Matérias correlatas
França
Mistral

Um evento puro-sangue

O convite chegou por e-mail, discreto, sem grandes fanfarronices. Ao ler a descrição do evento, custou-me alguns segundos até cair a ficha: seria um dos mais impressionantes acontecimentos do ano, oferecido pela Importadora Mistral, a seus convidados, no Jockey Club da Gávea.

Tudo era discreto, por sinal! Eram 7 estações de degustação, em um ambiente pelado, nada de decoração, com um buffet burocrático. Mas penso que isso era estratégia para ressaltar o que realmente interessava: a grandeza dos vinhos. Eram 9 dos mais importantes Châteaux de Bordeaux, todos apresentando seu vinho principal, muitos exibindo também o segundo vinho (ou como preferem os franceses, a segunda etiqueta) e o Cos d'Estournel ultrapassando todos os limites e oferecendo nada menos do que 5 rótulos. Em ordem alfabética, lá estavam:

  • Château Branaire-Ducru
  • Château Cos d'Estournel
  • Château Kirwan
  • Château Lagrange
  • Château Langoa Barton
  • Château Léoville Barton
  • Château Les Ormes de Pez
  • Château Lynch-Bages
  • Château Phelan-Ségur

    Uma lista para ninguém botar defeito e para deliciar os sentidos. Os convidados eram poucos e, com isso, foi possível degustar os vinhos com calma e conversar à vontade com os produtores. Por sinal, a pergunta padrão, quebra-gelo, sobre as castas de cada vinho, era normalmente recebidas com desimportância. Alguns produtores nem sabiam quais eram; outros discorriam sobre as uvas plantadas na propriedade; e os que sabiam responder, o faziam como se estivessem conversando com um iconoclasta. Definitivamente, esse não é o marketing da região.

    E falar o quê sobre vinhos desse calibre? Que são elegantes e complexos? É chover no molhado... Todos eram maravilhosos. E muitos eram bem mais do que isso.

    Bem, qual é o louco que vai a um evento com vinhos de Bordeaux e procura por vinhos brancos? Acho que só eu mesmo... E lá estavam, para minha satisfação, dois azarões, do Château Cos d'Estournel que avançaram por fora e chegaram bem colocados no meu paladar. Ambos eram o clássico corte de Sauvignon Blanc e Sémillon e excediam em qualidade, delicadeza e, claro!, elegância.

    Mas a tarde era mesmo dedicada aos tintos. E o entusiamo dos presentes era quase material, com as conversas centradas nos vinhos degustados e todos tinha a sua pule de 10 para recomendar. Para escolher os que mais me agradaram, tive de recorrer ao photochart, pois os vinhos cruzaram amontoados pelo disco final. Decidi, por um milésimo de segundo, optar pelo Cos d'Estournel 2001 e o Château Lynch-Bages 2005, mas isso é uma injustiça, pois qualquer rótulo, mesmo os segundos vinhos das safras menos favoráveis, fizeram uma corrida de vencedor!

    Foi realmente um evento grandioso, inesquecível e inesperado... Como bem falou a Yoná Adler, representante da importadora no Rio de Janeiro: "Quando que, há alguns anos, iríamos imaginar que, no meio da tarde de um dia qualquer, os enófilos cariocas estariam degustando rótulos tão clássicos e especiais?"

    Oscar Daudt
  • Château Kirwan
    Margaux
    Charmes de Kirwan 2006
    2° vinho
    Château Kirwan 2006
    Grand Cru Classé
    Yann Schÿler, proprietário do Château e presidente da Schröder & Schÿler, négociants
    Château Phelan-Segur
    Saint-Estèphe
    Frank Phélan 2006
    2° vinho
    Véronique Dausse, diretora geral Château Phélan Ségur 2005
    Château Cos d'Estournel
    Saint-Estèphe
    Goulée Blanc 2005
    2° vinho branco
    Cos d'Estournel Blanc 2007 Valentine Bourrié, diretora comercial
    Goulée Medoc 2004 Les Pagodes de Cos 2001
    2° vinho
    Cos d'Estournel 2001
    Grand Cru Classé
    Châteaux Léoville Barton e Langoa Barton
    Saint-Julien
    Château Langoa Barton 2004
    Cru Classé
    La Réserve de Léoville Barton 2007
    2° vinho
    Château Léoville Barton 2006
    Cru Classé
    Lilian Sartoris Barton, proprietária dos dois châteaux
    Château Branaire-Ducru
    Saint-Julien
    Duluc de Branaire-Ducru 2006
    2° vinho
    Château Branaire-Ducru 2005
    Grand Cru Classé
    Château Lagrange
    Saint-Julien
    Les Fiefs de Lagrange 2005
    2° vinho
    Château Lagrange 2005
    Grand Cru Classé
    Bruno Eynard, diretor-geral e enólogo
    Châteaux Lynch-Bages e Ormes de Pez
    Pauillac e Saint-Estèphe
    Château Haut-Bages Averous 2002
    2° vinho
    Château Lynch-Bages 2005
    Grand Cru Classé
    Château Ormes de Pez 2006
    Cru Bourgeois Excepcionnel
    Comentários
    Yann Lesaffre
    Mr. Lam
    Rio de Janeiro
    RJ
    17/09/2010 Foi uma pena não poder comparecer à degustação do meu xará. Infelizmente cheguei da Equipotel onde dei uma palestra muito tarde. Mas parabéns à Mistral pela iniciativa, os comentários foram os melhores possíveis.

