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A Vinissimo Importadora
A mais nova importadora do mercado, a Vinissimo é um empreendimento do casal de empresários Wlamir e Solange Rizzo, apaixonados de longa data pelo vinho, que agora resolveram unir o prazer ao trabalho. E não estão para brincadeira!

Embora a importadora tenha iniciado suas atividades apenas em abril deste ano, a carteira já conta com invejáveis 17 vinícolas de 7 diferentes países. Os rótulos garimpados pelo consultor Arthur de Azevedo, da ABS-São Paulo, passeiam por valores que vão desde risíveis 20 e poucos reais até o infinito (como vocês logo vão ver). Dentre as vinícolas incorporadas ao catálogo encontram-se respeitáveis nomes como a bordalesa Jean Luc Thunevin, a piemontesa Marchesi Alfieri e as portuguesas António Saramago e Conceito.

A Clarendon Hills
No topo da pirâmide da importadora, encontra-se a australiana Clarendon Hills, cujos vinhos foram abençoados pelo crítico Robert Parker, que não poupa escores acima de 90 para a extensa linha da vinícola, que inclui 6 Grenache, 8 Syrah, 3 Cabernet Sauvignon e mais 1 Merlot e 1 Mourvèdre.

O enólogo Roman Bratasiuk, arquétipo do australiano, é um divertido e simpático aproveitador da vida - se é que se pode classificar assim quem gosta de carne de canguru - que só queria saber quando a apertada agenda de degustações permitiria que ele pudesse experimentar uma caipirinha. Por muitos anos trabalhando como bioquímico, costumava fazer vinhos depois do expediente. Mas em 1994, chutou o balde e passou a se dedicar, em tempo integral, a produzir seus cultuados vinhos. Sua filosofia é simples: vinhas antigas em pé-franco, forte marcação dos diferentes terroirs, colheita manual, vinhos sem adição de nada, sem filtragem e com envelhecimento em barricas usadas, tudo para não alterar aquilo que ele define como "puro suco de uva fermentado". Até parece...

Horizontal de Grenache
O magnífico almoço no Terzetto foi precedido por uma exclusiva degustação horizontal de seus 6 vinhos da casta Grenache, a maioria deles não exportados para o Brasil e que vieram na bagagem de Roman, em sua viagem de 27 horas. Todo o processo de vinificação para os 6 vinhos é exatamente o mesmo, á a mesma safra, mesmo teor alcoólico, mesma casta, mesmo tudo... a única variável são os diferentes terroirs em que as uvas são plantadas. E foi interessante ver quão diferentes eram os vinhos: alguns em pequenas sutilezas, mas outros bastante distintos entre si. E, claro, todos estupendos!

Atendo-me apenas aos dois rótulos que estão disponíveis em nosso mercado: o Hickinbothan Grenache exalava muita flor e muita fruta, com toques de couro e terra molhada e na boca tinha um maravilhoso frescor, maciez, corpo parrudo e, principalmente, longa duração; já o Romas Grenache, que o enólogo considera como seu Grenache emblemático (flagship, disse ele...), era bastante aromático, com a madeira delicada, suculento, fresco e com taninos estruturando o conjunto todo. Foi, aliás, o que mais me agradou dos seis exemplares.

Vinho de 2.150 reais!!!
Bem, como eu falei que os Grenache eram estupendos, fiquei sem adjetivos para qualificar o vinho apresentado a seguir. Vou ficar com estupendo ao quadrado! Era o Astralis 2007, um 100% Syrah, ao qual Parker atribuiu nada menos do que 97 pontos. Não sei se ele já era caro antes disso, mas caí da cadeira ao saber o preço: impensáveis 2.150 reais!!! Após me recuperar do susto, questionei a Solange como ela pretendia vender um vinho com preço assim tão fora de propósito. Para minha surpresa - e quase outro tombo - ela me disse que das duas caixas importadas, uma já havia sido adquirida por um famoso colecionador e da segunda já haviam sido vendidas 2 garrafas. Como bebemos a terceira, acho que restam apenas 3... Quem se habilita?

