 Corpinho de 18...
Em 1974, a família Dal Pizzol - de imigrantes italianos, é claro - criava a Vinícola Monte Lemos, no Distrito de Faria Lemos, em Bento Gonçalves. Mas pouca gente conhece essa vinícola pelo nome, já que Dal Pizzol é o nome corrente na boca dos enófilos. Desde o início, duas decisões estratégicas foram tomadas. A primeira foi de, ao contrário da maioria das vinícolas da região, elaborar unicamente vinhos finos, passando ao largo das castas não viníferas. A segunda foi a de não fazer uso de madeira para envelhecer os vinhos, a fim de sobressair as características das castas. E casta é o que não falta na carteira da empresa. Uma rápida visita ao site da Dal Pizzol mostra que são 13 as variedades oferecidas ao mercado, a grande maioria em vinhos varietais.
Eu nunca visitei essa vinícola, mas nosso antigo colunista, Reinaldo Paes Barreto esteve por lá e ficou encantado, não só com os vinhos, leves e frutados, mas especialmente com a estrutura enoturística, que inclui um restaurante especializado em cozinha colonial - como não poderia deixar de ser - e um museu a céu aberto, onde estão expostos os utensílios utilizados pelos imigrantes quando da sua chegada à serra gaúcha.
E para comemorar essa trajetória de sucesso, a vinícola lançou um novo vinho - apresentado à imprensa carioca no restaurante da Roberta Sudbrack - de produção exclusivíssima (são 3.350 garrafas numeradas) batizado de Dal Pizzol 35 anos, um caprichado e complicado corte de 45% Cabernet Sauvignon, 35% de Merlot, 10% de Cabernet Franc e 10% de Ancelotta, obra e graça do enólogo Dirceu Scottá que, apesar de jovem, comanda há quase 20 anos a produção de vinhos da Monte Lemos.
Como bem é a filosofia da Dal Pizzol, o vinho não passa por madeira. No entanto, repousou 24 meses em cubas de aço inox e mais 24 meses em garrafa. Quando comentei esse processo com a Luciana e o Lalas, a meu lado, eles duvidaram da minha informação e perguntaram: - 24 meses em inox fazendo o quê? Pacientemente, fui confirmar com o Dirceu o objetivo desse longo descanso e o que isso aportava ao vinho. Infelizmente, não entendi a resposta...
Outro detalhe curioso é que o vinho omite a safra, tanto no rótulo quanto no contra-rótulo. Mas na apresentação, ficamos sabendo que era da safra de 2005. Acredito que isso seja para que o número do ano não empane o brilho do grande 35 que aparece no rótulo. Mas é pura conjectura minha...
O vinho tem uma bela cor vermelho-púrpura, profunda, como se tivesse sido fermentado ontem. O nariz é enganador e muitos apostavam que o vinho tinha passagem por madeira, antes de saberem a verdade, devido aos notáveis aromas de café torrado. Na boca há uma explosão de frutas, muito frescor, boa persistência e bastante maciez.
Parabéns à Dal Pizzol que mostrou que apesar de balzaquiana, ainda desfila de biquini por aí exibindo seu corpinho de 18...
Oscar Daudt |