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Mr. Lam

Sempre avante!

Esta semana tivemos o prazer de participar de um jantar-degustação, no restaurante Mr. Lam, oferecido pela Viña Tarapacá, uma das vinícolas que faz parte do gigantesco VSPT Wine Group, que inclui também a Viña San Pedro, a onipresente e "onivendente" Santa Helena e diversas outras empresas de grande presença em nosso mercado.

Nosso colaborador Marcelo Copello, em sua última coluna, coincidentemente falou da recente visita que fez à Viña Tarapacá, no Chile, e diz o seguinte: "Ao visitar essa vinícola, em novembro de 2008, notei que a qualidade de seus vinhos estava ascendente, tendência que se confirmou agora. Vários investimentos têm sido feitos, em equipamento, em vinhedos e em pessoal, como na contratação do enólogo norte-americano Edward Flaherty. Formado em Davis, na Califórnia, Flaherty assumiu o comando enológico da empresa em 2006."

E, verdadeiramente, pudemos nos deliciar com a linha Gran Reserva, com o excelente Etiqueta Negra e com o - por enquanto - top da vinícola, o Zavala, que a meiga Carolina, embaixadora da Tarapacá, nos contou orgulhosamente que obteve 93 pontos no Guia Descorchados, acima do Almaviva, que custa 3 vezes mais. Como diz o IBRAVIN, abra sua cabeça...

Eu ressalvei por enquanto, por que já está no forno - ou melhor, nas barricas - o novo Tara Pakay, um corte secreto, de minúscula produção, que nem se sabe se chegará ao Brasil. O que eu sei é que não tivemos a chance de prová-lo nessa degustação.

Mas eu não fiquei me lamentando, pois bons vinhos foi o que não faltou. A extensa linha Gran Reserva é um achado - uma excelente relação custo x prazer, como diz meu amigo Mauro Raja Gabaglia - pois é vendido no Zona Sul por R$43,98 a garrafa (quando não está em uma das frequentes promoções do supermercado) e traz muita qualidade engarrafada. Provamos o Sauvignon Blanc 2009, o Chardonnay 2008, o Carmenère 2008, o Merlot 2007, o Cabernet Sauvignon 2007 e o Syrah 2007. Dentre os brancos, o Sauvignon foi o destaque. A safra 2009 é a primeira em que as uvas são plantadas no Valle de Casablanca, muito mais apropriado às castas brancas e o vinho apresentava muito frescor, e deliciosos aromas de mel, cítricos e aspargos. Já dentre os tintos, fiquei apaixonado justamente pela casta que tem andado distante de minhas taças sul-americanas preferidas: a Cabernet Sauvignon (com 5% de Cabernet Franc), com aromas muito delicados de flores, canela e ameixas e uma boca de grande harmonia e suavidade. Show de bola!

Com mais potência, seguiu-se o Etiqueta Negra 2007 (R$69,98 no Zona Sul), de novo Cabernet Sauvignon mas desta vez com um pouco de Carmenère e Malbec, 14 meses em barricas francesas e americanas (43% novas), o que resultou em um vinho suculento, aveludado e bem equilibrado, com muita rosa e frutas vermelhas no nariz. Outro grande achado!

Finalmente, o Zavala 2007, corte de 40% Cabernet Franc, 30% Cabernet Sauvignon e 30% Syrah e estágio de 14 meses em barricas de carvalho americano e francês (81% novas) que, como não vende no Zona Sul, não sei quanto custa. Mas é delicioso, macio, prolongado e com certeza dá para guardar por alguns bons anos na adega.

Rótulos kafkianos

No entanto, nem tudo são flores. Como frequentador dos Supermercados Zona Sul, os vinhos Tarapacá são meus velhos conhecidos. Com preços acessíveis e excelente qualidade, são vinhos que eu compro bastante. Mas apesar de toda essa intimidade, nunca entendi direito os rótulos que eu lá encontrava e sempre tive a impressão difusa de que os vinhos mudavam de aparência a cada visita. No mercado brasileiro, as 3 linhas (varietal, reserva e gran reserva) se chamam todas Tarapacá. E o mais surpreendente é que o varietal e o reserva possuem rótulos praticamente idênticos, com a única diferença de que o segundo possui um pequeno rótulo secundário com a palavra Reserva. No mercado chileno, o varietal se chama León de Tarapacá, o reserva se chama Gran Tarapacá e o gran reserva é, felizmente, Gran Reserva. Mas vamos combinar que chamar o reserva de Gran Tarapacá não foi uma idéia muito brilhante. Mas isso não afetaria a nós, brasileiros, se esses rótulos chilenos não chegassem a nosso mercado. Só que eles chegam - não sei por quais caminhos - e a confusão se instala prá valer.

E para aumentar ainda mais a esquizofrenia, os rótulos que se encontram a venda no Zona Sul não têm nada a ver com os rótulos oficiais. Conclusão: para identificar 3 vinhos, necessitamos aprender 8 rótulos diferentes. Isso não se faz com o pobre do consumidor. Com isso, o EnoEventos, em mais um serviço de utilidade pública, criou uma tabela abaixo apresentada destrinchando essa confusão. Recomendamos imprimí-la, guardá-la na carteira e cada vez que vocês se depararem com os vinhos Tarapacá, podem consultá-la para saber o que estão comprando.