Bem, é claro que qualquer um se intimida com um vinho assim tão caro, e eu ficava calculando quantos reais custava cada um dos goles que eu sorvia do precioso liquido. E quando o garçom tentou levar meu fundo de taça, quase parti para as vias de fato, mas preferi explicar a ele que aquele restinho custava cerca de 50 reais!

Oscar Daudt
Os vinhos
Clarendon Hills Clarendon Grenache 2007
Castas: 100% Grenache
Álcool: 14,5%
Preço: não importado
RP 91
Clarendon Hills Hickingbothan Grenache 2007
Castas: 100% Grenache
Álcool: 14,5%
Preço: R$300
RP 92+
Clarendon Hills Blewitt Springs Grenache 2007
Castas: 100% Grenache
Álcool: 14,5%
Preço: não importado
RP 91+
Clarendon Hills Kangarilla Grenache 2007
Castas: 100% Grenache
Álcool: 14,5%
Preço: não importado
RP 91+
Clarendon Hills Onkaparinga Grenache 2007
Castas: 100% Grenache
Álcool: 14,5%
Preço: não importado
RP 93+
Clarendon Hills Romas Grenache 2007
Castas: 100% Grenache
Álcool: 14,5%
Preço: R$515
RP 95 (2006)
Clarendon Hills Astralis 2007
Castas: 100% Syrah
Álcool: 14,5%
Preço: R$2.150
RP 97
Clarendon Hills Hickinbotham Cabernet Sauvignon 2007
Castas: 100% Cabernet Sauvignon
Álcool: 14,5%
Preço: R$344
RP 92+
O almoço
Ravioli de ossobuco ao molho de funghi porcini Paleta de cordeiro ao forno Torta quente de amêndoas e chocolate com sorvete
Os anfitriões
Wlamir Rizzo, da Importadora Vinissimo
O enólogo Roman Bratasiuk Solange Rizzo, da Importadora Viníssimo
Silmara Santos, diretora comercial da Vinissimo João Luiz Manso, representante da importadora no Rio de Janeiro Cristina Neves, promotora do evento
O almoço
Marcelo Copello Lucília Farias Paulo Nicolay
Lauro Carvalho, da loja Espaço di Vino Paulo Gomes, presidente da SBAV-Rio Jô Sodré
O jornalista Bruno Agostini explicava que seu cabelo é tão precioso quanto terroir da Borgonha... Euclides Penedo Borges, presidente da ABS-Rio, escondido atrás de uma taça de Astralis A colunista Luciana Plaas
Duda Zagari, da Confraria Carioca Ricardo Farias Sommelier Yan Braz
Jornalista Alexandre Lalas, com Cristina Neves
Homero Sodré O sommelier Dionísio Chaves, que em breve estará inaugurando o restaurante Duo, na Barra da Tijuca
João Souza, do Terzetto Ristorante O serviço foi comandado pelo sommelier Sérgio Mendes
Comentários
Rafael Mauaccad
Enófilo
São Paulo
SP
11/08/2010 Caro Oscar,

Pelo seu relato, a Vinissimo vem para disputar posição no mercado de qualidade. Aqueles enófilos que leram a matéria, já devem ter acessado o wine-searcher, avaliaram os preços praticados, e tiraram suas conclusões.

Seu espanto quanto ao preço de R$2150,00 pela garrafa do Astralis 2007 não é descabido, se comparado aos Hermitage de J L Chave, icone do Rhone Norte, que custam quase a metade na Mistral. Agora se comparado ao Grange da Penfolds, na mesma Mistral, é só 20% mais caro!

No mercado norte-americano o Astralis esta cotado entre US$200 e US$300, conforme local e safra. O colecionador brasileiro que comprou a caixa com 06 garrafas, se o fez para investimento, terá que aguardar muito tempo para realizar qualquer lucro, pois o preço em leilão nos EUA está no entorno do valor de US$175 por gf. É melhor bebê-los enquanto estiverem vivos!

Recado à Vinissimo, "o consumidor brasileiro necessita de vinhos de qualidade a preços ACESSÍVEIS!!"

