 L'Esercito Italiano
Danio Braga conta que organizou uma exclusiva degustação com os vinhos de todos os 68 produtores de Montrachet, a denominação francesa reputada por ter o melhor vinho branco do planeta. E do alto dessa bagagem, o presidente da ABS-Brasil e proprietário da Locanda della Mimosa, na serra fluminense, apresentou uma das melhores degustações de que já participei.
Apesar do preço meio salgado (292 reais), o evento teve a lotação de 45 participantes esgotada e com longa fila de espera. Para a degustação, batizada com o provocador nome de Os Montrachets Italianos, Danio escalou 6 excepcionais Chardonnays da bota para compor o exército que iria declarar guerra à França. E eles partiram já com uma vantagem bem significativa: enquanto o Montrachet mais barato custa, no Brasil, a estratosférica quantia de 1.600 reais, a tropa italiana apresentava etiquetas a partir de 77 reais. É uma diferença que não dá para negligenciar.
A cada vinho que chegava a nossas taças o enlevamento era renovado. E ficava cada vez mais difícil de escolher qual o melhor. Eu desisti de eleger o campeão da noite e decretei um empate quíntuplo dentre os 6 rótulos servidos. Mas quem se importaria com a minha opinião sobre os vinhos, quando a nossa frente estava uma das maiores personalidades do vinho brasileiro? Portanto, em vez de descrever as minhas impressões, achei mais prudente transcrever a opinião do grão-mestre, conforme relatado abaixo.
Foi uma noite para guardar nos escaninhos da memória e, volta e meia, relembrar os deliciosos aromas e sabores que teimam em permanecer vivos. Só teve um porém e mesmo assim marginal: o buffet de confraternização oferecido após a degustação era sofrível e de jeito nenhum estava à altura do evento. Feio, ruim e escasso, foi o verdadeiro anti-climax. Ainda bem que o vinho servido para acompanhar era o sempre confiável Penedo Borges Reserva Malbec, produzido pelo presidente da ABS-Rio, Euclides Penedo Borges, que nos fazia esquecer dessas vicissitudes.
Notas de degustação de Danio Braga
Gaia & Rey 2007: cor amarelo-palha, bem transparente; no nariz, notas de baunilha, amêndoas amargas, flores, toques minerais, laranja e grapefruit; na boca, toma conta do ambiente, untuoso, encorpado, até com certa tanicidade e com acidez não arrogante, sem amargor, ainda não pronto para beber mas já elegante; harmonizar com codorna, vitelo, frango e até foie gras.
Cervaro della Sala 2006: cor amarelo-ouro e transparente; aromas de frutas cítricas, florais, frutas maduras (abacaxi, pêssego); na boca, corpo médio, elegante, menos amanteigado do que o anterior, mais nervoso, mais amadeirado e pronto para beber; harmonizar com queijos e peixes.
W... Dreams ... ... ... 2006 (não é erro, não; o nome do vinho é assim mesmo!): cor amarelo ouro claro, brilhante; aromas de frutas maduras, banana, flores, avelã, minerais, com boa intensidade e média persistência; na boca, mais amadeirado, com acidez média, álcool equilibrado, um pouco tânico, com bom corpo, fino e pronto para beber.
Vie de Romans 2006: cor amarelo ouro, claro, típico da Borgonha; aromas de flores, cítricos, maracujá, um frescor olfativo maravilhoso, mineralidade, manteiga, muito fino e persistente; na boca, maciço, pesado, nota amadeirada, potente, persistente e elegante, para guardar por mais 8-10 anos; harmonizar com carne branca, ostra gratinada, coquille e escalopinho ao limão.
Monteriolo 2005: cor amarelo palha, tendendo a ouro; nariz com aromas de Puligny, maracujá, ervas do campo, feno, camomila, pedra de isqueiro, fino e elegante; boca "pétillante", nervoso, equilibrada no álcool, adstringente, ainda não pronto, podendo evoluir por mais uns 10 anos; 50% com fermentação malolática e a outra metade sem; harmonizar com carnes brancas, aves, embutidos cozidos e queijos de cabra.
Schietto 2002: cor ouro escuro, não muito atraente; nariz com carência de qualidade aromática, notas oxidadas, manteiga e de moderada intensidade; boca com pouca acidez, minerais excessivos e toques medicinais; harmonizar com beringela e peixes de carne escura.
Oscar Daudt |