 Há cerca de dois anos, o boa-praça João Portugal Ramos e sua mulher Teresa estiveram no Rio de Janeiro para apresentar seus vinhos no Antiquarius, uma espécie de embaixada informal de Portugal no Leblon. Voltando à nossa cidade, desta vez o encontro foi no Fasano al Mare, a quintessência italiana de Ipanema. Estranho, não?
Mas acredito que a idéia de João Portugal foi mostrar que seus vinhos são internacionais. Apesar de seu nome - que é quase um passaporte lusitano - o respeitado enólogo português não é um chauvinista e busca aperfeiçoar seus vinhos com castas internacionais. Cabernet Sauvignon é quase padrão em seus cortes de variadas castas autóctones. E isso dá certo? Na minha opinião, deu muito certo! A harmonização com o cardápio essencialmente italiano foi primorosa.
João Portugal é a cabeça de um grupo de vinícolas que inclui a J. Portugal Ramos, onde produz as linhas Marquês de Borba e Vila Santa, no Alentejo; a Quinta de Foz de Arouce, nas Beiras, onde elabora dois respeitados Bagas; e a Falua, no Tejo, de onde vem, dentre outros, o Conde de Vimioso. E mais, há cerca de 20 anos, constituiu a Consulvinus que presta consultoria em enologia para as mais diversas regiões vinícolas lusitanas. Só não se pode dizer que ele é um antêntico enólogo-voador porque em Portugal as pessoas não costumam se deslocar de avião, mas sim de carro; ele está mais para um enólogo-rodoviário!
Não bastasse isso tudo, João Portugal, em 2006, desafiou o não menos festejado enólogo e amigo José Maria Soares Franco a desenvolver um projeto no Douro, batizado de Duorum e que, em poucos anos já se constitui numa das maiores apostas portuguesas para o desenvolvimento de vinhos de alta gama.
E no jantar que a Casa Flora ofereceu à imprensa especializada do Rio de Janeiro, João Portugal apresentou os vinhos de apenas dois desses empreendimentos: a J. Portugal Ramos e a Duorum. Não que isso seja pouco, pois experimentamos nada menos do que 8 rótulos para acompanhar as 5 etapas do menu. Fora a sobremesa, cada prato foi escortado por dois vinhos. Foi fantástico!
Os canapés foram servidos com o Marquês de Borba Branco, das safras 2009 e 2010. Alexandre Lalas e eu concordamos que não iríamos brigar por vinhos, pois enquanto ele se deleitava com a explosão aromática do 2010, eu me encantava mais com a mineralidade e maior estrutura do ano anterior. Mas a coisa ficou mais séria quando, já sentados à mesa, para acompanhar o Tortelli di Vitello, chegou o Vila Santa Branco, fermentado em barricas novas de carvalho francês. Um vinho maravilhoso, untuoso, mineral e especiado. Um show! Até tinha outro vinho para harmonizar com o prato, o Marquês de Borba Tinto, mas eu nem dei pelota para ele, de tão encantado que estava com o branco.
Gostei demais do Risotto com Ragu, que mereceu o escorte do Vila Santa Reserva Tinto e do Vila Santa Trincadeira. Dessa vez, a briga foi mais parelha e ambos os rótulos encararam bem a cremosidade do arroz, mas a minha preferência ficou mesmo com o primeiro, um complicado corte de Aragonêz, Touriga Nacional, Trincadeira, Alicante Bouschet e - sempre - Cabernet Sauvignon, um vinho elegante, suculento e macio.
Agora, briga mesmo, de foice no escuro, travaram os acompanhantes da Tagliata: num ato de coragem, João Portugal colocou lado a lado os poderosos Marquês de Borba Reserva e Duorum Reserva e deixou eles se engalfinharem. Foi difícil escolher qual o mais maravilhoso e qual melhor cortejava a carne (que, por sinal, foi um grande momento do chef Luca Gozzani). Mas quando fiquei sabendo que, enquanto o primeiro custa 190 reais, o segundo sai quase a metade, 110 reais. Assim é brincadeira: nem precisei pensar duas vezes para declarar o Duorum como o campeão da noite!
Ainda teve uma bela sobremesa, acompanhada do aclamado Duorum Porto Vintage, mas passei lotado pelos dois.
Oscar Daudt |