    Obrigado pelo convite, Yoná, na próxima estarei lá.
    Roberto Rodrigues
    ABS-Rio
    Rio de Janeiro
    RJ
    17/09/2010 Oscar,

    Antigamente vc colocava fotos dos participantes...

    Roberto, eu continuo fazendo isso. Mas desta vez, como o tempo era escasso (eu cheguei atrasado por conta de um engarrafamento monumental) e os vinhos tão preciosos, preferi me concentrar nos vinhos e nos produtores...

    Abraços, Oscar
    Ronaldo M. Vilela
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    17/09/2010 Oscar

    Pois eu me dei por satisfeito com a foto da diretora comercial e das garrafas dos vinhos!!!

    Ronaldo M. Vilela

    Bonita, não é mesmo? hehehehe...

    Oscar
    Didu Russo
    Colunista de vinhos
    Carapicuíba
    SP
    17/09/2010 Oscar amigo, saúde.

    Gosto muito da qualidade e limpeza de seu material, com fotos muito boas, corretíssimo.

    Parabéns. Bacio.

    Didu,

    Partindo de você, esse elogio vale o dobro.

    Abração, Oscar
    Eugênio Oliveira
    Enófilo
    Brasília
    DF
    17/09/2010 Grande Oscar,

    Acho que assim como você, eu iria direto procurar os brancos, ainda mais sabendo que tinha Cos D´Estournel branco. Esse é um dos brancos de Bourdeaux, junto com Pavillon Blanc, que mais tenho curiosidade de conhecer. Meu amigo João Baptista, gerente da Mistral/Brasília, esteve presente nesse evento em SP e falou maravilhas do Cos branco. Fiquei salivando.

    Um abraço.
    Eugênio.

    O Cos d'Estournel branco era fantástico e o segundo branco - o Goulée - também não ficava atrás em matéria de elegância e opulência. Você perdeu um grande evento...

    Abraços, Oscar
    José Paulo Schiffini
    Enófilo da velha guarda
    Armação de Búzios
    RJ
    18/09/2010 Estava em Búzios, até estranhei quando recebí o convite por e-mail, assinado por alguém da Mistral que desconhecia; depois o Guilherme me confirmou que não era trote. Confirmei a presença e fui exclusivamente ao evento e, logo depois, voltei para cá de onde escrevo.

    Todos conhecem o que penso sobre os vinhos de Bordeaux:

    1) O melhor vinho que já provei na vida foi um Petrus 82.

    2) Os vinhos Top são maravilhosos, mas são muito caros; já os que não são caros não são tão bons... Esta ideia, eu divido com o Roberto Rodrigues da ABS-RJ.

    Cada vez mais eu estudo e entendo o por que disso, pois Bordeaux floresceu durante os trezentos anos da ocupação inglesa na Aquitânia, época de reis e da nobreza... Havia até sindicatos Burgueses... Cru Bourgeois, etc... Leiam um pouco sobre a história dos vinhos de Bordeaux.

    Homero Sodré, meu amigo, embaixador de Bordeaux, vai dar um curso temático sobre Bordeaux, ainda este mês, não percam!

    Não é a toa que vários descendentes de irlandeses, são prorietários hoje em dia de châteaux e pelo menos 3 lá estavam.

    3) Acho o "discurso" sôbre Terroir, bastante exagerado. Tudo eles "Les Bordelais" justificam pelo Terroir, quando o Terroir da Borgonha é muito mais estudado; quando deveriam valorizar o trabalho de Emily Peynot para os avanços nos processos de viti-vinificação, durante os anos 80 e que permitiram o desabrochar dos vinhos do Novo Mundo...

    São marketeiros dum terroir que não é lá essas coisas... Essa opinião, infelizmente para os que discordam de mim ou acho que gosto de fazer apenas polêmicas é suportada por ninguém menos que Mario Geisse...

    4) O que a "tchurma" de Bordeaux sabe mesmo fazer é Assemblagem de vinho, procurem um bom monovarietal em Bordeaux...Tá dificil, né?

    Nem vinho de assemblagem de castas, como os portugueses eles sabem fazer bem.. Passo a palavra para ouvir o que Michel Rolland tem a responder... Ah! ele só tem nariz, no resto é igual a qualquer enólogo de qualidade do Brasil.

