As grandes famílias do vinho Em um encontro, em 1990, entre Miguel Torres e Robert Drouhin, nasceu a idéia de criar uma associação das mais importantes vinícolas familiares do mundo, com o objetivo de trocar conhecimentos e preservar a tradição dos negócios familiares. Já no ano seguinte, haviam juntado-se aos dois, Robert Mondavi, Dominic Symington, e Piero Antinori.
Mas foi apenas em 1993 que a associação foi oficialmente criada, com o nome de Primum Familiae Vini (PFV) e com os objetivos de:
Promover e defender os valores morais que formam a base de um negócio familiar;
Compartilhar informações sobre viticultura e enologia e promover os métodos tradicionais que formam a base da qualidade do vinho e do respeito ao "terroir";
Incentivar o consumo moderado do vinho, considerado um tradição cultural de convívio e de "savoir-vivre";
Intercambiar informações sobre todos os aspectos do negócio.
Pelos estatutos, o número de famílias é limitado a 12 e a associação só se dá por convite e com a aprovação de todos os membros do seleto clube. Hoje, compõem o quadro da PFV as seguintes vinícolas:Antinori, da Toscana; Château Mouton Rothschild, de Bordeaux; Egon Müller Scharzhof, do Mosel; Hugel & Fils, da Alsácia; Joseph Drouhin, da Borgonha; Perrin & Fils, do Rhône; Pol Roger, de Champagne; Symington Family, do Douro e do Porto; Tenuta San Guido, da Toscana; Torres, do Penedés; Vega-Sicilia, de Ribera del Duero.
Como se pode constatar, só existem 11 sócios atualmente, havendo ainda lugar para mais um. Algum representante brasileiro se habilita?
O melhor evento do ano? O exclusivo Gávea Golf Clube foi o cenário para o encontro das 11 famílias com os enófilos cariocas. O salão de degustação abria suas janelas para o verde das montanhas que cercam o campo de golfe, mas não se via um só enófilo deslumbrado com a paisagem. O encantamento vinha das estações de degustação que ofereciam rótulos poucas vezes disponíveis em nossos eventos. Várias pessoas com quem conversei classificavam o encontro como o melhor do ano.
Iniciei pela Pol Roger que oferecia cinco Champagnes, sendo quatro deles safrados. Eu fiz a degustação completa que culminava com o fantástico Cuvée Winston Churchill 1999. Vinhos assim estavam mais para gran finale do que para início de evento.
Uma brasileira em Châteauneuf Como de costume, parti então para a degustação de brancos. E eram muitos para agradar meu paladar. Na Antinori, havia um branco apenas, o Cervaro della Sala 2008, do novo empreendimento da família na Umbria. Um corte de 85% de Chardonnay e 15% de Grechetto, era de uma elegância invejável. Segui para a mesa da Perrin & Fils, uma vinícola de Châteauneuf-du-Pape, onde tive o prazer de ser atendido pela mulher do proprietário, a brasileira Isabel Sued, filha do saudoso jornalista Ibrahim Sued. E me deliciei com 2 vinhos brancos excepcionais, o Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape Blanc 2008 e o Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape Blanc Vieilles Vignes 2008. O primeiro é um corte de 80% Roussanne, 15% Grenache blanc e 5% de outras castas. O segundo é um varietal de Roussanne de vinhas de mais de 100 anos.
Continuei para a Egon Müller Scharzhof e meu sangue alemão começou a ferver com a antecipação de provar uns Rieslings, minha casta branca preferida. Creio que a essa altura todos os leitores já saibam que vinho doce não é a minha praia. Mas eu sou ainda mais avesso a vinhos semi-doces, pois essa falta de caráter para mim é mortal. E para minha decepção, os 4 vinhos do Mosel oferecidos eram todos assim... Disfarcei e passei lotado por eles, mas pude experimentar dois interessantes vinhos secos da família, um elaborado na Austrália e outro na Eslováquia, até então um ilustre desconhecido país vinícola para mim.
