 Um mega-evento
Tudo foi mega no Encontro Mistral! A começar pela quantidade de expositores, nada menos do que a impressionante marca de 111 produtores. Foi mega na imbatível qualidade dos vinhos em degustação, a maioria deles objeto de cobiça dos enófilos e que davam a vontade de imitar o expositor na foto ao lado. O público também era mega e apesar do mega-preço de 290 reais e da quantidade de estandes para visitar, muitas vezes era difícil acessar o produtor, escondido atrás de uma muralha humana. Eu, por exemplo, desisti de ser servido no estande dos Champagnes Ayala, pois o expositor, mais parecendo um distribuidor de panfletos da Av. Rio Branco, servia com as duas mãos e mesmo assim não dava conta da insaciável sede dos apreciadores.
A única coisa que não era mega, era a duração de 4 horas e meia, das 17:00 às 21:30. Para tantos estandes e tantos vinhos a nos chamar, o tempo era irrisório. Eu ouvi vários comentários sobre o horário e muitas sugestões de iniciar o evento às 15 horas, às 14 horas, às 13 horas... Um enófilo mais afoito não se conformava de o evento não alvorecer às 8 horas da manhã!
Eu, ingenuamente, fiquei muito tempo preso no trânsito de fim de tarde do Rio de Janeiro e perdi uns bons 45 minutos do exíguo e precioso tempo disponível. Somando-se a isso minhas atividades paralelas de fotografar os vinhos, os produtores, os participantes, conversar com os amigos, trocar idéia com os expositores e anotar os vinhos experimentados, sobrou pouco tempo para degustar e das 111 vinícolas em exposição, visitei apenas 17!
Mas não há do que reclamar, pois pude conhecer vinhos de fina estampa. Dos brancos, os Riesling da alsaciana Dopff au Moulin e as castas não tão óbvias da Livio Felluga, especialmente o illivio 2007, corte de Pinot Bianco, Chardonnay e Picolit, com 12 meses de carvalho, foram campeões.
Mas foi no lado dos tintos que a coisa pegou fogo, com excepcionais rótulos de alta octanagem. Posso não ter tempo para nada, mas nunca deixo de experimentar os Amarones da Masi. Mas uma região que rivaliza em meu paladar com esses potentes, complexos, e quase gelatinosos vinhos do Vêneto, é a nova sensação espanhola, o Priorato. E dessa última experimentei os grandes vinhos da Clos Figueras e da Mas Doix. Eram vinhos para comer de garfo! Inesquecíveis também foram os rótulos da Alion, de Ribera del Duero, e da Pintia, de Toro, ambos com o DNA da Vega Sicilia. Vinhos suntuosos, sedosos e intensos, atraíam os participantes como moscas no mel.
O Fattoria di Fèlsina Fontalloro 2005 era soberbo. Atualmente, a expressão Supertoscano anda bastante desgastada, com qualquer produtor elaborando vinhos fora do padrão e os comercializando com esse apelido. Mas o Fontalloro é a quintessência dessa adjetivação, sendo 100% Sangiovese, porém cortado de 3 terroirs: um do Chianti Classico e os outros dois do Chianti Colli Senesi, numa harmonia admirável. Com um corpaço invejável, taninos deliciosos, muita fruta e excepcional elegância foi um dos meus grandes momentos no evento.
Finalmente, a Seghesio Vineyards, da Califórnia, e seus concentrados Zinfandel foram uma bela descoberta. Tanto o Cortina 2006, quanto o Old Vine 2006 (elaborado de vinhas de 115 anos!) atingiram em cheio o meu gosto, com muita estrutura, frescor, maciez e fruta.
Oscar Daudt |