 |
||
   |
 |
|
 Só indo a Barcelona... Os gêmeos espanhóis Javier e Sergio Torres são os responsáveis pelos dois restaurantes eñe no Brasil, um no Rio e outro em São Paulo. E como se isso fosse pouco, ainda respondem pelo espetacular restaurante Dos Cielos, de Barcelona, apropriadamente localizado no 24° andar do Hotel ME. A vista é de tirar o fôlego: se Barcelona já é linda ao nível do mar, imaginem como deve ser vista de muito alto. A cozinha sofre fortes influências catalãs - com marcados toques separatistas - e tem como foco o respeito aos produtos, tanto que a dupla mantém - acredite se quiser - um horta no 30° andar do hotel. Recentemente, ao final de novembro, o restaurante da Catalunha foi agraciado com uma tão cobiçada estrela do Guia Michelin, em reconhecimento à criativa cozinha dos irmãos Torres. E para compartilhar essa conquista com os cariocas, o eñe de São Conrado ofereceu a oportunidade de degustar o cardápio da casa espanhola. Com alegria, a crítica de gastronomia Danusia Barbara e eu, fomos convidados a conhecer o porquê de o Dos Cielos ter tido a deferência desse galardão. Sem pestanejar, aceitei o convite, pois não é todo dia que se pode desfrutar de um cardápio estrelado à beira das praias cariocas. A primeira entrada foi o grande show do almoço: uma Salada de ovo crocante com pó de cogumelos e especiarias era perfeita. Embalada em uma finíssima torrada em forma de pulseira (melhor olhar a foto, pois é difícil descrever) as folhas verdes decoradas com flores violetas encobriam um ovo de longo cozimento polvilhado com uma crocante mistura de cogumelos temperados. Um espetáculo de texturas que, sozinho, já valeria a estrela recebida. A segunda entrada trazia uma novidade para meu estômago: deliciosas vieiras com cubinhos de tendões. Tendões??? E eu que sempre achei que um tendão só servia para se romper, e nunca para ser comido! Pois lá estavam eles, quadradinhos, mais parecendo uma gelatina dourada. Pois para ter o bônus das vieiras tinha-se que pagar o ônus. Comi só para não fazer feio. Mas com certeza não seria o prato que eu pediria em um almoço a la carte. O nome do primeiro prato, Arroz meloso de peixes e ouriços do mar, despertou uma certa má-vontade por parte de Danusia, mas o arroz era na verdade cremoso - e não meloso - e uma delícia, preto como as asas da graúna, já que pintado com a tinta da lula, e com um ouriço por cima. Bela composição! E o segundo prato era um Magret de pato cozido em folhas de figueira. Tão bonito era que o Márcio Roberto, novo diretor da casa, fez questão de trazê-lo à mesa, dentro da panela, para que pudéssemos apreciar a peça inteira. Quando chegou servido, estava acompanhado com um coração de alho-porró e cubinhos de cará, crocantes, branquinhos imaculados, que mais pareciam pequenos torrões de açúcar. Foi um delicioso conjunto para encerrar o almoço. Bem, eu disse que o magret encerrou o almoço, mas foi apenas para mim. Como eu sempre pulo a sobremesa, fui direto para o cafezinho, mas Danusia comeu e aprovou a sobremesa - a dela e a minha - que era um Pão-de-ló hidratado com café e creme de leite, e sorvete de cupuaçu. Foi um almoço memorável que, infelizmente, só foi servido na quinta e na sexta-feira. E não deu para entender por que uma comemoração tão importante foi assim tão curta. Um cardápio desses deveria durar pelo menos um mês, para que mais e mais cariocas pudessem apreciá-lo. Mas agora é tarde. Quem perdeu, só indo a Barcelona... Oscar Daudt |
||
