Matérias correlatas
Argentina
Visita à Luigi Bosca
A Luigi Bosca está localizada em Luján de Cuyo, onde produz cultuados vinhos, extensivamente disponíveis no Brasil através da importadora Decanter. A família Arizu, proprietária da vinícola, está visceralmente ligada ao vinho desde o ano de 1890, quando o patriarca Leoncio Arizu chega a Mendoza. Atualmente, a empresa produz 6,5 milhões de garrafas ao ano, distribuídas entre 34 diferentes rótulos. Tivemos a oportunidade de degustar, sob o comando do enólogo Vicente Garzia, 9 desses rótulos. Só da linha Gala, deliciamo-nos com 3 excepcionais vinhos: Gala 1, Gala 3 e o novo Gala 4. Mais surpreendente ainda foi o Finca Los Nobles Cabernet Bouchet 2006, que imaginei tratar-se de um corte da Cabernet Sauvignon com Alicante Bouschet, mas o enólogo nos explicou que, na verdade, era um corte de Cabernet Sauvignon com a para mim desconhecida Cabernet Bouchet. Com aromas de frutas maduras e flores, e com uma boca intensa de chocolate e cravo, foi uma festa.

Em relação ao enoturismo, essa bodega surpreende pela pequenez de sua estrutura turística. De interesse, apenas as 14 estações de uma Via Crucis vinícola em alto-relevo na cave e espaço para degustação. É muito pouco para uma empresa desse porte e importância.
Gala 3 Viognier Chardonnay Riesling 2009 Luigi Bosca de Sangre 2008 Gala 4 Cabernet Franc Malbec 2008
Carte Reservada Malbec & Syrah 2008 Finca Los Nobles Cabernet Bouchet 2006 Luigi Bosca Icono 2007
A sala de barricas tem uma interessante Via Crucis, em alto relevo, onde as 14 estações religiosas são substituidas por temas vinícolas. Vejam esse exemplo que se inspira na 13ª estação, quando Jesus é retirado da cruz. O enólogo Vicente Garzia comandou a degustação Fomos ciceroneados por Valentina Gonzalez
Visita à Vistalba
Após passar muitos anos à frente da Salentein, Carlos Pulenta partiu para desenvolver seus próprios vinhos, com vinhedos que pertenciam a sua família, localizados em Vistalba, Luján de Cuyo. Nesses 50 hectares, a bodega elabora os cultuados Vistalba Corte A, Corte B e Corte C, nomes bastante singelos para vinhos excepcionais. Em contraposição a esses vinhos cortados, chegam de outro vinhedo, localizado no Valle de Uco, os rótulos Tomero, todos eles varietais, classificados como Gran Reserva, Reserva e Classico. É uma organização cartesiana, fácil de compreender: em ambas as linhas, os tops repousam de 18 a 20 meses em carvalho, os intermediários envelhecem 12 meses em madeira e os básicos - se é que se pode assim chamar vinhos tão especiais - têm apenas 20% em madeira. Eu estava deslumbrado com toda a ambientação e, consequentemente, gostei de todos os vinhos da degustação. Mas é claro que o Vistalba Corte A e o Tomero Gran Reserva Malbec 2007 foram os grandes destaques, com inaudita suculência, concentração e estrutura. No entanto, não posso deixar de destacar o Tomero Reserva Petit Verdot 2008, sedoso, surpreendente e intenso. No Brasil, esses vinhos chegam através da Domno, uma importadora de propriedade da Casa Valduga.

Quando, para me enturmar, contei que costumava comprar os azeites Vistalba no Zona Sul, foi uma decepção. A marca Vistalba, para azeites, havia sido vendida para outra empresa e aprendi - e ganhei - que os azeites da vinícola se chamam Corte V. Mas esses, infelizmente, o supermercado não vende.

Na hora do almoço, três outras vinícolas juntaram-se a nós. Nada menos do que três marcas de respeito: a Catena Zapata, a Domínio del Plata, de Susana Balbo, e a Mendel. Essa última está na faixa de 120 mil garrafas ao ano; a Susana Balbo produz o dobro; e a gigante Catena Zapata extrapola para 3 milhões, sem perder a qualidade.

