 Duplo prazer
O Jantar de Fim de Ano dos Companheiros da Boa Mesa é sempre o clímax de doze meses dedicados a espetaculares cardápios. Por tradição - e devido à importância do evento - sua organização fica sempre a cargo do presidente da confraria, nesta edição o recém-empossado Marcos Gasparian. E já há oito anos o local escolhido pelos diversos presidentes para a realização dessa verdadeira Festa de Babette é o requintado Le Pré-Catelan, em Copacabana.
Nesta noite, o chef Roland Villard estava particularmente inspirado - fato raro que só costuma acontecer 365 dias por ano. Aproveitando a deixa de que seu livro A Dieta do Chef: Alta Gastronomia de Baixa Caloria está concorrendo na categoria Best Chef Book, ao Gourmand World Cookbook Awards 2009, Roland teve a idéia - meio maluca, meio genial - de fazer todas as etapas do jantar duplicadas: a metade do prato era da cozinha tradicional, a outra metade era da cozinha de baixas calorias. Com isso, além de comermos o dobro - ô vida dura! - pudemos comparar os sabores de uma e de outra alternativa.
Eu, embora procure manter uma dieta leve e saudável em casa, quando vou a restaurantes tenho verdadeira ojeriza a pedir pratos light: se eu saio de casa é para enfiar o pé na jaca! No entanto, pude constatar que baixas calorias não precisam significar baixa "deliciosidade". Era difícil, nas várias dobradinhas, escolher qual o lado mais gostoso: o saudável ou o pecador.
O coquetel que precedeu o jantar teve altos e baixos: os biscoitinhos não me impressionaram muito, mas a dobradinha de linguados na colher era sensacional. O marinado - light - era suave, finamente condimentado, enquanto a "crocância" do linguado em crosta prenunciava uma carne tenra que se desmanchava na boca.
As entradas deram um show! A dupla de salmões era magnífica, proporcionando alto grau de salivação, quase atingindo o limiar da baba... Eu me declaro impedido de comparar os dois, pois salmão defumado é a minha praia e, claro, minhas preferências foram dirigidas ao Balotine, sem com isso desmerecer o exótico Timbale com ervas frescas. Eu fiquei de olho nos pratos vizinhos para ver se alguém deixava alguma sobra no prato, para eu candidamente pedir, mas qual o quê... Não sobrou nada para contar a história! Para a segunda entrada, dois raviolis: o light, de frango defumado, e o clássico, de queijo de cabra, inverteram meus conceitos e eu fiquei fazendo boca-de-urna para a geração saúde.
Já com os pratos principais, deu-se o contrário: o Blanquete de vitela com wasabi, lindamente apresentado em uma cestinha de massa folheada - fininha, fininha - era como um presente de Papai Noel esperando na árvore de Natal. Inesquecível, cremoso, macio. E ofuscou o pobre do Ossobuco com seus cogumelos.
Quanto às sobremesas, eu passei...
Só me resta parabenizar o chef Roland Villard e o presidente Marcos Gasparian pela organização desse inédito e inventivo jantar. Mas como, quando a gente recebe a mão, pede logo o braço, aqui vai minha sugestão para o próximo ano: em vez de jantar duplicado, que tal fazer um cardápio triplo: o clássico, o baixas calorias e o "overdose" de colesterol?
Oscar Daudt |