"Me dá mais um pouco de Jesus aí, por favor", clamou o Oscar Daudt.

Primeiro, pensei que ele estava tendo apenas fortes inclinações evangélicas, estimulado por tantos e tão bons vinhos. Demorei alguns segundos para entender o que ele queria: beber mais uma taça do ótimo Judas, um vinhaço argentino, comprado por nossa anfitriã na loja Lo de Joaquín Alberdi, em Buenos Aires, indicada a ela por mim.

A reunião daquela noite era resultado da gentileza da minha amiga Ana Brandão Magalhães. No ano passado, ela visitou a região de Tokaji, na Hungria, famosa entre nós por produzir um dos melhores vinhos do mundo, um joia adocicada pela qual tenho verdadeira paixão. Ela trouxe uma garrafa de alta categoria. E disse que queria compartir comigo.

Ana convocou outros amigos para o encontro: o Oscar Daudt, a Anna Vieira e a Auta Barreto.

Começamos os trabalhos com uma garrafa do Cave Geisse, um dos melhores espumantes nacionais. E daí em diante, a coisa ficou seríssima.

Primeiro sacamos a rolha de um Taittinger. Champanhe é sempre champanhe.

Com a boca ainda agradecendo pelas borbulhas, abrimos um belo Riesling alsaciano, o Gustave Lorentz 2007, levado por mim (garrafa que foi um presente do seu Augusto, do restaurante Málaga). Eu dei mole e não refrigerei suficientemente o vinho. Então, tivemos que colocar as taças dentro do balde de gelo, e a tática amenizou a falha no serviço.

Fizemos isso ao redor da mesa de centro da sala, onde foi acomodada uma série de delícias para acompanhar os primeiros vinhos: queijos (grana padano, de cabra frescal, gorgonzola, boursin), embutidos, pães etc etc etc... A água vinha com gelo e ramos de hortelã, ainda mais refrescante, como servido na loja da Grand Cru de Ipanema.

Depois seguimos para a mesa de jantar e brindamos novamente, desta vez ao sabor leve, cítrico e floral de um Alvarinho uruguaio da Bouza, trazido pela Ana da recente viagem aos vizinhos (na companhia do próprio Oscar). Ficou uma beleza com a salada de folhas com mussarela de búfala e morango, coberta com um gostoso vinagrete cuja receita me foi passada, mas tratei de esquecer (quem mandou beber tanto?). Da mesma maneira, foi boa companhia para a peixada com camarão na panela de barro, embora tenha se apagado um pouco diante dos temperos.

Para o jantar degustamos o tal Judas, que fez o Oscar confundir traído com traidor. Vinhaço, elegante, potente, concentrado, espesso. Caiu como uma luva na escolta do filé com cogumelos.

No fim, o Tokaji. Primeiro apreciei o vinho só, deliciando-me com seus aromas de caramelo, com suas notas florais, sua coloração âmbar. Uma delicadeza, uma maravilha. Depois brinquei de combinar com os doces, um pudim e uma espécie de torta de abacaxi, que foram boas companhias para o Tokaji. Mas eu prefiro ele brilhando em carreira solo.

E fui embora andando: muito feliz, e um pouco cambaleante...

Bruno Agostini
Blog Enoteca
Os vinhos
O jantar
Os participantes
Ana Brandão Magalhães Anna Vieira Oscar Daudt e Auta Barreto
Era só o começo, e o Oscar já estava desse jeito...
 
Comentários
Marcelo Carneiro
Advogado e escritor
Resende
RJ
21/04/2010 Eu e a Cláudia Merquior tomamos um Tokaji dia desses no - magnífico - restaurante Jardim Secreto em Penedo. Após um Blanquette de Limoux (Sieur d'Arques), um William Cole Sauv Blanc, um Petit Verdot da Ruca Malen, o Fabiano nos "arrebentou" de vez com esse ser de outro mundo, chamado Tokaji.
Maria Vargas
Documennta Comunicação
Rio de Janeiro
RJ
21/04/2010 Essa risada do Oscar está maravilhosa! E ilustra muito bem o texto e o clima delicioso q deve ter sido esse jantar!

Bjks.
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]