No quesito enoturismo, a Vistalba bota prá quebrar e se configura como um dos programas imperdíveis de Mendoza. É uma vinícola linda, requintada, com uma pousada com apenas 2 quartos de 70 metros quadrados cada - acho que é maior do que meu apartamento inteiro - e um restaurante de causar inveja a qualquer outra concorrente: é nada mais, nada menos do que o La Bourgogne, de Jean Paul Bondoux, aquele mesmo do ultra-requintado Hotel Alvear, de Buenos Aires. É mole?
Degustação
Tomero Reserva Petit Verdot 2008 Tomero Reserva Semillon 2007 Vistalba Corte B 2007
Tomero Gran Reserva Malbec 2007 Vistalba Corte A 2007 A belíssima sala de degustação é subterrânea, com uma parede que exibe o solo dos vinhedos acima. Apenas genial!
A degustação foi comandada pelo jovem enólogo Alejandro Canovas Nossa anfitriã foi a bela Cecilia Pizarro As bonitas instalações da vinícola
Os vinhos do almoço
Crios Torrontés 2010 Mendel Semillon 2010 Catena Alta Chardonnay 2008
Susana Balbo Signature Cabernet Sauvignon 2008 Mendel Malbec 2008 Catena Zapata Estiba Reservada 2005
O almoço do La Bourgogne
Sopa de zucchini Tarta de queso brie con caviar de olivas Filet de res con salsa de vino malbec
Proust de pistacho Mignardises O salão com vista para os vinhedos
Os representantes das vinícolas
Rodolfo Juárez, gerente de exportações do Dominio del Plata Cecilia Albino, da Mendel Jimena Turner e Eugenia Sanchez, da Catena Zapata
Visita à Krontiras
A visita às Bodegas Krontiras aconteceu em um momento prá lá de inapropriado. A nova sede está em construção. É uma obra portentosa, toda baseada em conceitos biodinâmicos, sem ângulos retos, mas ainda está em fase muito incipiente. Só havia concreto, operários, andaimes e outros que-tais para serem vistoriados. Nada que realmente merecesse uma visita.

A degustação teve lugar em cima de um barril velho, sem cadeiras, sob um calor infernal. Vamos combinar que, depois de sair de uma sofisticada Vistalba, com todas as mordomias do mundo, fica difícil apreciar vinhos com tanto desconforto. O projeto promete, mas ainda não estava na hora de conhecer...
Os vinhos da degustação O belo rosé da Krontiras A jovem enóloga Soledad Valdez
Thanassis Vafiadis, diretor da vinícola Vinhedos aos pés da cordilheira Negro, o mascote da vinícola
Visita à Norton
Uma das visitas mais surpreendentes - e divertidas - da viagem foi às Bodegas Norton, localizadas em Perdriel, Luján de Cuyo. Embora produza a estonteante quantidade de 15 milhões de garrafas ao ano, o enólogo-chefe, Jorge Riccitelli, insistia em se posicionar como uma vinícola de médio porte e nos contou que a colheita é totalmente manual. Eu conhecia apenas os vinhos mais básicos dessa empresa e fiquei verdadeiramente surpreso com a quantidade de rótulos de alta qualidade produzidos por lá, utilizando uma tecnologia de ponta. O impagável enólogo, matreiro, declarou: "Nós temos a melhor tecnologia do mundo para fazer os melhores vinhos. Mas fazemos apenas aquilo que está dentro das minhas limitações." Claro que, no decorrer da visita, pudemos constatar que se tratava apenas de falsa modéstia. No Brasil, esses vinhos são importados pela Winebrands.

Em 1895, o engenheiro inglês Edmond Norton foi à Mendoza para construir a estrada de ferro que uniria a cidade ao Chile. Acho que a ferrovia não saiu do papel, mas em compensação Edmond, ao se dar conta do potencial vitivinícola da região, fundou a bodega que leva seu nome. Em 1989, o empresário austríaco Gernot Langes-Swarovski comprou a vinícola e iniciou uma série de modernizações para dotá-la de tudo o que há de melhor em termos de elaboração de vinhos. E não será surpresa para ninguém se, dentro em breve, a empresa lance no mercado garrafas decoradas com os famosos cristais da família.

Jorge, o enólogo, foi um anfitrião irretocável e de tudo fez para nos agradar. Não se podia perguntar nada sem que ele nos respondesse na prática, com novas garrafas de vinho abertas. Embora o tempo fosse curto e estivéssemos atrasados para o próximo compromisso, a cada vez que ameaçávamos partir, ele dizia: "Só mais uma...". Quando decretei, à revelia, o fim da visita e nos dirigimos ao carro, Jorge ainda veio correndo atrás, com duas taças de vinho, para provarmos um etéreo Norton Malbec 1974 já dentro do carro!

