a força do nome Miguel Torres, uma das mais importantes vinícolas da Espanha. Em 1975, mudou-se de mala e castanholas para a Califórnia e, 10 anos depois, começou a plantar os primeiros vinhedos no Russian River Valley: exclusivamente Chardonnay e Pinot Noir, as castas que mais se sentem em casa naquela região. Marimar veio acompanhada de sua filha, Cristina, uma americana com o destino traçado na maternidade: será a quinta geração de vinhateiros da família Torres.
Adepta da agricultura orgânica e utilizando alta densidade de plantas nos vinhedos, a produção da Marimar Estate é muito limitada, produzindo rótulos que têm maravilhado a crítica especializada internacional: todos os seus brancos e tintos já receberam mais de 90 pontos das revistas mais importantes.
Eu, que sou fã de carteirinha dos vinhos californianos, entrei em alfa com o convite da Importadora Reloco para um jantar-degustação desses vinhos no Giuseppe Grill, no Leblon. Os dois Chardonnay degustados eram deliciosos e eu não conseguia escolher qual mais me encantava. Também - pudera! - os dois não poderiam ser mais diametralmente opostos. O Chardonnay Acero 2007, sem madeira, era o próprio frescor engarrafado, com muita fruta tanto no nariz quanto na boca. Já o Chardonnay Don Miguel 2004, com dez meses em carvalho francês, era cremoso, opulento e elegante, com a madeira bem equilibrada, permitindo a perfeita expressão da fruta. Realmente, a gente tem de tirar o chapéu para a Chardonnay - e para a Marimar também - que fazem vinhos saborosos seja de que jeito for.
Quando chegou a Picanha Supra Sumos, com seus inebriantes aromas, eu fiquei tão atarantado que até esqueci de fotografar o prato. Era macia, suculenta e saborosa! E veio acompanhada por três Pinot Noir de Marimar. Dessa vez, eu não tive dúvidas em escolher meus favoritos. O segundo deles, Doña Margarita Pinot Noir Mas Cavalls 2006, foi o grande par para aquele nacão de carne. Soberba harmonização! Mas minha grande alegria da noite foi o Pinot Noir Cristina 2005, tão belo quanto a homenageada, que seria meu escolhido para uma meditação ao final da tarde, espreguiçando-me na varanda, sob o olhar do Cristo Redentor, braços abertos para o meu enlevamento.
Bem, ao final, depois de tantos e tão deliciosos vinhos, eu já estava tão zureta que, para minha vergonha, comecei a chamar a Marimar de Miramar. Imperdoável!
Oscar Daudt |