 Albariño puro-sangue
Em junho deste ano, no evento Vinos de España (clique aqui para recordar), com produtores espanhóis em busca de importadores no Brasil, conheci a vinícola Agro de Bazán, de Rías Baixas. Na verdade, conheci apenas um de seus vinhos, o Granbazán Albariño Limousin, um maravilhoso representante da casta, envelhecido em carvalho de Limousin - daí o nome do vinho destacando essa característica - que foi o vinho branco que mais me impressionou em todo o evento.
Aproveitando minha viagem à Galícia, decidi conhecer a vinícola, localizada em Villanova de Arousa, na província de Pontevedra, não muito distante de Santiago de Compostela. Fui gentilmente recebido por Jesús Álvarez Otero, diretor técnico, a quem havia conhecido no evento aqui no Rio.
A vinícola é um belo palacete, de construção recente, mas utilizando um pórtico de entrada em granito, típico da arquitetura espanhola, transplantado de um prédio antigo. O belo casarão fica em meio aos vinhedos de Albariño, formando um belíssimo conjunto que encanta os visitantes. À frente do prédio, há um também antigo orreo que eu aprendi tratar-se de uma construção muito utilizada na Galícia, em tempos de antanho, para o armazenamento do milho, de forma a impedir o ataque de ratos e formigas aos cereais (veja foto abaixo). Vivendo e aprendendo...
Foi uma visita bastante interessante, muito embora a empresa ainda esteja engatinhando em relação ao agroturismo. Há o belo castelo a visitar, há uma loja para comprar os produtos e a possibilidade de se degustar os vinhos. Mas as atrações terminam por aí. Não há, por exemplo, um restaurante que poderia prolongar a estada dos visitantes. E nem planos a curto prazo de implementar um.
A Agro de Bazán é uma empresa familiar, relativamente nova, já que iniciou suas atividades em 1981. Apesar de criancinha, foi a primeira vinícola das Rías Baixas a utilizar a maceração a frio. E comprovou seu pioneirismo ao ser também a primeira a envelhecer o Albariño em madeira. Diga-se de passagem que ela criou uma escola, pois foram muitos os Albariños que provei em Santiago de Compostela com estágio em barrica, coisa que me deixou muito contente, pois estou naquela fase de apreciar esse vinho com a complexidade maior que a madeira empresta.
Os vinhedos ocupam 17ha, todos na sub-zona de Val de Salnés (a mais clássica da região) e são plantados unicamente com a casta Albariño. Não há cortes na produção de vinhos. A capacidade da bodega é de 1 milhão de litros, mas a produção atual gira em torno de 500 mil litros. Apesar da participação no evento do Sheraton, onde vários negócios foram fechados, para minha decepção a Agro de Bazán ainda não conseguir colocar o pé em nosso mercado. Jesús me contou que está negociando com uma importadora brasileira, mas deixou transparecer um certo desânimo quanto ao ritmo das conversas. Eu, vivamente, espero que dê certo, com essa ou com outra importadora, pois gostaria de ter a chance de beber o Limousin sem ter de viajar para a Espanha.
Os vinhos degustados
Granbazán Albariño Etiqueta Ambar 2009: aromas cítricos e florais, com boca seca, bastante acidez, com toques salinos e boa persistência;
Granbazán D. Álvaro de Bazán Selección de Añada 2006: aromas de ananás e erva-doce, fresco e intenso;
Granbazán Limousin 2009: de longe o meu vinho preferido, complexo, com aromas de banana, mel e delicada baunilha e uma boca cremosa, boa acidez, longa duração e excelente estrutura;
Derradeira Vendima 2007: um vinho de colheita tardia de Albariño, foi uma agradável surpresa, principalmente para mim que não tenho grandes atrações por vinhos doces; esse no entanto tinha muito pouco açúcar residual, o que não incomodava meu peculiar gosto e com uma acidez a fazer o contraponto; aromas de mel, banana madura e casca de laranja;
Mas de Bazán Crianza Bobal 2006: do mesmo grupo, mas elaborado na DO Utiel-Requena (perto de Valencia) pela vinícola Mas de Bazán, foi a primeira vez que provei um varietal da casta Bobal (antes disso, só em corte...); é uma casta difícil, que amadurece de forma desigual e necessita baixo rendimento para resultar em bons vinhos; esse exemplar, mostra ter seguido à risca o manual de instruções; no nariz, intensos aromas de frutas maduras, especiarias e discreta madeira; na boca, excelente corpo, estrutura tânica e prolongada duração. Uma experiência singular...
Oscar Daudt
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