Os melhores do mundo? Uma das minhas leituras diárias obrigatórias é o Blog de Luciana Fróes - Anotações de uma gastromaníaca, no Globo Online. Luciana é a crítica de gastronomia de O Globo e, para quem gosta do assunto, o blog é uma fonte inestimável de informações. Tá certo que às vezes ela viaja na maionese e fala de gatos e pneus furados, mas mesmo essas mudanças de rumo são gostosas de ler, na linguagem coloquial que caracteriza o estilo da jornalista. A impressão que se tem é que a Luciana está batendo um papo com a gente. Quantas vezes eu já não roubei algumas expressões de lá para redigir minhas matérias!
Pois foi nesse blog que eu tomei conhecimento da relação dos 50 melhores restaurantes do mundo, conforme painel organizado pela inglesa Restaurant Magazine, composto por 800 críticos de gastronomia e chefs do mundo inteiro (no qual a própria Luciana Fróes tem assento). A escolha, no entanto, lista os 100 melhores restaurantes e eu aproveito essa listagem mais completa para divulgar para nossos leitores.
O processo de escolha obedece às seguintes regras:
a votação é estritamente confidencial até o anúncio dos prêmios;
os votantes devem escolher 5 restaurantes, em ordem de preferência, podendo incluir até 3 restaurantes de sua própria região geográfica e obrigatóriamente escolhendo pelo menos 2 restaurantes de outras partes do mundo;
os votantes devem ter ido aos restaurantes escolhidos, pelo menos uma vez nos últimos 18 meses;
não é permitido votar em restaurantes de que sejam proprietários ou com os quais tenham interesses comerciais;
as indicações devem ser sempre a um restaurante, e não ao chef.
A análise dos resultados O país com o maior número de restaurantes na lista, como era de se esperar, foi a França, que emplacou 13 casas, muito embora, surpreendentemente, não tenha conseguido colocar nenhum restaurante dentre os 10 primeiros. O segundo país com mais restaurantes dentre os 100 foram os Estados Unidos, com 12. Num honroso terceiro lugar, vem a Espanha, com 10 indicações, dentre elas 4 entre os 10 primeiros. Nada mal!
O Brasil não fez feio e conseguiu exibir um restaurantes na lista - o único restaurante da América do Sul - que foi o paulista D.O.M, do chef Alex Atala, ocupando a invejável 18ª posição.
Vejam a tabela completa com a quantidade de indicações para cada país:
A grande surpresa da lista foi a descida para o segundo lugar do campeão do ano passado, o cantado e decantado El Bulli, de Ferran Adrià, derrotado pelo quase desconhecido Noma, do chef Rene Redzepi, localizado na pequena e pacata Dinamarca.
Algumas mudanças de posição foram marcantes, com ascenções e quedas bruscas. A maior derrota foi a do restaurante St. John, de Londres, que ocupava o 14º lugar em 2009 e despencou para a 43ª posição. Por outro lado, quem deve estar rindo a toa é o chef Daniel Boulud que viu seu restaurante nova-iorquino Daniel subir aos píncaros da glória, galgando para o 8º lugar, depois de aparecer na listagem do ano passado na 41ª colocação.
Pratos lindíssimos Pelas fotografias que ilustram a relação dos ganhadores, abaixo apresentada, dá para se notar que para constar da exclusiva lista, os restaurantes devem investir na apresentação dos pratos. Cada prato ilustrado é uma verdadeira escultura, com composição e cores que atraem até os mais anoréxicos. Infelizmente, acho que dá para contar nos dedos - e de uma mão só - os restaurantes do Rio de Janeiro que apostam no visual de seus pratos para conquistar o estômago de seus clientes...
Outra diferença que chama a atenção é que, dos 20 primeiros colocados, 10 divulgam seus cardápios pela Internet, com o preço, enquanto 6 deles divulgam também a carta de vinhos - de novo, com os preços - para que os consumidores possam escolher com calma aquilo que desejam ordenar. Por que isso não existe aqui em terras tupiniquins?
Resultados polêmicos Por uma dessas coincidências da vida, enquanto redigia essa matéria, recebi do tropicalizado chef francês Joel Guerin um artigo assinado pelo crítico de gastronomia da revista francesa L'Express, François-Régis Gaudry (ele também membro do painel de votantes), metendo o malho nessa escolha. É claro que, como francês, o grande questionamento é o fato de não existir nenhum restaurante daquele país, a indiscutível terra da alta gastronomia, dentre os 10 primeiros colocados. A partir daí é uma saraivada de acusações e insinuações e uma renúncia a participar das próximas votações por discordar praticamente de tudo.
