 Prisão perpétua A primeira vez que Roberto Rodrigues apresentou a degustação Castas exóticas, na ABS, o interesse foi muito grande e a lotação do evento foi completa, com 36 participantes. Mas, conforme Roberto contou, os participantes ficaram um pouco frustrados por encontrar exotismo demais, sem nada que lembrasse os parâmetros habituais de Malbecs, Cabernets e Merlots a que estavam acostumados. Resultado: nesta segunda edição houve muito menor demanda e apenas metade do público da primeira vez se inscreveu. Roberto, um pouco frustrado, já falava em não organizar uma terceira degustação desse tipo.
Eu digo que seria uma pena, pois achei o evento interessantíssimo, uma verdadeira aula de como se faz vinho pelo mundo sem os compromissos da globalização uniformizada dos paladares. Não que eu não tenha estranhado, pois houve vários vinhos que não conseguiram me cativar. Mas acredito que é sempre uma questão de aprender a gostar...
Por exemplo, o primeiro vinho da noite, o Retsina Karavaki era um vinho que já havia provado e guardava uma péssima lembrança. Desta vez, achei o nariz encantador, com aromas de pêssego e lima, apesar de envolvidos pela forte toque de pinho-sol. Mas ao dar o primeiro gole, foi impossível não fazer uma careta com a estranheza do paladar, que bem lembrava um xarope contra a tosse. Eu e muita gente. Porém, insisti em provar e ao final de minha taça já estava gostando daquele caráter seco, resinoso, fresco e de baixo teor alcoólico. E até avancei na taça de minha vizinha. Digo mais, considerando seu preço camarada de 29 reais, com certeza vou comprar uma garrafa até aprender a gostar. Se os gregos gostam, por que eu não poderia?
Partimos, às cegas para o segundo lote, com 3 tintos. O primeiro era o húngaro Villány 2008, elaborado com a casta Portugisier - que apesar do nome não tem nada a ver com as castas portuguesas - que para mim foi o pior da noite. Nem de graça eu quero! O segundo, o delicioso Lacrima Christi del Vesuvio 2007, elaborado com as castas Aglianico e Piedirosso, encorpado, com aromas de frutas maduras e especiarias, foi uma quase unanimidade entre os presentes. O terceiro, o Foja Tonda 2003, do Alto Adige, apresentava aromas florais e mentolados, mas a rusticidade de sua boca não me agradou.
O segundo grupo de 3 tintos dividiu os presentes. O primeiro deles, J. Lohr Wildflower Estates 2004, produzido na Califórnia com a casta Valdiguié, indignava o nariz com aromas sulfurosos e mostrava uma boca adamada. Bem fraquinho. Já o segundo, Mezum 2004, um Teroldego Rotaliano - que normalmente é um vinho que gosto muito - me frustrou com sua boca austera, com excessiva acidez, mas foi o preferido do distinto público. Eu, na contra-mão, preferi o terceiro do lote, o siciliano Le Vigne di Eli Feudo di Mezzo 2007, elaborado com a casta Nerello Mascalese, com deliciosa baunilha e muita especiaria e uma boca harmoniosa e macia.
O próximo vinho chegou desamparado a nossas taças, pois Roberto o considerou diferente demais para comparar com os anteriores. Era o Masi Grandarella Apassimento 2004, cujas castas não são tão exóticas assim (Carmenère e Refosco), mas o processo de vinificação é que surpreende, pois é um clone de um Amarone, elaborado no Friuli copiando o apassimento dos poderosos tintos do Veneto. Grandioso vinho, com ameixa preta e rosas no nariz, e uma boca suculenta e aveludada. Gosto de quero mais.
Ainda teve um Luna Beberide Mencía 2008, para a confraternização final, mas do qual eu não lembro nem se era tinto. E é fácil de compreender o porquê. Foram 18 garrafas no total, para um público de 15 pessoas. Eu, inadvertidamente, fui de carro e minha sorte é que moro perto da ABS, pois se tivesse sido pego pela Lei Seca, no mínimo iria ganhar prisão perpétua.
Oscar Daudt |