
O original nome da importadora soa estranho aos ouvidos e eu precisei que o mesmo fosse algumas vezes repetido até conseguir compreender, o que só aconteceu quando me foi dada a explicação: "Tuga, de Portugal!". Tá bom...
A nova empresa é uma sociedade de três descendentes de portugueses - Paulo Cesar Graça, Felipe Azevedo e Sérgio da Fonseca - com sede aqui no Rio de Janeiro e dedicada à importação de azeites e vinhos. A carteira é enxuta e pretende continuar assim, oferecendo vinhos do Alentejo, Douro e Dão. Quando fiquei sabendo que os vinhos do Douro chamavam-se Cadão, não resisti e perguntei se os vinhos do Dão se chamariam de Cadouro... Não sei como não fui expulso do evento!
Mas, pelo menos por enquanto, o carro-chefe da importadora é mesmo a linha de vinhos da alentejana Fita Preta, que foram apresentados aos cariocas em um jantar - tipo Clube do Bolinha - realizado no Salitre de Ipanema.
O enólogo António Maçanita, apesar da tenra idade, possui um invejável currículo: trabalhou no Napa Valley, na Austrália e em Bordeaux, em nada menos do que no Château Lynch-Bages. De volta a Portugal, associou-se ao consultor inglês David Booth para abrir a Fita Preta Vinhos, no Alentejo. Já em 2004, lançou um vinho com o apelativo nome de Sexy e com o rótulo mais escandaloso que se poderia imaginar: cor-de-maravilha! É claro que a receptividade da tradicional imprensa portuguesa a esse vinho foi a mais desanimadora possível.
No entanto, assim que seus vinhos começaram a ser reconhecidos no exterior, culminando com a conquista do Alentejo Trophy, no cobiçado International Wine Challenge 2007, de Londres, para o vinho Preta, quando o enólogo tinha apenas 25 anos, a coisa mudou de figura.
Com a natural inquietação da juventude, António, que faz parte da seleção portuguesa de Beach Rugby, não para de falar e a uma velocidade apenas comparável ao turbilhão de idéias que nos transmitiu durante o jantar, das quais, infelizmente, eu só compreendi a metade, por falta de tradução simultânea...
Fomos recebidos com o Sexy Rosé 2009, mas como essa cor não é exatamente a minha favorita, prefiro relatar que meus companheiros de mesa ficaram entusiasmados com esse corte de Touriga Nacional e Aragonês com zero de açúcar residual.
Para acompanhar os carpaccios de salmão e carne, chegaram dois brancos: o Sexy Branco 2009 e o Fita Preta Branco 2010. O primeiro, um corte de Roupeiro, Verdelho e Viognier, bem aromático, floral e fresco, fez mais a minha cabeça. Mas excepcional mesmo, foi o Palpite Branco 2008, que veio a seguir, corte de Arinto, Antão Vaz e Verdelho, untuoso, amanteigado, com toques de canela e extrema elegância, que me agradou em cheio. E não só a mim, pois meus pares não poupavam comparações com Meursaults, Chassagne-Montrachets e outros que-tais, já antegozando as degustações às cegas em que planejavam pregar peças nos participantes com esse vinho de estilo borgonhês.
Um Duo de Pato chegou acompanhado por um duo de tintos: Sexy Tinto 2008 e Fita Preta Tinto 2008. O primeiro explodia em frutas revelando um corte meio português, meio internacional de Touriga Nacional, Aragonês, Cabernet Sauvignon e Syrah. O segundo, um corte cirúrgico de Aragonês, Trincadeira e Alicante Bouschet, também exibia muita fruta, porém com mais elegância, deixando transparecer aromas de ameixas pretas e terrosos, e uma boca com taninos aveludados.
Continuamos com um medalhão acompanhado do Palpite Tinto 2006, que me agradou tanto quanto seu irmão branco. Suculento, poderoso e macio, exibia muita fruta no aroma e era um corte de Cabernet Sauvignon, Aragonês e Touriga Nacional. Interminável...
E sabem aqueles queijos no palito que a gente come nas praias do nordeste? Pois é, essa era a sobremesa... Mas como vinha incrementado com calda e raspas de chocolate, não quis experimentar. Em compensação, o vinho que foi com ela servido - que também não era um vinho de sobremesa - era aquele tal que foi premiado em Londres, o Preta 2007, corte de Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Cabernet Sauvignon. A cor fazia jus ao nome e era negra como as asas da graúna. Poderoso, muito macio e quase mastigável, com aromas de frutas maduras, nozes e delicado defumado, não havia como não gostar. E pela primeira vez, em muito tempo, provei e aprovei um vinho "de sobremesa"...
Oscar Daudt |