O zum-zum-zum que corria pelo salão era sobre a excepcionalidade dos vinhos doces da alsaciana Hugel & Fils e não adiantava eu dizer que não gosto desse tipo de vinho que mesmo assim os aficcionados queriam me empurrar à força para lá. Tive de me esconder no banheiro para escapar da pressão. E quando vi que os ânimos estavam mais serenos, passei pela mesa, sorrateiramente, e pude apreciar os secos Riesling "Hugel" 2009 e Gewurztraminer "Hugel" 2009. Não entendi bem porque todos os vinhos da vinícola têm essas aspas, mas deixei o prazer me levar... E para finalizar os brancos, a chave de ouro: os suntuosos vinhos de Joseph Drouhin, da Borgonha. O Meursault 2007 era encantador, mas ninguém segurava o Beaune Clos des Mouches Blanc 2007, um vinho biodinâmico, equilibrado, elegante, potente, que pode ser bebido agora, como eu fiz, ou pode ser guardado feito um tesouro por - sei lá - 10 ou 20 anos... Quem viver, verá!
O manto da invisibilidade
Bem, quando eu finalmente decidi passar para os tintos, a coisa estava um pouco mais complicada. O evento estava lotado, botando gente pelo decanter, e não se podia mais escolher a mesa desejada. Era pegar ou largar o estande em que a gente coubesse.
E Cristiana Beltrão, do Bazzar, e eu iniciamos ao mesmo tempo a provar os vinhos da Tenuta San Guido, de onde o produtor Sebastiano Rosa havia desertado. Fomos atendidos pelo representante da importadora Ravin, muito embora o "fomos" seja um eufemismo, já que Cristiana merecia todas as atenções e eu passava desapercebido. Não foi possível definir se minha invisibilidade era decorrente da beleza de Cristiana ou se era efeito colateral de minha análise de preços das importadoras, onde a Ravin fez um papelão. Mas, noves fora, pude me deleitar com preciosos vinhos, como o Guidalberto 2008 e o mítico Sassicaia 2007. Só que eu nem tive coragem de perguntar o preço...
De lá, viajei para o estande da Symington, onde a simpatia de Dominic era um plus a mais (sic). Degustei o Pombal do Vesúvio 2007 e o portentoso Quinta do Vesúvio 2007, meu velho conhecido de terras lusitanas e que tanto prazer sempre me empresta. E, ao final do evento, ainda dei uma passada por lá para experimentar o único vinho doce de minha tarde: o tão magnífico quanto caro Graham's Tawny Port 40 Years (R$639).
Como um mestre da tauromaquia, com seu casaco vermelho, o proprietário da Vega-Sicilia, o arredio e sisudo Pablo Alvarez, aproveitava cada oportunidade para tourear os enófilos, protagonizando longas fugas pelo anonimato do salão. Isso não me impediu de experimentar seus grandes rótulos Pintia 2006, Valbuena 5° 2005 e o Alion 2006. Do Unico, nem o cheiro...
E para encerrar essa tarde inesquecível, visitei o estande do Château Mouton Rothschild, de onde se podia lamentar a ausência da Baronesa Philippine - por motivos de saúde - e de seu Premier Grand Cru Classé. Para compensar, seu filho Philippe ofereceu-me o soberbo Château d'Armailhac 2003, seguido pelo ícone sul-americano Almaviva 2001.
Foi uma tarde para lavar a alma, para guardar nos escaninhos da memória e para preservar nas papilas mais recônditas. Outro evento assim, sabe-se lá quando. Talvez quando a vaca tussir...
