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Portugal

Lisboa de outras eras

Quando de minha recente viagem a Portugal, aproveitamos o último dia para conhecer o mais charmoso lugar de Lisboa para se beber um bom vinho. Trata-se da Enoteca Chafariz do Vinho localizada a 200m da Avenida da Liberdade - bem perto de nosso hotel - e para lá fomos Ana Maria Magalhães, Alberto Duncan e eu.

A enoteca fica localizada dentro dos subterrâneos do Aqueduto das Águas Livres, histórica construção iniciada em 1731 que abastecia os lisboetas de água em suas diversas fontes. Mais especificamente, o Chafariz do Vinho fica localizado no Chafariz da Mãe-d'Água.

A adaptação do chafariz a uma enoteca preservou a arquitetura do local, valorizando-a com uma iluminação aconchegante, quase dramática, e uma decoração praticamente neutra. Claro, o charme do local são os canais, as piscinas, os túneis e as seculares paredes de pedra. É muito lindo!

Como se não bastasse essa ambientação histórica, o local é de propriedade do respeitado crítico de vinhos português, João Paulo Martins, autor do Guia de Vinhos de Portugal, a publicação mais importante das terras lusitanas. A carta apresenta muitos rótulos completamente desconhecidos aqui nos trópicos, mas preferimos apostar no certo e escolhemos o aveludado Pintas Character 2006 (€48, cerca de R$120), maravilhoso Douro elaborado pela cultuada enóloga Sandra Tavares da Silva.

Dando asas a meu lado sádico, eu aproveitei para fotografar a carta de vinhos para que todos vocês possam conferir quanto os portugueses pagam para beber em um dos lugares mais sofisticados da cidade - e comparar com quanto que a gente paga por aqui em qualquer birosca.

Fora isso, vale salientar que é norma da casa abrir qualquer garrafa da carta para servir em taças, sempre que o cliente assegure beber pelo menos duas doses. E, distante de nossos usos, a casa aceita que o cliente leve seu vinho, cobrando a taxa de €2,50 por garrafa por pessoa (traduzindo, um casal que leve uma garrafa de vinho pagará de rolha a merreca de 12 reais, valor impensável aqui em Pindorama, onde esse mesmo serviço - quando permitido - costuma ser taxado em valores estratosféricos, chegando mesmo a 100 reais por garrafa!).

Como bem dizia o Jô Soares: "Madalena, você não quer que eu volte!"

Oscar Daudt
As instalações
Nossa visita
Pintas Character 2006
Região: Douro
Álcool: 14%
Ana e Alberto Eu em frente à enoteca O sommelier da casa é um simpático paranaense (com Alberto)
A carta de vinhos
Comentários
Reginaldo Schiavini
Designer
Bento Gonçalves
RS
05/01/2010 Parabéns pela matéria. De "facto" esta é a realidade em Portugal. Estive lá há alguns meses e, embora não tenha ido neste magnífico local em Lisboa, fui a tantos outros que proporcionam ao cliente vinhos de ótima qualidade a preços justos.

Infelizmente aqui na "terra brazilis" a margem de lucro dos restaurantes é altíssima e é um dos vilões dos preços de nossos vinhos. Enquanto isto não mudar, teremos de aproveitar as viagens ao exterior ou nos contentar em ver estes magníficos cardápios. Para se ter uma idéia, o vinho da Quinta do Vallado aqui no Brasil é vendido por 3x o preço de lá.

Um abraço a todos
Reginaldo
Valdiney Ferreira
L'Orangerie
Rio de Janeiro
RJ
06/01/2010 Caro Oscar,

A Enoteca Chafariz do Vinho parece ter bons preços aos nossos olhos. Meus amigos lisboetas discordariam de ser um bom lugar para degustar com base no custo-beneficio. A marca JPM (valiosa com méritos) tem seu "valor".

Sobre preços de vinhos lá e cá. Portugal consome a bagatela de 450 milhôes de litros por ano (46,0 lts per capita ano). O Brasil, aí inclusos todo o tipo de vinhos consome 36 milhôes (2,0 lts per capita ano). Lá é uma indústria e tanto com poder de influir nas políticas de governo. O presidente de lá dá ouvidos, sim, àquela poderosa indústria e facilita. Infelizmente o nosso vinho ainda é artigo de luxo, pouco influente.

Também não seria justo responsabilizar só a ponta do consumo (embora os restaurantes peguem pesado) pelos preços elevadíssmos que pagamos. Mesmo assim, o negócio do vinho exige muita gestão para dar resultados. Mas nossa indústria está crescendo, a gestão está melhorando muito e boto fé que vamos chegar lá. Com 100 milhões de litros de consumo anual, já vai dar para ser uma indústria mais respeitada, ouvida e profissional em todos os elos da sua cadeia de valor.

Abcs
Allain Brasil Bertrand Júnior
São Paulo
SP
06/01/2010 Caro Oscar,

Infelizmente, é esta a nossa realidade. Os preços, em alguns casos, praticados no nosso mercado estão muito acima do que seria razoável, ainda que consideremos a carga tributária que nós temos.

Para também ilustrar, no mês passado estive em Nova York e tanto nos restaurantes, quanto no apartamento em que ficamos hospedados, pudemos degustar bons vinhos a preços justos, gastando por exemplo US$ 35.00 num Brunello de Montalcino num supermercado perto de onde estávamos.
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - odaudt@enoeventos.com.br