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De cabeça prá baixo

Eu estou passando por uma fase em que só tenho papilas para vinhos brancos. Sempre que posso escolher, escolho branco. E essa fase está tão duradoura, que já penso até tratar-se uma tendência irreversível. São tantas as castas a conhecer e os estilos a desfrutar que não estou vendo saída tão cedo. Talvez quando chegar aquela terça-feira de julho em que cai o inverno aqui no Rio, eu prefira de livre e expontânea vontade escolher um tinto. Por enquanto, vou levando com os brancos.

E dentre esses tenho passeado por diversas uvas: ora prefiro uma, depois escolho outra e, nos últimos meses, a Riesling tem sido o inquestionável objeto do desejo. E a minha praia são aqueles Rieslings bem minerais - de preferência com a chancela da Petrobrás - com muito corpo, bem secos, alcoólicos e cheios de fruta. Uma perdição!

Mas eu fiz essa introdução só para explicar a minha satisfação quando descobri que, no jantar oferecido pela Importadora KMM no Terzetto, havia nada menos do que três Rieslings para eu me fartar.

Como o bom da festa é esperar por ela, aguardamos a chegada dos meus preferidos experimentando um Bridgewater Mill Sparkling Brut, fresco e descompromissado, e um bem mais poderoso Jansz Premium Cuvée elaborado na Tasmânia. Tasmânia!!??!! Que bicho é esse? Bem, se a Austrália já é remota, o que dizer dessa ilha que fica ao sul de Melbourne? Ninguém conhece e lá não acontece nada... Ou melhor, não acontecia, pois agora os produtores tasmanianos(?) estão focando na elaboração de espumantes de qualidade e Ken Marshall, o antenado proprietário da KMM, está lançando diversos desses rótulos no Brasil. Mas, com certeza, terá uma árdua tarefa pela frente, pois não consigo vislumbrar o dia em que alguém vai chegar num restaurante e dizer: "Eu gostaria de um espumante da Tasmânia!" Mas eu gostei do Jansz, com extra-cremosidade e deliciosos aromas de nozes.

Com a excitação de uma criança na noite de Natal, eu estava esperando meus presentes e quando eles chegaram só pude dar gracias a la vida! O primeiro, Sandalford Premium Riesling 2005, riesling puro-sangue, foi o melhor da noite, disparado. Aliás, melhor da semana, do mês, etc... Que vinho maravilhoso, gasolina pura, aromatizada com flores e pêssegos, e uma potência e uma persistência que sei-lá-como resultavam em um vinho delicado, sutil. Se não custasse 169 reais, eu diria que era prá comprar de containers.

No segundo vinho, o Knappstein Three 2008, a Riesling era, na verdade, apenas uma coadjuvante para a estrela principal, a Gewürztraminer, que ainda trazia a tiracolo um pouquinho de Pinot Gris. O pobre-coitado foi prejudicado pela ordem de escalação, pois depois dos explosivos aromas do Sandalford, até café moído na hora passaria desapercebido. Porém, numa segunda leitura, se revelou um vinho com aromas florais, com tutti-frutti e com boa persistência.

O terceiro vinho, o meu velho conhecido Leasingham Magnus Riesling 2008, recolocou a minha casta favorita nos eixos. Poderoso, aromático, persistente e cítrico - e também com o patrocínio da Vale - era quase tão bom quanto o primeiro. Mas apenas quase...

Estou com aquela impressão difusa de que ainda foram servidos alguns tintos - acho que mais uns quatro - mas não posso garantir. Como falei no início, as papilas estavam com dedicação exclusiva aos brancos!