    Por isso que muitas vezes para desconsertar o proprietário ou o enólogo de Bordeaux, que se esconde atrás de seu nariz empinado eu começo batendo..., que nem o Serra na Dilma (não pode deixar solto pois o marketing deles auto alimenta o preço dos vinhos para cima e eu quero o contrário, junto com Ciro da Mistral e toda torcida do Flamengo...).

    Dito isto, sem agredir ninguém , mas colocando meus pontos de vista para vocês pensarem, só nos resta elogiar a Mistral que conseguiu numa tarde cinzenta trazer ao Rio de Janeiro, no restaurante Vitória do Jockey, nove Chateaux, sendo dois deuxièmes cru, tres troisièmes crus, um quatrième, um cinquième e dois grand bourgeois da velha classificação do tempo, 1855, que o Brasil era governado por Dom Pedro... mas os ingleses diziam que era baseada em "grana", ups.. digo qualidade.

    Claro todos os vinhos deviam ser e, eram excelentes.

    Mas os que mais gostei para comprar de Caixa foram: Château Langoa Barton 2004 ainda com aromas florais; o nome Langoa apenas para felicidade da Coroa vem de "Les anglois"... e o Château Phélan-Segur 2005 de uma elegância suprema.

    Dos brancos, minha esposa preferiu o segundo vinho o Goulée, pois para ela o primeiro estava "barricado" demais.. eu fico com a proprietária que quando perguntei se bebiam vinhos brancos em Bordeaux, ela se aborreceu e disse que preferia Borgonha... Cause Le Terroir...

    Schiffini sempre alerta contra a autopromoção da nobreza decadente. Salud!
    Gilda Arantes
    Professora universitária
    Rio de Janeiro
    RJ
    18/09/2010 Inesquecível! Excelente evento.
    Rafael Mauaccad
    Enófilo
    São Paulo
    SP
    19/09/2010 Caro Oscar,

    A amostra destes excepcionais vinhos de Bordeaux, que a Mistral apresentou em São Paulo e Rio, uma vez mais surpreendeu e emocionou os enófilos participantes.

    Os vinhos de Bordeaux são a referência de qualidade e hedonismo para a vitivinicultura mundial. A tipicidade, equilíbrio e elegância únicas, está no resultado da interação do terroir bordalês, com os melhores clones das vinhas das castas bordalesas, e o conhecimento e experiência de vitivinicação dos produtores e enológos locais.

    Bordeaux colheu no ano de 2009 uma safra excepcional, avaliada pelos críticos especializados entre 95 e 100 pontos, pela degustação de amostras de barricas. Algumas citações:

  • É raro encontrar em vinhos jovens tanta concentração de fruta madura e poderosos taninos, em harmonioso equilíbrio com a acidez e alcoolicidade.
  • A safra de 2009 certamente superará as marcas das safras de 2000 e 2005, e muitos a estão comparando com 1982.
  • É o vinho do Novo Mundo com a chancela das vinícolas de Bordeaux.

    Compilei da revista Wine Spectator June 30, 2010 a avaliação das amostras de barrica elaborada por James Suckling, destes mesmos vinhos apresentados nesta degustação, para safra 2009, e surpreenda-se com a alta pontuação alcançada:

  • 4o Cru Chateau Branaire-Ducru 92-95 pts
  • 2o Cru Chateau Cos d'Estornel 97-100 pts
  • 3o Cru Chateau Kirwan 92-95 pts
  • 3o Cru Chateau Lagrange 91-94 pts
  • 3o Cru Chateau Langoa Barton 90-93 pts
  • 2o Cru Chateau Léoville Barton 92-95 pts
  • Cr.B.E. Chateau Les Ormes de Pez 92-95 pts
  • 5o Cru Chateau Lynch-Bages 96-99 pts
  • Cr.B.E. Chateau Phélan-Ségur 90-93 pts

    Espero que as importadoras brasileiras já tenham confirmado suas cotas desta safra, pois pelo que noticia-se, já estao esgotadas, compradas pelos chineses, outros asiáticos e árabes.

    Que os vinhos de Bordeaux sejam acessíveis a todos brasileiros!

    Abraços,
    Rafael
  • Ronaldo Borgerth
    Enófilo
    Rio de Janeiro
    RJ
    20/90/2010 "Os vinhos Top são maravilhosos, mas são muito caros; já os que não são caros não são tão bons... "

    Perdão Schiffini, mas seu comentário só se adequa ao mercado nacional, onde vinhos que custam 20 euros em Bordeaux chegam custando mais de 300 reais por aqui.

    É muito fácil ir a Bordeaux e comprar excelentes vinhos na faixa de 10 euros. O problema é o preço cobrado aqui, muitas vezes abusivo. Além disso, aqui chegam mais vinhos pelo marketing do que pela qualidade. Ai fica realmente difícil achar algo bom e barato.

    Não entendi também a crítica quanto ao Terroir. Se nossas vinícolas cobram mais de 100 reais, porque eles também não podem fazer algumas extravagâncias? Pelo menos lá se consegue comprar vinho barato e de qualidade, já aqui... Nem pagando bem tem.
    EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]