 O Diário de um Mago O título acima pode trazer uma idéia equivocada sobre mim, portanto já esclareço que não tenho nenhum traço de misticismo nem de religiosidade. Meu Caminho de Santiago não foi em busca de redenção, renúncia ou salvação, mas apenas à procura de vinhos e gastronomia. Assim como os peregrinos encerram sua caminhada em frangalhos (não era difícil encontrar vários deles com os pés enfaixados), eu devo ter terminado a minha com o fígado despedaçado. Foram muitos Albariños e Alvarinhos - e também vários Riojas e Douros - para acompanhar as cozinhas galega e minhota.
Dicas de Santiago
Em Santiago de Compostela, a variedade de frutos do mar é inacreditável: nécoras, cigalas, percebes, ostras, vieras, navajas, pulpos, bogavantes, chipirones e muitos mais... As tapas são maravilhosas. Experimentar os Pimientos de Padrón grelhados é uma deliciosa roleta russa, pois enquanto a maioria é suave, de vez em quando se encontra em meio a uma porção - e sem aviso prévio - alguns que queimam.
Dois restaurantes visitados em Santiago ofereceram experiências enogastronômicas inesquecíveis. O Pedro Roca (Rua Domingos Garcia Sabel, 1) é um restaurante de cozinha contemporânea, muito bonito, que é comandado pelo renomado chef do mesmo nome. Foi, com certeza, a melhor cozinha de toda a viagem. Experimentei o Menu Plaza de Abastos (algo como Menu Mercado Público), que varia a cada dia, oferecendo os mais frescos frutos do mar encontrados nos mercados locais. O menu consiste de 8 deliciosos e lindamente apresentados pratos (mais os pães e os petit fours) ao preço de 50 euros. Vale isso e muito mais! Repito aquela famosa dica: se você só tiver uma noite em Santiago, vá ao Pedro Roca.
A outra dica que não se pode perder é o luxuoso Restaurante dos Reis, no Hostal dos Reis Católicos, uma belíssima construção de 1499 localizada em plena Praça do Obradoiro. O requinte do prédio encontra paralelo no serviço do restaurante e na qualidade da comida. Experimentei a Selección dos Reis, um menu degustação de 4 etapas, ao custo de 45 euros. Os pratos podem ser conferidos nas fotos abaixo apresentadas.
E a terceira dica é fazer como os espanhóis fazem quando querem beber: andar de bar em bar, bebendo um vinho e comendo umas tapas em cada um. Veja abaixo o meu Caminho de Santiago que a carioca-galega Beth Fidalgo me levou a percorrer.
Para simplesmente beber um vinho e ver os peregrinos passarem, a melhor alternativa é a Vinoteca O Beiro (Calle Raiña, 3) com boa seleção em taças. Acompanhe com uma seleção de queijos e fiambres da região e o programa está completo. O local é também uma loja, com bons preços e boa variedade.
Porém, se você estiver procurando por vinhos mais diferenciados, a melhor opção é o Club del Gourmet, da loja El Corte Inglés, que oferece vinhos dos mais variados preços - alguns estratosféricos - além de uma maravilhosa seleção de produtos de gastronomia.
Dica de Braga
A única dica que eu tenho a passar dessa cidade é a que me foi dada por Roberto Rodrigues. Trata-se do restaurante Dona Júlia (www.donajulia.com.pt), localizado no Hotel Falperra (Via da Falperra), bem distante do centro da cidade, no topo de um morro que oferece uma bela vista de Braga. É um típico restaurante de cozinha minhota, de alto padrão, mas que mantém aquela tradição de pratos fartamente servidos. Eu, por exemplo, pedi uma meia porção de Bacalhau à Dona Julia e o que me foi servido daria com certeza para duas pessoas, pois não consegui comer nem a metade, tendo em vista que já havia me deliciado com umas pataniscas de entrada. Além do excelente serviço, ao final, quando pedimos um táxi para voltarmos ao hotel, o restaurante gentilmente ofereceu um carro para nos levar.
Dica do Porto
O último dia da viagem passamos no Porto, tendo em vista que nosso vôo saía cedo daquela cidade. Aproveitamos para conhecer o estupendo restaurante O Comercial, localizado na Ribeira, no antigo Palácio da Bolsa. O local é belíssimo, requintado, e conta com a cozinha dos chefs Nuno Inverneiro e Samantha Reis e com uma vista inesquecível das casas de vinho do Porto de Vila Nova de Gaia. O cardápio oferece um menu degustação de 7 etapas por inacreditáveis 25 euros. Uma pechincha para a qualidade servida. Infelizmente, esse menu só é servido para toda a mesa e como eu não consegui unanimidade tive de me contentar com os pratos a la carte.
A única coisa que tenho a reclamar é que pedi um vinho Vinha Grande Douro Branco que me foi trazido à temperatura ambiente, sem que eu tenha sido previamente avisado. Pedi para resfriar e passou-se o couvert, a entrada e chegou o prato principal sem que o vinho pudesse ser bebido. Uma falha inacreditável para um restaurante desse nível!
Visita a vinícolas
Aproveitando minha estada na Galícia, fui visitar duas vinícolas das Rías Baixas. Mas isso será motivo de matérias específicas.
Oscar Daudt |