Oscar Daudt
Os vinhos
Bridgewater Mill Sparkling Brut
Origem: Adelaide Hills
Castas: 67% Pinot Noir, 33% Chardonnay
Álcool: 13%
Preço: R$98,00
Jansz Premium Cuvée
Origem: Tasmânia
Castas: 51% Chardonnay, 47% Pinot Noir, 2% Pinot Meunier
Álcool: 12%
Preço: R$169,00
Sandalford Premium Riesling 2005
Origem: Margaret River
Castas: 100% Riesling
Álcool: 12,5%
Preço: R$169,00
Knappstein Three 2008
Origem: Clare Valley
Castas: 74% Gewürztraminer, 21% Riesling, 5% Pinot Gris
Álcool: 13%
Preço: R$88,00
Magnus Riesling 2008
Origem: Claire Valley
Castas: 100% Riesling
Álcool: 12,5%
Preço: R$76,00
Brokenwood Pinot Noir 2006
Origem: Victoria
Castas: 100% Pinot noir
Álcool: 14%
Preço: R$139,00
Mitchelton Crescent 2004
Origem: Victoria
Castas: 44% Mourvèdre, 37% Shiraz, 19% Grenache
Álcool: 14,6%
Preço: R$108,00
Mitchelton Print Shiraz 2003
Origem: Victoria
Castas: 100% Shiraz
Álcool: 14,6%
Ebenezer 2003
Origem: Barossa Valley
Castas: 100% Cabernet Sauvignon
Álcool: 14,7%
Preço: R$228,00
O jantar harmonizado
Ostras Frutos do mar grelhados Ravioli de ossobuco
Lagostins ao molho de Champagne Pernil de cordeiro  
Os participantes
Ken Marshall, proprietário da Importadora KMM Robert Phillips, representante da KMM no Rio Gilberto Varejão, inaugurando em maio o wine bar DeeVine, no Shopping Barra Garden
Antonio Dantas O consultor Paulo Nicolay
Duda Zagari, da Confraria Carioca Roger Khouri, do Esplanada Grill
Comentários
Eugênio Oliveira
Enófilo
Brasília
DF
16/04/2010 Caro Oscar,

Há muito tenho tido uma enorme preferência pelos brancos, de cada 05 vinhos que compro 04 são brancos.

A KMM vende um vinho australiano fantástico chamado The Florita Riesling, do produtor Jim Barry, você já provou?

Eugênio,

Esse ainda não. Tomara que seja do tamanho do meu bolso!

Abraços, Oscar
Eduardo Amaral
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
16/04/2010 Caro Oscar,

A KMM segue indiscutível em se tratando de vinhos australianos.

Sobre Riesling, já que anda de amores pela casta, sugiro não deixar de provar os Selbach-Oster (Vinci) e Domdechant Werner (Mistral). Para o dia a dia, vá de Cono Sur. O Leasingham é ótimo e uma pechincha (nos EUA).

Finalmente, sobre a Tasmânia, além de demônios e vinhos, há uma onda monstruosa, para aqueles que se consideram filhos de Netuno: http://www.surfline.com/video/featured-clips/giant-shipsterns-bluff_18700

Aloha!
==
Eduardo Amaral
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
18/04/2010 Caro Oscar,

Os vinhos australianos poderão ocupar local de destaque no ranking de importacões de vinhos do Brasil a curto prazo.

Austrália está com excedente de producão de 100 milhões de caixas de vinho ao ano, podendo chegar ao dobro em dois anos, nas atuais taxas de producão. Este excedente é o equivalente ao total de vendas anuais ao Reino Unido. É o que ressalta o relatório "Wine Retructuring Action Agenda", elaborado pela Federacão e Associacões de Produtores e Plantadores australianos, distribuído no mes de Novembro passado, conforme artigo de Tyson Stelzer publicado na WS do mes de Marco 2010.

Este excedente de uvas e vinho está colocando ladeira abaixo os precos, desvalorizando a marca Austrália, que hoje é vista como de vinhos baratos e simples. O relatório desafia os produtores a uma drástica reforma no setor.

Com a queda de vendas no Primeiro Mundo, este excedente estará sendo comercializado nos países de economia emergente, os BRIC - Brasil, Russia, India e China.

A imagem australiana assemelha-se à brasileira: jovem, moderna, esportiva, saudável, hedonista, descontraída, alegre, que com bom trabalho de comunicacão será incorporada como a brasileira, de língua inglesa, perdendo a pompa e circunstância do luxo, ora em voga.

Mãos à obra Mr.Ken, "Australia needs you". "We need affordable wines".

Forte abraco,
Rafael
João de Souza
Sommelier
Rio de Janeiro
RJ
18/04/2010 Deixo aqui registradas minhas impressões sobre os vinhos da KMM, que têm lugar cativo na minha carta. Comentando o evento, gostaria de falar, em especial do frescor do Bridgewater Mill Sparkling Brut e o maravilhoso equilíbrio do Pinot Noir Brokenwood, que na minha opinião não possui os aromas frutados, um tanto enjoativos dos Pinot Noirs do Novo Mundo.

E por último, e não menos importante: Oscar, algo pessoal contra mim? Dei o melhor de mim no jantar, procurando oferecer um serviço impecável para que os vinhos fizessem seu papel e pudessem ser apreciados em toda sua plenitude e não fui agraciado entre os participantes? A sua ostra não estava a contento? (rsrsrsrsrsrs)

Abcs

Caro amigo João,

Como se não bastassem sua competência e sua simpatia, você ainda por cima é gaúcho! Como poderia eu ter algo contra? Desculpe o lapso!

Abraços,
Oscar
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]