Matérias correlatas
ABS

Surpreendente resultado

A casta Syrah é a marca registrada do Rhône, principalmente do Norte, onde é a única casta tinta permitida nas melhores denominações, tais como Côte-Rotie, St.-Joseph e Hermitage. Já no sul do Rhône, o usual é encontrá-la cortada com Grenache, Mourvèdre e Cinsaut. Norte ou sul, no entanto, os tintos do Rhône são reputados como alguns dos grandes vinhos do mundo.

Devido ao sucesso obtido nessa região, a Syrah rapidamente se espalhou pelo Novo Mundo, começando pela África do Sul e Austrália, onde foi rebatizada como Shiraz. Nesse último país, a casta se adaptou de forma admirável e tornou-se a principal variedade de lá, onde são produzidos alguns dos mais espetaculares exemplares de Shiraz aveludados, carnudos, intensos e... caríssimos. No Chile e na Argentina já existe uma grande disseminação dessa casta, produzindo vinhos que melhoram a cada safra.

No entanto, enquanto os rótulos do Rhône são endeusados pelos paladares mais tradicionais e a Austrália reina absoluta na conquista dos enófilos mais parkerizados, o resultado da degustação Syrah, destaques dessa extraordinária casta, conduzida por Roberto Rodrigues, na ABS do Flamengo, não coroou nem uma nem outra região e teve um final surpreendente!

A degustação, realizada às cegas, apresentou 8 exemplares de alguns dos melhores vinhos do mercado, com preços que variavam desde 130 reais até a estonteante quantia de 1.330 reais! Haja bolso... Roberto explicou que essa era a 7ª edição da degustação de Syrah que ele promovia - cada edição com diferentes rótulos - e que já estava acostumado a ver o Rhône virar saco de pancadas da Austrália. Mas nem ele podia prever o resultado que o deixou de queixo caído.

Ao final da prova, cada participante indicou, ainda às cegas, quais os dois melhores vinhos e qual o, digamos, menos melhor... E a animação era tanta - depois de tantos vinhos - que a sala mais parecia um estádio de Copa do Mundo, com os participantes torcendo pelos seus rótulos favoritos. Só faltaram as vuvuzelas!

No quesito menos melhor, o representante do Rhône, o Crozes-Hermitage de Jean-Luc Colombo, Les Fées Brunes 2006, reinou absoluto e recebeu 8 votos (dos 18 votantes), deixando na poeira seus competidores ao nada louvável título.

Já no lado virtuoso da classificação, enquanto o orientador e muitos dos participantes apostavam nos rótulos australianos, quem papou o título foi nada mais, nada menos, do que o argentino O. Fournier Syrah-Malbec 2005, que recebeu honrosos 15 votos dos participantes. Incompreensivelmente, esse vinho tem como moto "vinho típico e tradicional da região", que está estampado em destaque no rótulo principal. Péra aí! Típico e tradicional de qual região?!? Mendoza? Algo não está batendo direito...

Fora esse deslize, eu gostei muito desse vinho e fui um dos 15 votos que ele recebeu. Em meio ao desequilíbrio do vinho francês e dos exageros exagerados dos rótulos australianos, a complexidade e elegância do argentino, com deliciosos aromas florais, de especiarias, caramelo e muita fruta, foi uma festa para o paladar.

Destaque também para os 2 vinhos que ficaram empatados em segundo lugar: o The Armagh 2005, o tal do australiano de 1.330 reais, e o também australiano escurecido e suculento Amon-Ra Shiraz 2008.

O resultado completo da classificação, com o saldo dos votos positivos menos os votos negativos, está exibido na tabela ao lado.

