 Além do horizonte
Alguns dos maiores produtores de vinho do Alentejo - dentre eles, lembro-me das Adegas Cooperativas de Portalegre, Borba, Redondo, Reguengos de Monsaraz e Vidigueiras - decidiram unir suas forças e criaram, em 2004, a ENOFORUM Vinhos do Alentejo, uma empresa independente das acionistas, destinada a exportar os vinhos alentejanos para o mundo. Com marcas próprias e sob o comando do enólogo José Fonseca (por favor, não repetir a gafe que eu cometi ao confundí-lo com o periquitano José Maria da Fonseca), a nova vinícola compra as uvas de suas empresas-mãe e utiliza as instalações e experiência das mesmas.
Depois de uma complicada estréia no Brasil, um encontro fortuito com a Importadora CCA - do grupo dos queijos de cabra Caprilat - que estava em busca de uma carteira de vinhos para complementar sua importação de alimentos finos, juntou os interesses de ambas as partes. A CCA contratou, então, ninguém menos do que o respeitado sommelier Dionísio Chaves como consultor e a Tríplice Aliança foi formada.
Durante uma movimentada degustação no Hotel Fasano, em Ipanema, os novos vinhos foram apresentados aos enófilos cariocas. Conforme explicou Dionísio, escolher vinhos bons e caros é que nem roubar bala de criança. O difícil é escolher uma linha de qualidade e com preços acessíveis ao nosso mercado. E as três linhas apresentadas serão colocadas nas prateleiras, para o consumidor final, desde 22 até 79 reais. Os donos de restaurantes presentes à apresentação mal conseguiam disfarçar a satisfação e já estimavam por quanto iriam comprar e vender esses rótulos, já decididos a oferecê-los em taça.
Eram três as linhas em degustação: a Real Forte, branco e tinto, gama de entrada; a Finis Terra, branco e tinto, também destinada a supermercados; a linha superior Alentex, composta de branco, rosé e três tintos; e finalmente, no tôpo da pirâmide, o tinto Além.
Fiquei particularmente encantado com o Alentex Branco 2007, corte de Antão Vaz e Arinto, com seu frescor, uma cornucópia de frutas e um bom corpo. O Alentex Rosé 2007, corte de Castelão e Aragonez, é uma boa pedida para um aperitivo gelado à beira da piscina, jovem, fresco e frutado. Mas as grandes alegrias foram proporcionadas pelos tintos, especialmente o Alentex Reserva 2005, elaborado com Alicante Bouschet, Aragonez e Trincadeira, e o delicioso Além 2006, equilibrado corte de Touriga Nacional e Syrah. Esses dois últimos devem chegar as prateleiras por 79 reais e, definitivamente, valem quanto pesam.
Mas não resisto em relatar duas coisas que me deixaram intrigado: visitando o site da Enoforum, vi que a linha Alentex, que aqui nos chega, é batizada de Alente em Portugal. Não entendi por quê, mas até achei o nome brasileiro mais moderno e comercial.
A segunda estranheza é que o convite chamava para um jantar no Fasano. Cheio de saudades da excepcional comida de lá, nem almocei, antegozando as delícias que iria provar. Qual não foi a surpresa, minha e de meu estômago, ao constatarmos que era apenas um coquetel. Bem bom por sinal, com um buffet de queijos da Caprilat, mas não era um jantar...
Oscar Daudt |