Em termos de enoturismo, a bodega está muito bem servida. Existem diversos tipos de visitas - inclusive um tal de Safari fotográfico-, degustações temáticas com variados programas e um restaurante, La Vid, aberto todos os dias de 10 às 18 horas, servindo pratos da cozinha argentina contemporânea. É um programão e tanto. Bem vale uma viagem específa para lá.
A degustação começou na própria cave, com provas de vinhos ainda nas barricas Espumante Cosecha Especial Extra Brut Espumante Cosecha Especial Brut Nature
Espumante Finca Perdriel Extra Brut Norton Roble Sauvignon Blanc 2010 Finca Perdriel Malbec Colección 2007
Finca Perdriel Centenário 2006 Finca Perdriel Vineyard Selection 2005 Norton Reserva Malbec 2008
Norton Privado 2008 (esse nome é específico para o Brasil; no resto do mundo esse vinho chama-se Privada!) Gernot Langes 2005 O etéreo Norton Malbec 1974
O impagável enólogo Jorge Riccitelli As novas - e caras - barricas Roll Fermentor, que permitem que todo o processo de vinificação e envelhecimento ocorra dentro dela e são especiais para vinhos tintos de altíssima gama O belo jardim da vinícola
Jantar no Siete Cocinas
Para finalizar um dia intenso, fomos convidados para um jantar no novo restaurante do chef Pablo del Rio, que há quatro anos comanda a cozinha da vinícola Andeluna Cellars, de Tupungato. Localizado em Mendoza, na Av. Mitre, 794, o restaurante Siete Cocinas tem uma proposta bastante criativa. O chef dividiu a Argentina em sete regiões gastronômicas (Noa, Litoral, Cuyo, Pampa, Metropolitana, Patagónia Andina e Mar Argentino) e oferece pratos de cada uma dessas divisões, proporcionando ao visitante a possibilidade de conhecer a culinária daquele país em uma só visita. Por enquanto, não há um menu degustação, mas o talentoso chef me contou que está em seus planos de curto prazo oferecer essa possibilidade.

Contamos com a presença de 4 vinícolas que vieram apresentar seus vinhos. A Pascoal Toso, bodega fundada em 1890 é uma das mais antigas do país e está localizada em Maipú. Com uma produção de 7 milhões de vinhos ao ano, está voltada para o mercado externo, exportando 90% de sua produção. No Brasil, seus vinhos chegam por intermédio da importadora Interfood. A Pascoal Toso conta com a respeitada consultoria do enólogo Paul Hobbs. Cecilia, a representante da vinícola no jantar, ofereceu dois rótulos: o Pascoal Toso Malbec Reserva 2008 e o extraordinário Pascoal Toso Finca Pedregal 2005, o top da bodega, um corte de Malbec e Cabernet Sauvignon que repousa 18 meses em barricas francesas e americanas.

Também presente, estava a Família Cassone, de Luján de Cuyo, uma vinícola familiar fundada em 1999, que hoje elabora 500.000 garrafas por ano. Provamos o Obra Prima Gran Reserva Malbec 2007 e o top da casa, o Obra Prima Maximus 2007, um suculento e estruturado corte de Malbec, Cabernet Franc e Syrah. No Brasil, esses vinhos chegam através da importadora Obra Prima. Quando perguntei se os nomes iguais do vinho e da importadora eram mera coincidência, aprendi que na verdade a importadora é de propriedade da própria família, mas que não se limita a importar apenas os rótulos de sua própria elaboração. Disse-me Federico Cassone que o esquema está funcionando bastante bem e que está apostando no sucesso dessa empreitada, não muito comum em nosso mercado de vinhos.

Minha muito conhecida Serrera Wines, localizada no Valle de Uco, é trazida para o Brasil pela Hannover, de Porto Alegre, uma importadora de propriedade de meu amigo Niels Bosner. Dessa casa provamos um elegante Serrera Torrontés 2010, plantado em Maipú, e o inebriante Serrera Gran Guarda 2006, um Malbec elegante e concentrado.

Finalmente, a Bodega Tamarí, que faz parte do poderoso grupo chileno São Pedro/Tarapacá e está localizada em Maipú. Com produção de 2,5 milhões de litros ao ano, seus vinhos são trazidos para o Brasil pela importadora Épice. Seu Tamarí AR Malbec 2007 impressiona pela concentração e suculência.
Os vinhos
Tamarí AR Malbec 2007 Pascoal Toso Reserva Malbec 2008 Obra Prima Coleccion Gran Reserva Malbec 2007
Serrera Gran Guarda 2006 Obra Prima Gran Reserva Familiar Maximus 2007 Pascoal Toso Finca Pedregal 2005
Os personagens do encontro
Chef Pablo del Rio Cecilia Flores, da Pascoal Toso Federico Cassone, da Familia Cassone
Vito Ramonda, da Serrera Wines Carlos Timoner, da Bodega Tamari Confraternizando com o chef
O inesquecível jantar
Amuse-bouche Langostinos a la sartén y pejerrey de laguna más las hebras de cervo patagónico El bife de chorizo de cerdo y ciruelas secas, una lamina de papas y chimichurri
Empanadas salteñas de carne y papa, picante de tomate e pimentón dulce El churrasco largo de bife con hueso, la polenta y mantecoso al disco, ajos y puerros Costeletas de cordero patagónico, papines de los Andes y salsa criolla picante
Los ravioles de queso de cabra: almendras dulces, tomates secos y trozos de cuaresmillos El filet de pacú, hongos frescos y endivias a la sartén mas la crema de batatas dulces Filet de truchas con risotto de espinacas, lima y chardonnay
Al horno de barro: mollejas, entraña y una salsicha parrillera, calabazas, cebollas e zanahorias Degustação de sobremesas
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]