Oscar Daudt
Os vinhos
Les Fées Brunes 2006
Produtor: Jean-Luc Colombo
Região: Croze-Hermitage, França
Álcool: 13%
Importador: Decanter
Preço: R$174,20
Tanagra Syrah 2005
Produtor: Villard
Região: Casablanca, Chile
Álcool: 14%
Importador: Decanter
Preço: R$278,75
O. Fournier Syrah-Malbec 2005
Produtor: O. Fournier
Região: Mendoza, Argentina
Álcool: 14,5%
Importador: Vinci
Preço: US$159,50
Biography 2005
Produtor: Raka
Região: África do Sul
Álcool: 14,5%
Importador: Decanter
Preço: R$130,50
Woodcutter's Shiraz 2008
Produtor: Torbreck Vintners
Região: Barossa Valley, Austrália
Álcool: 14,5%
Importador: Grand Cru
Preço: R$133
Amon-Ra Shiraz 2008
Produtor: Glaetzer
Região: Barossa Valley, Austrália
Álcool: 14,5%
Importador: Grand Cru
Preço: R$390
The Armagh 2005
Produtor: Jim Barry
Região: Claire Valley, Austrália
Álcool: 15,5%
Importador: KMM
Preço: R$1.330
EQ Syrah 2007
Produtor: Matetic
Região: San Antonio, Chile
Álcool: 14%
Importador: Grand Cru
Preço: R$140
Vinho extra
Cordillera Reserva Privada 2007
Produtor: Miguel Torres
Região: Valle Central, Chile
Importador: Reloco
Os participantes
Roberto Rodrigues conduziu a degustação Cláudia Dacorso Sônia Gonçalves e Ângelo Fatorelli
Ricardo Salomão Myriam Avzaradel Antônio Dias de Moraes
Luiz Felipe Vilela
Sergio Alejandro Guglielmo Cláudia Couto
Roberto e Ana Maria Magalhães Cláudia Marques e Carlos Marinho Mário Gonçalves
O serviço foi conduzido pelo sommelier Milton Nascimento Platéia atenta
 
Comentários
Niels Bosner
Importadora Hannover
Porto Alegre
RS
27/06/2010 Olá, Roberto Rodrigues,

Na próxima degustação de Syrah do Novo Mundo, não esquece de ligar pro Jorge e a Rose. Temos Syrah da Bodega SERRERA, RUCA MALEN e da VIU MANENT o SECRETO SYRAH e o SINGLE SYRAH do Olivar.

Abraço,
Niels Bosner
João Alfredo de Mendonça
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
27/06/2010 Apenas para correção, o preço do maravilhoso O.Fournier é US$159,50.

Obrigado, já corrigi...

Abs, Oscar
Eugenio Oliveira
Enófilo
Brasília
DF
28/06/2010 Caro Oscar,

O The Armagh Shiraz (1996), do Jim Barry, é o melhor vinho do novo mundo que já tomei. O 2005 com certeza ainda não chegou ao mesmo patamar de evolução, mas vai chegar.

O que provavelmente não vai chegar é o meu bolso, para poder pagar R$1.330,00. Quem tiver a chance de trazê-lo dos EUA, vai pagar em torno de 150 dólares (+/- R$ 285,00).
Patrícia Moreira
Enófila
Rio de Janeiro
RJ
28/06/2010 Oscar,

Esperei ansiosamente sua matéria, pois com um resfriado daqueles, não pude participar...

Roberto,

Só me resta esperar a próxima edição. Pela alegria da Claudia na foto, posso imaginar que a palestra/degustação foi maravilhosa. beijos!

Patricia
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
29/06/2010 Caro Oscar,

Pode ter sido a intenção de Roberto Rodrigues e da ABS-Flamengo, a promoção de um agradável encontro de enófilos para a discussão do tema- Syrah,destaques desta extraordinária casta, não o confronto dos incensados Côte Rotie, e dos outstanding e classic Aussies, contra os amigos da Shiraz.

O clima da Copa levou os presentes a esta inusitada classificação, que questiono pela amostragem, critério de avaliação e julgamento. O vinho vencedor é um corte de 50% Syrah e 50% Malbec!!

Aos enófilos aficcionados pela Syrah indico acessarem o site: www.syrah-du-monde.com, onde tomarão conhecimento da competição internacional entre os melhores Syrah do mundo, os resultados das competições dos anos de 2007, 2008, 2009, 2010, as regras, o juri, os critérios de avaliação, a seleção dos painéis, refletindo a intenção principal de fundamentar a Syrah no mundo, sua diversidade, e sua alta qualidade. Syrah du Monde tem a aprovação oficial do Ministério da Economia, Finanças e Indústria da França.

Posso sugerir outra degustação para após a Copa? A Riesling no Mundo!!

Forte abraço,
Rafael
Jorge Barbosa
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
30/06/2010 Oscar.

Syrah com Malbec contra Syrah é covardia! Não vale a comparação..
Roberto Rodrigues
ABS-Rio
Rio de Janeiro
RJ
01/07/2010 Oscar,

Em primeiro lugar deixo meu agradecimento pela excelente matéria.

