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Belo Piemonte
O Piemonte - ou, como se fala no dialeto local, Piemunt - oferece paisagens deslumbrantes. São onduladas colinas e no topo de cada uma delas uma cidadezinha medieval com as indefectíveis torres de tijolos, muito altas, dominando o horizonte. As encostas são ocupadas, a cada centímetro, com vinhedos e mais vinhedos. É emocionante e a chegada àquela região causa até arrepios... Os enófilos não devem morrer sem antes conhecê-lo.

E é dessa paisagem privilegiada que saem dois dos mais venerados vinhos italianos: o Barolo - o rei dos vinhos, o vinho dos reis - e o não menos nobre e suntuoso Barbaresco. Ambos os vinhos, e mais alguns produzidos na região, são elaborados apenas com a Nebbiolo, uma casta poderosa e cheia de taninos, que não conseguiu se adaptar em nenhum outro lugar do mundo tão bem como no Piemonte. São vinhos com grande capacidade de envelhecimento - muitas vezes obrigatoriedade de envelhecer! - e primordialmente gastronômicos.

No entanto, esses vinhos são caros - caríssimos - consumidos apenas em ocasiões especiais até mesmo pelos piemonteses. Os vinhos que costumam encher os copos do dia-a-dia na região são o Barbera - casta vibrante e suculenta - e o Dolcetto, mais simples.

Bem, e como se não bastasse ser privilegiado com vinhos especiais, o Piemonte é a terra das trufas brancas que, durante o outono setentrional, perfumam as feiras de Alba com seus aromas terrosos e pungentes.

Oscar Daudt
Il Boscareto
O Il Boscareto Resort & Spa é um luxuoso empreendimento de 25 milhões de euros de Fiorenzo Dogliani, o proprietário da Batasiolo. O hotel é magnífico e fica localizado nos arredores de Serralunga d'Alba, em meio ao vinhedo Boscareto, da própria vinícola. No alto de uma colina, domina uma paisagem quase infinita em que o olhar se perde pelos vinhedos contínuos, de vez em quando salpicados por uma cidadezinha no topo de uma colina. A mais perto delas, é claro, é Serralunga d'Alba e a vista a partir do hotel é privilegiada, até mais bonita do que a própria cidade em si.

As instalações são requintadas e o serviço é afinadíssimo. O jardim com móveis modernos convida à contemplação. O hotel possui um restaurante requintado e um bar de vinhos modernoso. E as instalações do spa são super-equipadas, lindas, cheias de chuveiros e jatos inusitados. Em uma viagem que primou pela qualidade e luxo dos hotéis, esse conseguiu levar o primeiro prêmio.

O hotel, no entanto, é alvo de críticas de alguns setores que o consideram como uma cicatriz de modernidade que não combina com a paisagem do Piemonte. Mas não se pode esquecer que o mesmo foi dito a respeito da Torre Eiffel e da Pirâmide do Louvre, em Paris. E hoje, alguém tem coragem de reclamar desses dois monumentos?
O majestoso hotel de 25 milhões de euros Para relaxar nos jardins, curtindo a paisagem
A piscina do Spa Em volta do hotel, vinhedos e mais vinhedos Jardim interno
À chegada, fomos homenageados com um coquetel
Barbaresco
Vista da cidade A principal enoteca da cidade fica dentro da igreja de San Donato No bar de vinhos, apenas Nebbiolo
Degustação na Gaja
Acho que nem o Grimberg imaginava que nossa recepção na Gaja seria de tanta deferência. Em uma vinícola avessa à visitação de grupos, participar de uma degustação comandada pelo próprio Angelo Gaja, lenda viva do vinho da Itália, foi uma completa surpresa.

A Gaja é considerada como a mais importante vinícola italiana e a única a receber 4 estrelas do guia Gambero Rosso. Angelo, o responsável por esse sucesso, é uma das figuras mais importantes da vinicultura mundial e sua aparência de conde piemontês não deixava prever que iríamos dar gargalhadas durante a degustação de seus mais importantes vinhos. O homem é um verdadeiro show man. Contou histórias saborosas, como quando Robert Mondavi o convidou para uma joint venture, caso que ele comparou como sexo entre um elefante e uma formiguinha. Explicou que, para ele, a Cabernet Sauvignon era como John Wayne, que fazia tudo certo em relação às mulheres, mas sempre igual, enquanto que a Nebbiolo era como Marcello Mastroianni, que a cada vez fazia diferente. Desbocado, até palavrão falou...

Repetiu à exaustão que seus vinhos são para acompanhar a comida, e não para meditar, o que me fez, à força, aprender que cibo, em italiano, quer dizer refeição.

Além de rótulos do Piemonte, Angelo nos ofereceu vinhos de suas propriedades na Toscana, a Pieve Santa Restituta, em Montalcino, e a Ca'Marcanda, em Bolgheri.

