 Velho Mundo ou Novo Mundo? Eu já tinha a pergunta engatilhada para fazer a Yael Gai, gerente de exportações da Golan Heights Winery, quando ela se antecipou e desafiou a platéia a responder: Israel é Velho Mundo ou Novo Mundo? Depois de certa hesitação dos presentes, a própria Yael respondeu: é Mundo Antigo (ou Ancient World, em suas palavras). Mas há controvérsias.
É sabido por todos que aquela região é o berço da vitivinicultura do mundo e já elaborava vinhos há mais de 5.000 anos. No auge da civilização grega, os vinhos do Oriente Médio eram uma indústria florescente. Depois, quando os romanos dominaram o mundo, a cidade de Gaza transformou-se em um importante porto para a exportação dos vinhos por lá produzidos. Portanto, vê-se que a classificação de Yael procede.
Acontece que, no século VII, os muçulmanos dominaram a região e, consequentemente, devido a suas convicções religiosas, extinguiram a produção de vinhos, sem dó nem piedade. E assim foi quase até o final do século XIX, quando o Barão Edmond de Rothschild decidiu reinventar a vinicultura como forma de ajudar os colonos judeus que lá sobreviviam sem grandes alternativas econômicas. No entanto, essa experiência não foi exatamente um sucesso e ficou andando de lado até os anos 1970.
Nessa época, um professor da prestigiosa Universidade de Davis, na California, em visita a Israel, determinou que as Colinas de Golan seriam a melhor região para a cultura das vinhas. Os primeiros vinhedos foram ali plantados em 1976 e em 1983 foram elaborados os primeiros vinhos, que se mostraram de alta qualidade e despertaram, quase da noite para o dia, o interesse dos produtores israelenses por aquela área. E assim nasceu a moderna vinicultura israelense.
Portanto, você decide: ou bem você chama Israel de Antiquíssimo Mundo, ou leva em consideração toda essa história picotada e batiza esse país de Novíssimo Mundo...
Vinhos Kosher Grande parte dos presentes ao jantar tinha dúvidas sobre o que é um vinho Kosher e se toda a produção de Israel é Kosher.
A resposta à segunda pergunta é simples: "Não, nem todos os vinhos israelenses são Kosher. E mais, nem todos os vinhos Kosher são israelenses". Posso até lembrar que a Casa Valduga produz uma linha de vinhos Kosher voltada à colônia judaica no Brasil.
Responder à primeira questão, no entanto, é bem mais complicado. O que define um vinho Kosher são alguns rituais durante a produção, definidos por preceitos religiosos. Especialmente curioso é saber que durante a produção um não-judeu não pode participar do processo, nem tocar em nada. Uma vez engarrafado, no entanto, qualquer pessoa pode tocar na garrafa, mas somente enquanto ela estiver fechada. Após aberta, se algum não-judeu puser a mão, o vinho deixa de ser Kosher... Estranho, não?
Mas Yael fez questão de frisar que o fato de ser ou não Kosher, nenhuma influência traz para a qualidade implícita do vinho sob a ótica de um enófilo não religioso. Um vinho tanto pode ser de altíssima qualidade seguindo as práticas estabelecidas pelos rabinos, quanto - como bem sabemos - não ser Kosher e ser sofrível.
Golan Heights Winery
José Grimberg, da Bergut, mostrava a todos o guia de vinhos Rogov's Guide to Israeli Wines, que - em sua sexta edição - analisa, pontua e descreve a produção israelense, com capricho, ótima estruturação e bastante ilustrações em quase 500 páginas. Não pude deixar de pensar: um guia assim para uma indústra que não tem nem 30 anos de produção contínua de qualidade. E nós aqui no Brasil, há muito mais tempo na pista, até hoje não merecemos que algum crítico se interesse em publicar algo semelhante? De novo: estranho, não?
Impressiona saber que esse guia lista 142 produtores. Só para comparar, o Guia de Vinos de Chile 2008, de nosso todo-poderoso vizinho sul-americano, lista 130 vinícolas...
Bem, o guia traz uma tabela com os 10 melhores produtores israelenses. E quem encabeça essa tabela? Ninguém menos do que nossa anfitriã, a Golan Heights Winery, que ainda ocupa a 4ª posição na tabela de melhores custo-benefício de Israel. Não é pouca coisa...
Fora esse reconhecimento interno, esses vinhos já conquistaram importantes medalhas nos circuitos internacionais e o Yarden Cabernet Sauvignon 2004 até já frequentou a lista dos Top 100 da Wine Spectator. E a importadora Inovini está trazendo esses rótulos para o mercado brasileiro. A Bergut já os incluiu em sua carta e está obtendo excelente receptividade de seus clientes. Como que a ler meu pensamento, Grimberg retrucou: "E não é a clientela judaica que está comprando..."
Provamos 6 vinhos durante o jantar. Impressionou-me muito o Yarden Syrah 2005, com aromas de frutas maduras, canela e couro, bem encorpado e com muita fruta. Igualmente, agradou-me o Yarden Chardonnay 2007, com aromas de coco e manteiga, cremoso, com excelente acidez e muita potência. Ambos bem que poderiam passar por vinhos do Novo Mundo, principalmente o Chardonnay, que traz a assinatura da Califórnia bastante explícita.
Mas achei os vinhos caros e vocês podem conferir os preços abaixo. Porém, isso até já virou cacoete, pois eu sempre acho os vinhos caros. De repente, sou eu que estou ganhando pouco...
Oscar Daudt |