 Comendo pelas beiradas
O Projeto Rio Sol, em Petrolina, no Vale do São Francisco, era um empreitada da Dão Sul em parceria com a Expand. Por motivos sobejamente conhecidos, a Expand abandonou a sociedade e a Dão Sul continuou tocando sozinha o projeto. Pouco se ouviu falar nos últimos tempos sobre esse empreendimento, mas tal qual um come-quieto, a empresa foi sorrateiramente expandindo sua produção e a qualidade de seus produtos.
Durante o jantar oferecido pela Dão Sul, no Mr. Lam, tomei conhecimento de informações que não foram assim tão agradáveis para minha alma de gaúcho. É surpreendente saber que, atualmente, a ViniBrasil, empresa que produz o Rio Sol e algumas outras marcas no nordeste é a maior empresa exportadora de vinhos do Brasil, abocanhando uma fatia de 35% das exportações. É mole? Minhas conterrâneas empresas, há anos na batalha, não conseguem chegar nem perto dessa marca!
De boas-vindas, fomos brindados com o agradável Espumante Rio Sol Rosé Brut 2008, 100% Syrah, cuja cor não foi possível descobrir, pois o salão do Mr. Lam tinha paredes e cortinas vermelhas e era iluminado com lâmpadas quase vermelhas. Em seguida, uma boa surpresa: o Vinha Maria Reserva Selecionada 2007, um corte de Touriga Nacional (que predominava no nariz com seus aromas de violeta) e Cabernet Sauvignon, que encantou o jornalista Bruno Agostini, que em seu blog deitou elogios ao vinho: "...é elegante, aromático e equilibrado, tudo o que faltava aos tintos nordestinos. Sem dúvida é o melhor vinho sertanejo que já provei, muito acima dos demais."
Mas a noite não se resumia aos vinhos do São Francisco, visto que a Dão Sul é também proprietária, dentre outras marcas, da Quinta de
Cabriz, da Quinta das Tecedeiras e da belíssima Quinta do Encontro (foto acima), e nos foi dado conhecer alguns dos vinhos mais especiais produzidos por essas vinícolas. E o passeio por Portugal começou com Encontro 1 Bairrada 2007, corte de Baga, Merlot e Touriga Nacional, um vinho bem aromático, com bastante fruta, com bastante corpo e deliciosas especiarias na boca. E seguiu com o Four C Dão 2004, cujo nome estranho reporta às 4 castas que o compõem, uma de cada região de Portugal: Baga (Bairrada), Touriga Nacional (Dão), Trincadeira (Alentejo) e Tinto Cão (Douro). Mas, porém, todavia, contudo, no site português Nova Crítica eu consegui uma explicação diferente: "o nome Four C faz alusão aos quatros sócios/colaboradores da Dão Sul, a saber, Carlos Lucas, Carlos Moura, Carlos Rodrigues e Casimiro Gomes". Nomes à parte, eu me encantei com esse vinho denso, suculento, poderoso, maduro e com estrutura tânica que garante sua vida útil por um longo tempo. Pena que só foram produzidas 4 barricas dele...
E o desfile de grandiosidades continuou com o Vinha de Saturno Regional Alentejano 2006, 14,5% de álcool, corte de Trincadeira, Aragonês e Alicante Bouschet, que é outro vinho de grande intensidade, com grande equilíbrio mas ainda um pouco fechado... Foi o famoso infanticídio. Seguiu-se o último vinho de mesa, o maravilhoso Quinta das Tecedeiras Douro Reserva 2007, um corte duriense como deve ser, com o mínimo de 6 castas (Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tinta Amarela e Tinto Cão), 14,5% de álcool, 10 meses em carvalho francês, que resultou em aromas de frutas, flores e madeira, tudo muito bem integrado para o meu prazer.
E ainda tinha um Porto para o final, o Quinta das Tecedeiras Vintage Port 2007. Como eu passei a sobremesa, dei só uma bicadinha no vinho e não tenho muito a falar sobre ele.
Já quanto à harmonização, digamos que deixou a desejar. Eram todos vinhos muito poderosos, intensos, raçudos que passaram por cima da delicada cozinha do Mr. Lam. O sommelier Eder Heck bem que se esforçou, mas era complicado...
Oscar Daudt |