 A vinícola A Herdade São Miguel, empresa familiar localizada na bela e pitoresca Redondo, no Alentejo, iniciou suas atividades recentemente, em 2001. Eram míseros 10ha que foram, à medida em que a aceitação dos vinhos crescia, aumentando para 100ha próprios, acrescidos pela produção de mais 100 ha de viticultores contratados.
A vinícola teve um empurrão de respeito quando a Wine Spectator organizou uma prova de vinhos portugueses e seus exemplares foram brindados com invejável pontuação. Outro fã da produção da São Miguel é o pontuador-mor, Robert Parker, que se encantou com os vinhos e liberou a caneta.
Exportando para diversos países, inclusive o cobiçado mercado americano, a Herdade já tem uma linha de seus vinhos importados pela Grand Cru e em poucos dias estará entrando em campo, também, a Importadora Cantu, trazendo outras 2 linhas.
Alexandre Relvas Jr. (foto ao lado) é responsável pela enologia da casa, auxiliado pelo também enólogo Nuno Franco e dividem as tarefas. Mas Alexandre não esconde sua preferência pelo trabalho nos vinhedos. Aliás, esse trabalho não deve ser fácil, pois, curioso como é, atualmente conta com nada menos do que 23 diferentes castas plantadas. E a maior parte são castas autóctones portuguesas, que ele, sabiamente, prefere valorizar para manter a personalidade de seus vinhos.
Formado em Viticultura e Enologia em Bordéus (como ele mesmo diz), já teve uma experiência profissional na poderosa Casa Santos Lima, figurinha carimbada em nossas prateleiras.
A Importadora Cantu Quem pensa em Cantu, pensa logo em Viña Ventisquero, a gigante chilena que nos oferece os suntuosos Pangea e Vertice e os onipresentes Ventisquero. E se morar no Rio de Janeiro, pensa também em Jaque Barroso. Pois é, já está mais do que na hora de revisitar os conceitos. Primeiro, a carteira da Cantu, hoje em dia, conta com respeitados nomes como os vinhos da ícone argentina Susana Balbo, da uruguaia H.Stagnari, do sempre vencedor das Expovinis Château de Pourcieux, da duriense Quinta do Vallado e de muita coisa mais. E continuando essa expansão, a mais nova conquista é a Herdade São Miguel, que deve estrear no mercado em duas semanas. E uma dança das cadeiras fez a Cantu perder a Jaque, mas ganhar o Fernando Mourão, que era o representante da Paralelo 35.
Os novos vinhos serão de duas linhas da vinícola:
Ciconia: o nome latino quer dizer cegonha, a fértil ave abundante no Alentejo e que ilustra o moderno e atraente rótulo. Serão 4 os vinhos: o Ciconia Vinho Verde (Vinho Verde no Alentejo??? Eu já explico...), o Ciconia Rosé (Touriga Nacional, Syrah e Aragonês), Ciconia Tinto (com as mesmas castas do rosé) e o Ciconia Reserva (Aragonês, Touriga Nacional e Trincadeira);
São Miguel Descobridores: o Atlantico (Alicante Bouschet, Aragonês e Trincadeira); o Colheita Seleccionada (Aragonês, Touriga Nacional e Trincadeira); e o Reserva (Alicante Bouschet, Touriga Franca e Touriga Nacional)
A degustação Realizada no Terzetto Ristorante, contou com a presença do citado enólogo, do diretor comercial da Cantu, Thiago dal Pizzol e do novo representante da importadora no Rio de Janeiro, Fernando Mourão. A prova foi conduzida pelo sommelier João Souza que, entre um serviço e outro, também dava uma bicada e se deleitava com os vinhos.
Foram servidos apenas 3 dos vinhos que serão importados pela Cantu.
Ciconia Vinho Verde 2009: estranho encontrar um Vinho Verde em uma bodega do Alentejo, mas é claro que apenas a marca é alentejana, pois o vinho é elaborado por uma vinícola parceira na região do Minho, com as castas Avesso, Azal e Loureiro. Mais aromático do que um Torrontés, o exuberante nariz exibia toques florais, tropicais e adocicados que prometiam uma boca bem adamada. Mas só prometiam, pois o vinho era bem seco, fresco e agradável e seus escassos 10% de álcool permitiam ficar bebendo prazerosamente, esquecendo da vida e ouvindo as divertidas histórias da noite.
Ciconia Tinto 2009: elaborado com Aragonês, Syrah e Touriga Nacional, apenas 10% do vinho tem pequeno tempo em madeira, o que lhe confere um pouco mais de complexidade, sem deixar perceber o estágio. Tem ameaçadores 14,5% de álcool, mas eu só pude perceber isso quando li no rótulo, pois na boca se mostrava bastante equilibrado. Jovem, frutado e macio, recebeu 85 pontos da Wine Spectator. Você pode pensar: "Grande coisa!", mas apenas até saber que essa garrafa chegará ao consumidor final pela irrisória quantia de 25 reais. A se confirmar esse valor, é de fazer fila!
São Miguel dos Descobridores Reserva 2008: mas foi esse corte de Alicante Bouschet, Touriga Franca e Touriga Nacional que me entusiasmou, com seus florais e balsâmicos e uma carnuda boca cheia de frutos maduros e muita maciez. Mas vou deixar falar o sommelier João Souza, igualmente deslumbrado com o vinho. "Caramelo encantador, muito elegante, muita maciez, difícil de se encontrar no Alentejo, madeira equilibrada. Já me conquistou.", dizia ele enquanto colocava a mão no bolso para pegar a carteira e fazer um pedido. Nunca vi venda tão fácil!
Oscar Daudt |