Yann Lesaffre, do Mr. Lam, relatou os problemas dessa falta de identidade para um restaurante. O consumidor compra um varietal Tarapacá no supermercado a 17,90. Quando chega ao restaurante e vê outro vinho Tarapacá a 150 reais, não conseguindo diferenciar um rótulo do outro, diz Yann: "O cliente fica achando que o restaurante é ladrão!"

Realmente, com tantas dificuldades assim, só mesmo bebendo um bom Tarapacá para relaxar. Qual deles? Não sei, estou confuso...

Oscar Daudt
Tabela para destrinchar a confusão de rótulos
Mercado chileno
Varietal Reserva Gran Reserva
Mercado internacional
Varietal Reserva Gran Reserva
Zona Sul
Varietal Reserva Gran Reserva
Os vinhos degustados
Espumante Tarapacá Brut Tradicional Gran Reserva Sauvignon Blanc 2009 Gran Reserva Chardonnay 2008
Gran Reserva Merlot 2007 Gran Reserva Cabernet Sauvignon 2007 Etiqueta Negra 2007 Zavala 2007
Os anfitriões
Carolina Rivera, a embaixadora da Tarapacá Marcelo Quinteros, diretor de exportações da Tarapacá
O enólogo Edward Fhaherty Nivaldo Oliveira, proprietário da Importadora Épice Anderson Pavão, da Chateau Brasil, representante da Épice no Rio
Os convidados
Marcelo Copello e Renata O sommelier Marcos Lima e Yann Lesaffre, do Mr. Lam Luciana Plaas e Alexandre Lalas
Paulo Gomes, presidente da SBAV-Rio O consultor Paulo Nicolay Ao final, Marcos me confessou que era um xaleólatra e ficou assediando essa vestimenta da Carolina. Pobres produtores...
A equipe do Mr. Lam
O próprio Mr. Lam Éder Heck, o sommelier Maia Carrière, a hostess
O garçom Baiano O garçom Luciano O garçom Marcelo
Comentários
Maria Tomasia Middendorf
Enófila
Rio de Janeiro
RJ
06/12/2009 Oscar,

Esse vinho é maravilhoso! Já degustei várias uvas e confesso que, embora por preço acessível, ele é maravilhoso!

Estive numa delicatessen em Resende, com vários rótulos, e adquirí uma garrafa de cada um, inclusive o Cabernet Sauvignon. Bebi tudo de tanto que gostei, só me restando uma garrafa do León de Tarapacá Gold, Chardonnay (ex Zavala). Ele, realmente, caiu muito bem no meu gosto e no meu bolso. Ao reabastecer a minha adega, creia, ele será o primeiro a ser escolhido, bem como alguns Malbec Argentinos que sempre foram os meus preferidos, mas, agora, devido as confusões de rótulos, fiquei confusa e terei que voltar ao ponto 0.

Um abraço,
Maria Tomasia Middendorf
Carlos André Mores
Enólatra (adorador do vinho)
São Carlos
SP
29/12/2009 Oscar, sempre matérias gostosas de ler...

Deixe-me falar algo sobre os Tarapacás. Uma quase-piada: colega de S. Carlos tem uma mercearia e vendia Tarapacás. Comentou que havia ouvido falar do Millenium, um vinho feito para comemorar a virada do século (daí só existir o Millenium na safra 2000 ou 2001, não lembro - a virada seria 2001, mas a Rita Lee já cantava que a Miss Brasil do século 21 seria a de 2000...). Um dia levei para ele o Millenium 2005. Ele argumentou: - Talvez tenham continuado a estória... Não satisfeito, outra viagem ao Chile depois, apresentei-lhe o Millenium 1998. Ele não soube mais o que dizer... Talvez o vinho seja Zavalla para o mercado internacional e Millenium no Chile, não sei. O rótulo e o formato da garrafa são os mesmos.

O fato: sei que o Millenium 98 foi no meu aniversário de 45 anos, em outubro. Junto dele, para a degola, um D. Melchor 2002, um D. Maximiano 2003, um Reserva Privada Tarapacá 2001 e outros menos cotados. Tudo às cegas. Resultado? 1°: Dom Maximiano; 2°: Millenium; 3°: Reserva Privada; 4°: Dom Melchor. O menos cotado era um Philippe de Rothschild com garrafa em cristal Baccarat que um amigo ganhou e foi muito generoso em dividir conosco. Verdade seja dita, uma das convivas (boa de nariz) alertou que deveríamos prestar atenção no D. Melchor - mas concordou que o paladar não estava entre os melhores.

Conclusão: Tarapacás são ótimos na relação custo benefício. Notar que o Reserva Privada, um vinho de "segundo escalão" comparado aos "tops", ficou à frente do D. Melchor na preferência popular. Se pensarmos que ele custa um quarto do D. Melchor (o Millenium, menos da metade), está desenhada a tragédia (rs), ao menos para a Concha y Toro.

A lamentar, como sempre, o custo dos vinhos no Brasil. O que se pede aqui, na maioria dos casos, é um absurdo. E a Épice não escapa a este comentário.

[]s,
Carlos André
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]