Apenas faria uma correção de que não fiquei "de queixo caído" com o resultado. Conhecia o vinho vencedor e por saber de sua qualidade é que o incluí na degustação. Embora seja um corte de 50% Syrah e 50% Malbec, a casta que predomina e se destaca é a Syrah. Por isso foi incluido (lembro que no ano passada o The Reserve da Yalumba era um corte de 2/3 de Cab. Sauvignon e 1/3 de Shiraz e não havia indícios no vinho da CS!). É um vinho típico pela influência do "terroir" mendocino no resultado final.

Grande abraço,
RR
Roberto Rodrigues
ABS-Rio
Rio de Janeiro
RJ
01/07/2010 Caro Rafael,

Trata-se, como dito na matéria, da sétima edição e sempre os Syrah do Rhône Setentrional ficaram no final da preferência da grande maioria dos presentes (sou sempre uma excessão). O que nos faz concluir que o enófilo carioca não gosta dos tradicionais vinhos do Rhône, talvez até mesmo por sua "rusticidade" (o que considero um mérito).

Já o Syrah do mundo é um grande e sério concurso, mas com os problemas de todos os concursos: avaliam a situação naquele momento.

Já coloquei por três anos vencedores do Syrah do Mundo e eles nunca ficaram nem em primeiro nem em segundo lugar na avaliação dos enófilos presentes. E fica a pergunta: não temos condições de avaliar o que chega aqui e que aqui degustamos? Precisamos ficar atrelados às opiniões do exterior?

Agradeço sua sugestão e digo que também já fiz em "petit comitee" uma Riesling no mundo. E sabe que Canadá se destacou? E o Chile, quem diria, não ficou numa situação ruim!

Bons vinhos! Santé!
RR
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
03/07/2010 Caro Roberto,

A geração de enófilos que tomou contato com o vinho a partir da década de 90, tem as referências das caracterizações sensoriais formadas pelos vinhos do Novo Mundo, adjetivados hoje de ”parkerizados”: se tintos, encorpados, concentrados, amadeirados, com taninos resolvidos, de baixa acidez e de alto teor alcoólico, os “fruit bombs”, os “brand wines”.

Aqueles enófilos que vivenciaram estas experiências em décadas anteriores, quando os acessos resumiam-se nas importações de poucos exemplares do Velho Mundo e a emergentes nacionais, as referências das caracterizações sensoriais eram formadas, se tintos, em vinhos de médio corpo, frutados, levemente amadeirados, com taninos presentes, com alta acidez e teores alcoólicos equilibrados, características que hoje nomeia-se de “rusticidade”, mas apresentando nuances, sutilezas, longa permanência em boca, complexidade e elegância inigualáveis, os “land wines”.

Constata-se daí, pela recente adesão social ao estudo da vitivinicultura, a preferência pelos vinhos do estilo Novo Mundo nas degustações, e também para consumo, seja no Rio ou qualquer outra localidade, além da análise psicológica do reconhecimento da sensação de prazer pela doçura, vivenciada pela lembrança da calmante e analgésica mamadeira materna.

Reconheço sua atuação na ABS-Rio como educador e formador de opinião, que tem de utilizar as ferramentas ao seu alcance, para com pragmatismo, levar os conhecimentos da vitivinicultura àqueles que o procuram e às instituições.

Já os enófilos de nível avançado devem expandir seus conhecimentos em vivências múltiplas, mesmo distantes de suas realidades, para que possam formar um panorama contemporâneo e globalizado do mundo do vinho. Daí minha indicação do site syrah du monde em meu comentário.

Nós, americanos, temos o privilégio da constituição multicultural de nossas sociedades, que promove a vivência em um único território, do amplo conhecimento humano. O vinho é um dos vetores da aceitação das diversidades, da erradicação dos preconceitos e da valorização da originalidade.

Como o subliminar do artigo do Oscar, e de meu comentário, é o futebol e a Copa do Mundo, palpitei a vitória da Alemanha neste certame, na sugestão da degustação dos vinhos da uva Riesling no mundo, em sua homenagem.

Admiro e valorizo o trabalho desenvolvido pelas ABS’s na formação de profissionais do setor, na divulgação da cultura vitivinícola, e em acolher, agregar e interligar os enófilos de nosso país.

O vinho faz amigos, considere-me mais um!

Forte abraço,
Rafael
Marco Serlini
Representante
Milano
Itália
04/07/2010 Boa tarde.

Como è que nao tem uma rotula Italiana nos syrah que vc experimentou??
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]