Para mim, este foi o momento mais elevado de uma viagem cheia de pontos altos.
Simplesmente Gaja
A degustação foi conduzida pelo respeitado e impagável Angelo Gaja Um dos salões do histórico Castello di Barbaresco, sede da vinícola
Gaja Sperss Langhe 1999 Gaja Barbaresco 2007 Pieve Santa Restituta Brunello di Montalcino Sugarille 2006
Ca'Marcanda Bolgheri 2007 Garrafas históricas
Jantar no La Rei
Jantamos no restaurante do próprio hotel, o La Rei, um lugar requintado, com grandes mesas, muito espaço e um serviço afinadíssimo. Comandado pelo chef Gian Piero Vivalda - que é também co-responsável com seu pai pelo restaurante que jantamos no dia seguinte.

Recentemente inaugurado, o magnífico restaurante já papou um honroso Due Cappelli do Guide de L'espresso de restaurantes italianos. Noite especialíssima...
Grissinis Tatanetti su crema di patate Cruditá di pesce e crostacei del mar Ligure all'olio extra vergine
Insalatina di Faraona di Bresse, carciofi di Albenga e olive taggiasche Tortelli di ricotta d'alpeggio della Valle Gesso al tartufo nero e spuma di Mandorle di Noto Maialino croccante, composta di ananas e cipolle rosse di Tropea, salsa agrodolce
Predessert Freschezza agli agrumi, cioccolato bianco e cocco Piccola pasticceria
Batasiolo Millésimé 2003 Batasiolo Langhe Chardonnay Batasiolo Barolo
Degustação na Batasiolo
Desde os tempos em que era franqueado da Expand, José Grimberg desenvolveu excelentes relações com a Batasiolo, um dos gigantes do Piemonte, localizada em La Morra. E tanto a vinícola quanto o hotel do grupo não pouparam esforços para nos receber com requintes de gentilezas. Ao chegarmos na sede da Batasiolo, uma bandeira brasileira hasteada nos cumprimentava. E, após uma degustação especialíssima, ainda saímos de lá com uma sacola cheia de lembranças.
Brut Classico Millesimé 2006 Barolo Vigneto Bofani 2005 Mini-vertical de Barolo Vigneto Cerequio 2004 e 2005
Barolo Vigneto Boscareto 2005, plantado em volta de nosso hotel Barolo Vigneto Corda della Briccolina Grimberg homenageando Paolo Alberione, gerente da Batasiolo
Jantar na Antica Corona Reale
Embora o grupo tenha classificado a Antica Corona Reale em segundo lugar na avaliação dos restaurantes, este para mim foi o campeão. Comandado a quatro mãos por Gian Piero Vivalda - o mesmo do jantar da noite anterior - e por seu especialíssimo pai Renzo Vivalda, o restaurante ostenta duas estrelas do Guia Michelin. Renzo é um figuraço do alto de seus 80 e alguns anos, intempestivo, divertido - logo ganhou o apelido de Costinha, pela semelhança física e pelos mesmos miados que são a marca registrada do comediante - e galanteador, recusava-se a brindar com os homens e caiu de amores por uma das companheiras do grupo.

Mas ele impressiona mesmo é pela maestria com que comanda as panelas, apresentando pratos - nem tão plásticos assim - mas perfeitos em sua gostosura... Gol de placa!

Nessa noite, os vinhos foram oferecidos pela Rocche Costamagna, produtor respeitado pela alta qualidade de seus vinhos, e Borgo Maragliano, conhecido por sua confiável produção de Moscato d'Asti.
Amuse bouche Baccalà mantecato su parmantier di piselli freschi all'olio nuovo Uovo terme su salsa allo scalongo dolce di Riolo e gamberi rossi di San Remo, asparagi verdi biologici di Poirino
Tortellini di Seirass della Val Pellice e Roccaverano DOP, zucchine trombette e fiori di zucca al burro di Malga Cappelo da prete di castrato piemontese con ristretto al Barolo DOCG e verdure croccanti dgli orti di Bra Predessert
Flan di gianduja Caffarei su salsa alla tonda gentile di Cortemilia IGP Piccola pasticceria Chef Renzo Vivalda
Rocche Costamagna Langhe Arneis 2010 Rocche Costamagna Murrae Dolcetto d'Alba 2009 Rocche Costamagna Annunziata Barbera d'Alba 2008
Rocche dell'Annunziata Barolo 2006 Borgo Maragliano La Caliera Moscato d'Asti 2010 Borgo Maragliano Loazzolo Vendimia Tardiva 2007
Alessandro Locateli, da Azienda Rocche di Costamagna Carlo Maragliano, da Azienda Borgo Maragliano A frente do restaurante
Degustação na Prunotto
Fundada por Alfredo Prunotto, em 1923, ficou sob seu comando até 1956, quando a vendeu a seu amigo Beppe Colla. Foi a primeira casa do Piemonte a especificar o nome do vinhedo nos rótulos, o que desencadeou uma revolução de qualidade por toda a região. Em 1989, a vinícola foi vendida à Casa Antinori, da Toscana, que continua mantendo a tradição de qualidade tão tenazmente buscada por seu fundador.

