 As três mosqueteiras
As enólogas Ana López Lidon, da Cava Gramona, e Rosalia Molina, da Altolandon, conheceram-se em um curso de vinhos em Nova Iorque e desde então tornaram-se amigas. E mais interessante ainda é saber que, nessa mesma ocasião, tornaram-se amigas também da enóloga portuguesa Filipa Pato e hoje formam as três jovens mosqueteiras ibéricas na defesa do bom vinho. O trio esteve em São Paulo, esta semana, mas para o Rio de Janeiro, vieram apenas as duas espanholas para apresentar seus vinhos a um felizardo grupo, durante um jantar no Sushi Leblon.
Sentei-me à mesa com Ana, que nos contou que durante a final da Copa do Mundo estava em um vôo para Pequim, em um avião que ela desconfia que estivesse lotado de holandeses, pois não houve comemoração alguma quando da conquista do campeonato mundial. Para compensar, conta ela, está festejando até hoje, junto com seus compatriotas, que ainda não pararam de pular.
Mas voltando aos vinhos, a noite foi pródiga: 4 cavas, 1 branco e 1 doce elaborados pela Gramona; e 3 tintos, elaborados pela Altolandon. As cavas eu já havia experimentado ao final do ano passado e são encantadoras. Desde a Allegro Brut e a Allegro Rosé, da linha mais básica, mas que de básica não têm nada, pois são vinhos frescos e elegantes, com o rosé apresentando deliciosas frutas vermelhas no aroma. Um degrau acima, encontra-se a Imperial com 48 meses de "crianza" e com belos aromas de maçã e casca de pão. E com vários degraus acima, a suntuosa III Lustros, com impressionantes 5 anos de repouso, e mais impressionantes ainda - e deliciosos - aromas de nozes, tostados e lácteos.
Após essa festa toda, para matar minha curiosidade, experimentamos um varietal de Xarel-lo, o Font Jui, vinho diferentão, mas com aromas de frutas secas e especiarias e uma boca untuosa.
Passamos aos 3 tintos da Altolandon, uma vinícola da DO Manchuela, situada a mais de 1000 metros de altitude, o que permite a elaboração de vinhos complexos e duradouros. O primeiro deles, o Rayuelo 2006, inesperado corte de Bobal, Malbec e Monastrell, não foi exatamente o meu preferido. Mas prosseguimos com um 100% Malbec (na Espanha???), o L'Ame, que mostrou que não é só na Argentina que essa casta pode apresentar excelentes resultados. O vinho era carnudo, macio e seus aromas de ameixa e tostados fizeram a minha cabeça - ou melhor, minhas papilas. Mas o grande momento da vinícola veio como o Altolandon Tinto 2005, corte de 50% Syrah com outros 50% de castas diversas, que com seus aromas de frutas negras, florais e com toques minerais, e sua boca fresca, cremosa, com taninos maduros e bela persistência.
Ainda, para acompanhar a sobremesa, experimentamos um vino dulce de hielo, ou como ensinou o Lalas, no esquisito idioma catalão, vi dolç del fred. O Gramona Frisant de Gel 2009 é um 100% Gewürztraminer, elaborado com uvas congeladas artificialmente, e com apenas 9,5% de álcool. No nariz, marcantes aromas de peras e uma boca levemente frisante e de bom equilíbrio. Mas, como sempre, deixei de lado não só o vinho como também a sobremesa.
E não posso deixar de destacar o maravilhoso jantar que acompanhou os vinhos. Todas as vezes que eu havia tentado ir ao Sushi Leblon, não tive sucesso, pois filas na porta sempre me desestimulam a ficar. Portanto, essa foi minha estréia no restaurante e fiquei encantado com a beleza e a gostosura dos pratos, todos elaborados com ingredientes fresquíssimos em pratos de grande criatividade. Para comer até o último grão de arroz. Mas, por outro lado, fiquei assustado com o aperto: cada centímetro quadrado da casa é ocupado por mesas e a gente mal consegue se movimentar lá dentro.
Oscar Daudt |