Oscar Daudt
As grandes famílias
Antinori
Cervaro della Sala 2008
Albiera Antinori
Château Mouton Rothschild
Château d'Armailhac 2003
Philippe Sereys de Rothschild
Almaviva 2001
Egon Müller Scharzhof
Valeska Müller Scharzhof
Os vinhos do Mosel
Vinhos da Austrália e da Eslováquia
Hugel & Fils
Os vinhos secos
Os vinhos doces
Narcisa Tamborindeguy e Etienne Hugel
Joseph Drouhin
Laurent Drouhin
Os vinhos brancos em degustação
Eu provei esses dois
Bourgogne 2008
Gevrey-Chambertin 2006
Domaine Drouhin Oregon Pinot Noir 2006
Perrin & Fils
Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape Blanc 2008
Château de Beaucastel Châteauneuf-du-Pape Blanc Vieilles Vignes 2008
Isabel Sued e François Perrin
Pol Roger
Hubert de Billy
Os 5 Champagnes em degustação, 4 deles safrados
O excepcional Champagne Extra Cuvée de Réserve 2000
Symington Family
Anthony e Dominic Symington: filho e pai
Pombal do Vesúvio 2007
Quinta do Vesúvio 2007
Graham's Tawny Port 40 Years
Dominic e Guilherme Martins, da Mistral
Alexandre Henriques, da Gruta de Santo Antônio, com Dominic
Tenuta San Guido
Le Difese 2008
Guidalberto 2008
Sassicaia 2007
Torres
O legendário Miguel Torres
A sommelière Elaine de Oliveira e Miguel
Humberto Cárcamo, da Reloco, e Miguel
Os "primos" Miguel e Marcelo Torres
Miguel com Sandra Oliveira, do restaurante Málaga, e Marcos Alonso, do restaurante Fim de Tarde
Vega Sicília
O sisudo Pablo Alvarez
Pintia 2006
Valbuena 5° 2005
Alion 2006
Os participantes
Paulinho Gomes, presidente da SBAV-Rio, e Cristina Neves, organizadora do evento
O cirurgião Ivo Pitanguy e Christophe Brunet, embaixador da Primum Familiae Vini
Celso La Pastina e Duda Nogueira, proprietário e representante da World Wine
Sommelière Cecilia Aldaz e o chef Felipe Bronze, do Oro
Sommelier Marcos Lima, Narcisa Tamborindeguy e Mariano Levy, proprietário da Grand Cru
Ademil Costa e Janine Sad, das lojas Expand
Joaquim Moreira e Bernardete Simonelli, do Fratelli
Sommelier Eder Heck, do Mr. Lam, e Stefano Zannier, da Decanter
Michel Couto, da Grand Cru Ipanema
Cecília e José Paulo Schiffini com Augusto Vieira, do restaurante Málaga
Nicola Giorgio, do restaurante Duo, a ser inaugurado em breve
Jô e Homero Sodré
Patrícia Kozmann, da Wine Brands, e Albiera Antinori
Willians Lopes, da Forneria São Sebastião
Cristophe Brunet e Roberto Rodrigues, diretor da ABS-Rio
Pedro Osmar, sommelier da Confraria Carioca
Cristina Neves e Yann Lesaffre, do Mr. Lam
Cristiana Beltrão, do Bazzar
José Augusto Saraiva, da Vitis Vinifera
Cristina Neves e Fernando Miranda
Ao final do evento, o professor Jandir Passos segura a coluna para ela não cair
Um momento de descontração entre Albiera e Dominic
O luxuriante cenário do evento
As recepcionistas do evento: Márcia Conrad, Cristiane Santos e Bárbara Ferreira
Comentários
Jandir Passos Professor Rio de Janeiro RJ
11/11/2010
Evento absolutamente maravilhoso!! Oportunidade ímpar de conhecer alguns dos mais renomados produtores do Mundo. Senti-me como 007 bebendo Pol Roger logo no início. Vinhos que são na verdade obras de arte na forma líquida. Inesquecível!