Uma de suas ponderações é exemplificada pelo restaurante Bras, em Laguiole, que em 2009 ocupava o 7º lugar da lista e em 2010 não conseguiu nem ao menos se manter entre os 50 melhores. Pergunta o crítico: "Como o seu talento pode ter degringolado assim tão rapidamente?" Quem quiser ler a íntegra das críticas do Gaudry (em francês), pode clicar aqui.
Não deixa de ter razão o François-Régis. Essas variações tão drásticas apenas indicam que a metodologia utilizada para a eleição é muito vulnerável. De qualquer forma, apesar das críticas e do chororô, a classificação é lida por todos os cantos do planeta e os ganhadores, certamente, vão faturar em cima dos resultados.
Quando René Redzepi escreveu um manifesto por uma nova e pura gastronomia escandinava, críticos e chefs dinamarqueses perguntaram, debochados, se ele pretendia servir pênis de baleia em seu restaurante.
Abraços a Oscar e todos os companheiros de Enoeventos. P
Pedro, muito boa a matéria! E o comentário também... rsrsrs...
Abraços, Oscar
Pedro Landim Jornalista Rio de Janeiro RJ
30/04/2010
Apenas algumas notas diante do panorama fotográfico. Primeiro, o quanto são parecidos todos os pratos do que podemos chamar de 'a alta gastronomia do novo milênio'.
Pelo visual, apresentação, ingredientes e técnicas aparentes, poderiam todos fazer parte de um menu degustação de um hipotético restaurante comandado por discípulos de Adrià.
Ele mesmo, que trabalha com designers para pensar seus pratos. E aí partimos da louça para a própria comida.
Quer dizer: imagem, se não é tudo (e não é mesmo), é muito mais do que sempre foi. Claro que isso é perigoso, ou será que ninguém por aqui está sentindo falta de um leitão à pururuca nessa galeria? Ou de um pernil suculento imerso no vinho?
Só lembrando, para citar apenas dois que estão no topo da lista dos 50: Rene, o dinamarquês campeão, fez estágio no El Bulli. Andoni, do Mugaritz (restaurante onde tive a sorte de jantar), foi sub de Ferran no templo catalão. Impressiona a influência de Ferran em tudo o que está sendo feito, me parece que metade dessa lista leva a sua assinatura em 'marcas d'água'.
No Mugaritz, tive a experiência impressionante de uma série de pratos que poderiam estar expostos em galerias de arte, mas cujo sabor de cada elemento e do conjunto se sobrepunham a tudo. O visual como resultado do sabor, e não o inverso. A nítida impressão de anos de estudo e prática por trás daquilo tudo.
Tem que ser assim, e é aí que mora o perigo. Porque a espuma se desfaz quando o vento entra pela janela.
Raquel Paschoal Enófila Rio de Janeiro RJ
30/04/2010
Caro Oscar,
Mais uma vez você nos brinda com um excelente trabalho informativo e ilustrativo.
Parabéns! Um abraço.
Rafael Mauaccad Enófilo São Paulo SP
03/05/2010
Caro Oscar,
Li uma matéria hoje no Estadão sôbre o que faz originar o ranking dos 50 Melhores Restaurantes.
Em observando as fotos dos pratos, todos têm características muito assemelhadas, que em uma degustacão às cegas, difìcilmente se poderá diferenciar a categoria do restaurante.
Esta escalacão, fruto da autoavaliacão dos jurados, só atesta que a cada ano necessita-se da mudanca de posicões relativas dos indicados, cuja discussão promoverá a movimentacão da poderosa máquina da indústria de alimentos em direcão às novas tendências.
The S.Pellegrino World's 50 Best Restaurants tem a Nestlé, detentora da marca S.Pellegrino, como a master patrocinadora do concurso, não é interessante?
Forte abraco, Rafael
Ana Lucia Cunha Analista Salvador BA
10/05/2010
Um absurdo o restaurante "Locanda Della Mimosa", do Danio Braga, não aparecer no ranking. O Alex Atala que me perdoe, mas em termos de sabor e apresentação (além do local ser LINDO"), sou mais o Danio.