 Um compêndio de castas
Em 2008, perguntei ao enólogo Rui Reguinga o por quê de ele lançar mão de tantas castas internacionais quando Portugal tem uma diversidade impressionante de castas autóctones de excelente qualidade. Ele me respondeu: "Quando todo o mundo vai por um caminho, eu procuro encontrar um caminho diferente."
Passados 2 anos dessa conversa pude experimentar alguns dos vinhos do cultuado enólogo-voador português, em um almoço oferecido pela Importadora Vinci, no Antiquarius Leblon, harmonizado com os vinhos da vinícola alentejana Monte da Ravasqueira, da qual Rui é o responsável técnico. Bem, o enólogo não estava presente, mas o almoço foi comandado por Joaquim Guimarães, o diretor-geral da vinícola.
Mas mais do que a utilização de castas internacionais, o que me chamou a atenção foi a complexidade dos cortes degustados: 4 castas em um vinho era quase padrão na obra do enólogo e um dos tintos ia bem mais além e apresentava uma mistura de nada menos do que 7 castas!
O início do evento foi um tanto desapontador. Para acompanhar os bolinhos de bacalhau e risolis de camarão, foi-nos servido o Monte da Ravasqueira Rosé 2006 e o tempo havia sido cruel com ele. Sem acidez e um pouco oxidado, foi um momento que não deixou boas lembranças.
Mas a seguir viria um branco - o Monte da Ravasqueira Branco 2007 e como eu sou fã desses vinhos, joguei minhas expectativas lá prá cima. Infelizmente, mais alto o coqueiro, maior é o tombo e o vinho de 6 castas - Chardonnay, Antão Vaz, Arinto, Alvarinho, Viognier e Sémillon - tinha um nariz que não lembrava nenhuma delas. Para ser mais preciso, o nariz era bastante discreto e boca era curta. Também não gostei. Felizmente, Joaquim nos contou a novidade de que, na próxima safra, esse vinho terá um corte menos populoso e se restringirá a três castas: Alvarinho, Viognier e Marsanne. Já fiquei curioso...
Mas nem tudo estava perdido, é claro, e a partir daí a coisa melhorou e muito! O primeiro tinto, Fonte da Serrana 2007, um acessível e complexo corte de Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon, sem madeira, suculento e aveludado, despertou os amores do professor Célio Alzer que, a meu lado, dizia não acreditar que o vinho custasse US$19,90 (34 reais). Tanto fez que a Lilian terminou ligando para São Paulo para confirmar o preço. Era isso mesmo e o professor de imediato decidiu incluí-lo na próxima edição de sua tradicional degustação da ABS, Campeões do Custo-Benefício.
Em seguida, chegou a minha vez de ficar apaixonado, e foi pelo Monte da Ravasqueira Tinto 2007, um impensável corte de Syrah, Touriga Nacional, Touriga Franca, Aragonez, Trincadeira, Alicante Bouschet e, ufa... Petit Verdot. Era quase um compêndio de castas e o resultado era espetacular, com aromas de violeta, cheio de fruta, aveludado e intenso, como resultado de 9 meses em carvalho francês (10% novo). Ao preço de US$34,25 (58 reais), foi para mim o verdadeiro Campeão do Custo-Benefício. Como diria mestre Schiffini, é para comprar de caixa!
Para finalizar, passamos para outro departamento e aportou em nossas taças o maravilhoso Monte da Ravasqueira Vinha das Romãs 2005, quase um Syrah varietal, mas com algumas gotas de Touriga Franca, Touriga Nacional e Alicante Bouschet. Com 12 meses de barricas francesas novas, oferecia cativantes e delicados aromas de baunilha e na boca muita fruta e estrutura para equilibrar os imperceptíveis 14,5% de álcool. Mas é claro que esse luxo todo tem um preço bem mais alto, de US$89,90 (152 reais). É muita areia para o meu caminhãozinho! Mas se eu pensar melhor e comparar com algumas outras degustações a que fui recentemente, com vinhos do Novo Mundo a 500, 1000, 2000 reais, o preço marcado até que está bem em conta...
Oscar Daudt |