 De ponta-cabeça Logo à entrada, o elegante e moderno restaurante Assinatura já surpreende com uma mesa toda posta, pendurada no teto, de cabeça para baixo. E ela não está ali à toa, não. É a vontade do chef Henrique Mouro de simbolizar que sua cozinha de autor pretende virar de ponta-cabeça a tradicional culinária portuguesa. Os pratos levam o mesmo nome, valorizam as receitas tradicionais, mas sacodem a poeira apresentando releituras lindamente decoradas e introduzindo ingredientes inesperados e alguns - para mim - até totalmente desconhecidos.
Eu já havia recebido boas referências desse restaurante e uma visita ao site TripAdvisor reforçou ainda mais minha vontade de conhecê-lo. Foi a escolha perfeita! Uma noite para guardar na memória - e nas fotos dos belos pratos.
O Assinatura abre para o almoço com preços tentadores: €18 (só o prato principal), €22 (duas etapas) e €26 (entrada, prato principal e sobremesa). Todos com couvert, água e café incluídos. E os vinhos em taça variam de €3,50 a €7,00.
Mas eu preferi visitá-lo à noite para poder experimentar o menu-degustação. Existem 2 fórmulas: a de 5 etapas por €45 e a de 7 etapas por €55. (Como diria Mestre Schiffini: "Alô, alô, restaurantes cariocas!") Para melhor conhecer a assinatura do chef, optei pela fórmula de 7 etapas com vinhos harmonizados (ou cruzados, como eles dizem por lá), o que custa mais €25. Se considerarmos o couvert com 3 deliciosos pães feitos na casa com receitas especiais e um prato de boas-vindas do chef, o total de etapas pula para 9 e o total do jantar com vinhos custa o equivalente a 185 reais por pessoa. Líquido, pois não se paga mais nada, apenas a gorjeta voluntária. De novo: "Alô, alô!"
Foram tantas as etapas que se eu for descrever cada uma delas, essa matéria não termina mais. Mas posso destacar aquelas que mais apreciei. As boas-vindas do chef, Vieiras defumadas com puré de salsifis, eram delicadas, com o fumado discreto e o original puré, que até agora não sei o que é. Pelo Google pude ver que se trata de uma raiz mediterrânea, que salsifis é o nome francês e que em português se chama escorcioneira, o que não ajuda em nada. Não acredito que tenhamos essa planta aqui no Brasil.
Outro momento alto do jantar foi o O nosso caldo-verde que por cá vai andando, com o fumo da cavala, mas que é tão revisitado, tão relido, que é quase impossível identificá-lo, muito embora ele esteja por lá.
O nome de O lavagante suado e pezinhos, bisque e coentrada confesso que me assustou, pois se não gosto de coentro, o que dizer de uma coentrada? Mas era uma magistral combinação de elementos que resultou num dos melhores momentos da noite. Ainda mais que foi cruzado com o Atalaya 2007, um branco do Douro, elaborado com Viosinho, Códega do Larinho, Gouveio e Rabigato. O vinho era tão maravilhosamente mineral, fresco, cítrico que foi um caso de paixão ao primeiro gole. No dia seguinte, fui à Garrafeira Nacional e trouxe 2 garrafas de volta para casa, louco de contente, pois o preço era convidativo: apenas €11,95. Minhas googleadas mostraram que ele ainda não é importado para o Brasil. Uma pena!
O super-macio Polvo assado com espuma de batata-doce e erva-benta foi outro belo momento em que os temperos do molusco constrastavam com a delicadeza da espuma de batata-doce formando um conjunto perfeitamente harmonizado. Ou melhor, cruzado!
E para finalizar, o Cabrito assado com o arroz dos miúdos no forno e grelos, que por si só já era uma delícia, formou um par perfeito com o imponente Quinta do Crasto Vinha da Ponte 2007, um vinho caríssimo, mesmo em Portugal, custando cerca de 150 euros (aqui no Brasil, na wine.com.br, está por 650 reais!), e elaborado com vinhas velhas, tudo junto e misturado, e repousando 20 meses em carvalho francês novo. Show de bola!
O serviço é cadenciado, gentil, informativo e, principalmente, com grande simpatia que faz com que a gente se sinta como um grande amigo da casa, já um frequentador antigo. E para quem quiser, existe a Mesa do Chef, para 15 pessoas, localizada ao lado da cozinha envidraçada, onde se pode interagir com o cozinheiro, admirar a preparação e se deliciar com a mistura de aromas. Além de fazer novas amizades, já que é uma mesa comunitária, do tipo "vai chegando, vai sentando..."
Eu recomendo com ênfase. Se você tiver apenas uma noite em Lisboa, não titubeie e vá conhecer o Assinatura!
Oscar Daudt
Serviço:
Restaurante Assinatura
Rua do Vale Pereiro, 19 (na esquina com a Alexandre Herculano, 51)
1250-270 Lisboa
Metro: Linha Amarela - Estações Rato e Marquês e Linha Azul - Estação Marquês
Telefone: (351)21-386-7696
www.assinatura.com.pt |