 O que Portugal nos oferece de melhor
Dizer que um encontro dos Companheiros da Boa Mesa foi chique é chover no molhado! Sempre é. O dia em que os confrades, num acesso de demência, resolverem se reunir no Bunda de Fora, no Jardim Botânico, vai ser fino igual! Mas dessa vez, foi chique ao quadrado, pois o almoço aconteceu no requintado Palácio São Clemente, em Botafogo, a maravilhosa sede do Consulado-Geral de Portugal. O fato de a representação portuguesa ter aberto suas portas - as janelas também, conforme o cônsul António de Almeida Lima - para receber uma confraria, já bem demonstra o prestígio que esse longevo grupo de amantes da gastronomia desfruta.
Há mais de 25 anos, os Companheiros se reúnem para um almoço mensal - sem nunca haver falhado - e a cada edição compete a um dos confrades organizar o regabofe. Desta feita, coube a Sérgio da Costa e Silva comandar os trabalhos. Como Sérgio esteve recentemente na Terrinha, aproveitou para selecionar pratos de famosos restaurantes de lá - Tavares, Gambrinus e Aviz - e contratou o tradicional Demar Buffet para materializar suas idéias. Gol de placa!
O encontro começou com a conversa sendo jogada fora, embalada pelo espumante Chandon Reserve Brut e deliciosos canapés portugueses. A linguiça de Salamanca era de perder a compostura!
Fomos encaminhados ao salão de jantar, com uma interminável mesa (foto ao lado) que acomodou 40 pessoas confortavelmente, sem roça-roça. Esperava por nós uma irretocável Salada de polvo, harmonizada com o delicioso e refrescante Vila Regia Douro Branco 2006, um corte das impronunciáveis castas Viosinho, Gouveio, Códega e Rabigato.
A seguir, veio a tradicional Sopa de Cação, alentejana até o fundo do prato, delicada - sutil mesmo - e principalmente gostosa. Se oportunidade tivessem me oferecido, encararia uma repescagem tranquilamente.
Por duas vezes, nessa minha recente viagem a Portugal, comi o emblemático Arroz de Pato e aprendi que ele pode ser normal ou na versão malandrinho. O primeiro é seco e o segundo molhadinho. A versão apresentada pelo chef Demar era da primeira categoria e realçava melhor os sabores e aromas do pato e dos enchidos. As honras da casa ficaram a cargo do Casa Ferreirinha Esteva Douro 2007, elaborado com Tinta Roriz, Touriga Franca e Tinta Barroca, resultando em uma cornucópia de aromas e sabores que quase ressucitaram o palmípede.
Foi então que uma tragédia maior do que as cantadas por Amália Rodrigues desabou sobre mim. Minha câmera, abusada, enviou-me uma aterradora mensagem: Erro 99! Fala sério! Não poderia ser um erro 46, por exemplo? Tinha de ser logo o erro de maior hierarquia? E a partir daí não mais deu sinal de vida! Fiquei sem registrar o Bacalhau com Natas, o Queijo da Serra com Marmelada e o Toucinho do Céu. Isso não se faz!
Oscar Daudt |