
Para deixar qualquer um tonto |
Como é bom - e divertido - participar dessas degustações às cegas que a loja Bergut Castelo promove de tempos em tempos. Ano passado estive em uma edição que analisava espumantes do mundo todo e que apresentou resultados - digamos assim - bastante exóticos.
Desta feita, os participantes escolheram qual o melhor Cabernet Sauvignon, dentro de um elenco de nada menos do que 12 vinhos! Eram dois representantes da Austrália, da Argentina, do Brasil, do Chile, dos Estados Unidos e um representante da Espanha e de Israel. Os preços variavam de 35 até estonteantes 365 reais. As safras começavam em 2005 e iam até 2008.
E como era o processo? Os nomes dos vinhos foram previamente anunciados, mas a degustação foi estritamente às cegas e nem mesmo Paulo Nicolay, o comandante da noite, sabia quais vinhos eram sendo servidos. Os 12 rótulos concorrentes foram divididos em 3 baterias de 4 vinhos cada. Ao final de cada bateria, os participantes classificavam os vinhos de acordo com sua preferência pessoal e os resultados lançados no computador, que imediatamente apontava o ganhador, que passava à etapa final.
Depois das 3 baterias, escolhidos os finalistas, esses foram novamente servidos para a grande decisão. Mais uma vez os presentes classificaram os vinhos e o vencedor declarado.
Contando assim friamente, até parecia que estávamos diante de ritual canônico, mas nada disso... À medida em que os vinhos avançavam, mais se acaloravam os ânimos e as torcidas organizadas iam se formando.
Eu, como defensor do produto nacional, tive uma gigantesca decepção: os dois representantes brasileiros fizeram muito feio e se colocaram nas duas últimas posições. Mas vamos combinar que, escolher como representantes tupiniquins os dois vinhos mais baratos da noite, foi até uma maldade. O problema é que a fama de piores classificados fica indelevelmente marcada e os mais colonizados gostam de generalizar essa ideia para toda a nossa produção.
Mas no lado virtuoso da classificação, eu confesso que não achei nenhuma escolha estapafúrdia do grupo. O grande vencedor foi o Antica 2006, vinho produzido em Napa Valley pela respeitada família Antinori, da Toscana e que custa 298 reais na Bergut. Bem mais em conta, o segundo lugar foi o australiano Schild Estate 2007, que custa muito menos do que o 1º colocado e também do que o 3º colocado, a 103 reais. Fui voto vencido, mas essa foi minha escolha para o melhor vinho da noite.
O que normalmente se constituiria numa classificação cobiçada, a terceira colocação para o tão badalado - e tão caro (365 reais) - Don Melchor 2006, da chilena Concha y Toro, teve um amargo sabor de derrota. Nada como uma degustação às cegas!
Oscar Daudt |