Parabéns meu caro amigo Daudt! Tive mesmo que segurar a coluna para ela não cair... hehehe
Cristiana Beltrão Restaurante BAZZAR Rio de Janeiro RJ
11/11/2010
Oscar! Já era fã do seu trabalho, mas essa gentileza toda eu não mereço mesmo! Você faz, há muito, um trabalho seríssimo na cobertura desses eventos de vinhos nos quais amamos navegar, e agora com esse ranking das importadoras, virou super herói dos clientes!
Esse evento foi ímpar mesmo. Amei tanta coisa que é impossível dizer qual foi o melhor. Suspirei com o Vieilles Vignes da Beaucastel, fechei os olhinhos com o Clos de Mouches Blanc do Drouhin e por fim, fiquei absolutamente encantada com a simplicidade e elegância de Miguel Torres, a quem admiro tanto pelos vinhos quanto pelo trabalho.
Beijo grande e mais uma vez obrigada pelo carinho. Cristiana
Eduardo de Beauclair Enófilo Rio de Janeiro RJ
13/11/2010
Caro Oscar, como nós, pobres enófilos do Rio, podemos ficar sabendo destes eventos imperdíveis.
Gaande abraço, Eduardo
Eduardo, esse evento era apenas para convidados e quando é assim, os organizadores pedem para não divulgá-los antes de acontecido.
Mas na Agenda do EnoEventos, você sempre encontra dezenas de eventos abertos para escolher. Confira de vez em quando e vcoê certamente achará alguns que lhe agradem.
Abraços, Oscar
Elaine de Oliveira Somellière Rio de Janeiro RJ
14/11/2010
Oscar, meu querido!
Este evento foi mesmo para se guardar na memória e nunca mais esquecer!
Sobre os vinhos, é até difícil dizer alguma coisa... a começar pelos incríveis champagnes Pol Roger e passeando pelos Meursault 07, Clos de Mouches Blanc 07, Valbuena 5°05 , Mas La Plana 07, Sassicaia 07, Château d'Armailhac 03, Alma Viva 01... ai ai... só suspirando mesmo!!! Fora a honra de conhecer o Miguel Torres pessoalmente, do qual sou fã de carteirinha!!! Obrigada por registrar este momento especial!!!
Aliás, há muito tempo estou para lhe dizer isto: além de vc descrever tão bem os eventos que cobre, ainda é expert em registrar estes momentos incríveis, só tenho a agradecê-lo por isto!
Parabéns!!! Beijos
Rafael Mauaccad Enófilo São Paulo SP
15/11/2010
Oscar,
A foto dos representantes das 11 famílias que hoje compõem o Primum Familiae Vini faz-me lembrar o registro dos grandes encontros de líderes mundiais.
Quando você faz a pergunta: "Algum representante brasileiro se habilita?", de ímpeto me veio a imagem do saudoso Ângelo Salton, que liderou a indústria vinícola brasileira e que preencheria com mérito esta lacuna, ele seria "O Cara"!
Passada a emoção quando da leitura da matéria, passo a questionar o que é original e cópia para o vinho, pois estas 11 famílias produzem o que há de mais alta qualidade e autenticidade na vinicultura.
A obra de arte original, assim como o vinho, traz a espontaneidade da mão de seu criador, coisa que a reprodução jamais será capaz. Os colecionadores e os milionários podem querer o original, e estão dispostos a pagar por ele, mas porque pessoas da classe média, com algumas exceções, se preocupariam em ter um original? Por que não ter uma brilhante reprodução?
O principal padrão utilizado para avaliar a qualidade do vinho e a sua complexidade é ser surpreendente. Outro fator é o equílibrio, que é a interação entre acidez e fruta. Harmonia e elegância são outros fatores considerados, mas não quantificáveis, e transmitem a delicadeza. Potência e corpo são preferências atuais.
Devemos admitir que grandeza não é privilégio único de alguns, e que outros têm poder de reinvidicá-la e tentar replicar estas referências. Nós devemos analisar atentamente as ofertas, buscando distinguir os grandes dos bons, a qualidade da mera preferência.