Abraços,
Rafael
José Paulo Schiffini
Enófilo da velha guarda
Rio de Janeiro
RJ
12/08/2010 Tive o prazer de ser convidado para a sessão das 16:00, onde participavam sommeliers e pessoas mais técnicas e menos pessoas de associações profissionais, vendedores, jornalistas, etc... ,como no almoço relatado.

A esta altura o enólogo já estava cansado da longa viagem, do almoço nababesco e da Grappa no espetacular anexo Café do Terzetto, que oferece preços mais do que justos, com comida da mesma qualidade do restaurante, isto é: mesmos componentes, mesmo chef e mesmos vinhos da carta mais premiada e atualizada diariamente do Brasil pelo meu amigo Joãozinho; mas mesmo assim, Roman, o enólogo, com seu sotaque Cokney misturado com sua ascendência ucraniana, consegui abrir seu olho direito que, quando descansava entre uma palavra e outra, vivia fechado como aqueles olhos de pirata de outrora.... Bom vivant, simpático, bioquímico desertor, enólogo teórico e perfeccionista por paixão!!! Esta última qualidade para mim basta.

A relação de vinhos servida foi um pouco diferente da que foi servida no almoco, mas mesmo assim, divirjo da opinião dos que acharam os vinhos muito caros.

Todos os vinhos do Roman são, na média dos últimos 10 anos, pontuados com uma regularidade melhor do que os melhores vinhos franceses, pois estes últimos muitas vezes não alcançam a média de 96,5 pontos; maldito clima de Bordeaux ou da Borgonha que influencia muito nas safras, contra a regularidade cósmica de Clarendon Valley.... Além de se considerar que os vinhos do Roman, são todos single vineyard, 100% varietais, com leveduras nativas e com interferências mínimas da Biodinâmica que ele não acredita, etc. etc.

Desafio aos que ainda acreditam na superioridade dos vinhos franceses: "Name french wines you know", com estas características que Roman usa? Roman ao fazer vinhos desta forma "aposentou" até o nariz do "Miguel enROLLANDor" que andou vendendo consultoria ao meu amgigo Adriano da Miolo... Acorda Adriano!

Logo, para mim, o preço cobrado por eles lá na fonte cerca de US$ 300.00, ou em reais cerca de RS$ 600,00 descontados os vergonhosos impostos e as imundas taxas de intermediação várias, para mim, os vinhos do Roman não são caros, pelo prazer que ví tais vinhos proporcionarem a todos os presentes...

E se formos comparar com o "absurdo" dos preços dos vinhos tintos nacionais que nos são impostos ao nível de RS$ 200,00 plus, ou até, como eu gosto de comparar com minha moeda preferida: com os pares de tênis, turbinados a ar e pela publicidade e propaganda maldosa, que nossos filhos gastam em tenis de cerca de RS$ 1000,00, podiamos dizer que o prazer comparativo entre ver nossos filhos consumirem pares de tênis caríssimos e bebermos os melhores grenaches do mundo, ou os Shiraz do outro mundo que Roman elabora ou até mesmo o Cabernet Sauvignon, único vinho do Roman que não gostei, porque ficará pronto apenas daqui a 30 anos, quando eu já estiver no outro mundo...

Aliás, gostei da resposta que ele me deu. Quando soube que o cabernet ficaria pronto só daquí há 30 anos, pensei logo nos vinhos mais longevos que conheço, os espanhóis: Marques de Murrieta - Ygay, Vega Sicilia - Único, etc, elaborados com Tempranillo, a mesma uva que Oz Clark preconiza que será a nova grande promessa da Austrália. Eu perguntei: "Roman, você está tentando, plantando novas castas, por exemplo como a Tempranillo?" Ele desenhou no ar: N-O = no! "I am too old for tempranillo....". Personalidade é isso!!!

Mais difícil do que a profissão de Enólogo, que tem pouco tempo de vida útil, e um tempo menor no apogeu, apenas a profissão de técnico de futebol, que o diga Mano Menezes...

Parabéns à Víníssimo, continue trazendo celebridades da enologia ao Brasil.

Schiffini com a pilha toda
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]