Lá tivemos uma excelente recepção que incluiu uma vertical de Prunotto Barolo, das safras de 2005, 2001, 1999 e... 1982! Grande momento da viagem!
O logo à entrada da vinícola Emanuele Baldi, gerente de exportações Rótulos históricos
Costamiòle Barbera d'Asti 2001 Bric Turot Barbaresco 2006 Bussia Barolo 2005
Bussia Barolo 2001 Bussia Barolo 1999 Bussia Barolo 1982
Visita a Alba
Duomo d'Alba Em uma pequena trattoria, ovos com trufas
Degustação na Pio Cesare
A Pio Cesare localiza-se desde sua fundação, em 1881, em pleno centro de Alba, a poucos passos da praça do Duomo. Vinícola até hoje familiar, está instalada em um prédio histórico, com caves seculares, e ruínas romanas entremeadas entre as áreas de produção, o que impede a expansão física da empresa. Visitar a Pio Cesare é uma volta ao passado, mas fica claro ao visitante que as instalações são acanhadas demais para a produção de 400.000 garrafas. A empresa, no entanto, não pensa em se transferir para uma área mais operacional, preferindo manter a tradição e a história intactas.

Em contraste com esse apego ao passado, o estilo impresso a seus vinhos é bem mais moderno do que as demais grandes casas da região, produzindo Barolos menos austeros, suculentos e exuberantes. Bastante respeitado, seu Piodilei Chardonnay, estruturado e longevo é um dos brancos mais admirados do Piemonte. Suas caves recheadas com exemplares de 1989 são a prova disso, mas não adiantaram meus apelos para que pudéssemos degustar essa safra. A vinícola fez jogo duro e não nos deu essa alegria...
Estátuas romanas na sede da vinícola Nas históricas caves, ruínas de muros romanos Muitos Piodilei 1989 na adega, o Chardonnay excepcional da vinícola; mas não adiantou eu insinuar, pedir e por fim implorar que o degustassemos que a vinícola fez jogo duro...
Piodilei Langhe Chardonnay 2009 Fides Barbera d'Alba 2008 Barbaresco 2007
Barolo 2007 Ornato Barolo 2007 Fomos recebidos por Jairo Neira
Passeio por Barolo
A pequena e charmosa Barolo As placas de rua da cidade Barolo à noite
Rosso Barolo, o anti-clímax
Depois de uma viagem tão espetacular, com restaurantes estrelados e cardápios de fina estampa, era de se esperar que o jantar de despedida fosse um acontecimento para arrebentar a boca do balão. Infelizmente, não foi nada disso e até agora eu não entendi o que deu na cabeça do Grimberg para nos levar ao Rosso Barolo, um restaurante simplório, com zero de charme, uma comida sofrível (mais uma vez comemos Risotto de Arroz) e um serviço típico de bandejão de colégio interno. E logo no dia da despedida! A coisa era tão feia que eu nem me dei ao trabalho de fotografar os pratos, para não assustar os leitores... A única coisa que se salvou foram os vinhos, que nós mesmos escolhemos.
Monte Rossa Cabochon Franciacorta Elio Altare Arborina Langhe 2005
Elio Altare La Villa Langhe 2006 Domenico Clerico Ciabot Mentin Ginestra Barolo 2004
Comentários
Eduardo Araújo
Sommelier
Florianópolis
SC
30/05/2011 Fantástico! Página salva para usar as dicas em minha viagem à região, em setembro.
Ana Paula Vianna
Sommelière
São Paulo
SP
30/05/2011 Que delícia de reportagem. Parabéns!!

Este é o meu sonho, principalmente visitar a Vinícola Gaja. Admiro muito o trabaho do Sr. Angelo Gaja. Maravilha de matéria!!!
Aguinaldo Aldighieri
Enófilo
Rio de Janeiro
RJ
30/05/2011 Esse Chardonnay Piodilei Langhe do Pio Cesare eu já degustei no meu Grupo na ABS. É realmente fantástico. Foi quando descobrí que, além do Friuli, a Itália oferecia brancos maravilhosos também no Piemonte.

Pena que seu preço de catálogo da Importadora Decanter seja de R$222,60!
Lucia Lopes
Funcionaria Publica Federal
Brasília
DF
01/06/2011 Adorei a trilogia!

Achei uma adorável escrita, de dar água na boca pelos vinhos, com fotos maravilhosas e me encheu de vontade de fazer uma viagem desta com vcs!!!!

Abç,
Lucia Lopes
José Luiz Minetto
Advogado
São Paulo
SP
13/10/2011 Sensacional o site! Dá vontade de ir direto para o aeroporto, para chegarmos logo nessa região que não conheço, ainda!

Vou usar como guia.
Karla Maria Otoni Nalon
Médica, Enófila
Belo Horizonte
MG
05/03/2014 Parabéns pela reportagem.

Eu e meu marido estaremos no Piemonte final deste mês e estaremos fazendo algumas degustações em vinícolas. Pude perceber que há vinícola recebendo apenas comerciantes. A Gaja também só recebe profissionais? Não estou conseguindo contato com a mesma.

Vc. pode me ajudar? Obrigada, Karla.

Karla, infelizmente, a Gaja não recebe visitantes privados. Abraços e boa viagem, Oscar
EnoEventos - Oscar Daudt - (21)9636-8643 - [email protected]