
Mario Tacconi, italiano nascido na belíssima capital da Toscana, Florença, assumiu em 2009 o comando da cozinha dos dois restaurantes Fratelli: o do Leblon e o da Barra. Saudoso de sua terra natal, o chef resgatou receitas tradicionais do centro da Itália e organizou o Festival da Toscana, que fica em cartaz nas duas casas durante todo o inverno.
São muitos tomates, polentas, feijões brancos, cogumelos e embutidos que passam a ocupar a primeira página do cardápio do Fratelli. Se você quiser esquentar suas noites frias - ma non troppo - do inverno carioca, essa é uma excelente dica. Ainda mais se os pratos forem acompanhados dos belos vinhos italianos que a extensa carta da casa nos oferece. É capaz até de você sair cantando Al di lá...
O festival é a la carte e você pode escolher entre as diversas entradas, primeiros e segundos pratos e, para quem gosta, sobremesas. Mas nessa noite, para apresentar o festival à imprensa carioca, Joaquim Moreira e Bernardete Simonelli, proprietários do restaurante, prepararam uma degustação com amostras de 9 dos pratos que estão temporariamente fazendo parte do menu. Haja estômago!
Iniciamos com nada menos do que três sopas. E por mais estranho que possa parecer, as duas primeiras foram servidas com garfo. Também, pudera, são sopas preparadas com pão italiano que lhes confere a textura de purê. Das três, a grande campeã foi a Pappa al pomodoro (27 reais), que encantou a gregos e baianos. Um show de delicadeza, com um leve tempero de manjericão.
A seguir, mais uma surpresa: a polenta branca era, na verdade, negra como as asas da graúna. Seu nome explica tudo: Polenta bramata bianca al nero di seppia com ragu di mare (52 reais), foi um dos grandes momentos da noite. Vale a pena contar que essas 4 entradas foram harmonizadas com uma feliz escolha do sommelier Adriano Alves de Oliveira: era o Argiolas S'elegas Nuragus di Cagliari 2009 (98 reais), um branco que conheci no recente Vini Vinci 2011 e que citei como um dos destaques dessa feira. Acompanhando com comida, então, ele se mostrou ainda mais entusiasmante.
O melhor prato, no entanto, para mim, foi a excepcional Polenta bramata gialla, salsiccia, funghi e crema al tartufo nero (38 reais), uma caprichosa combinação de ingredientes, cujo tempero de trufas negras costurava com precisão. Também recomendo...
Depois de um buonissimo Fettucine al ragu di cinghiale (65 reais), com a massa preparada pelo próprio chef, o prato seguinte quase me derrubou do cipreste em que eu já havia trepado. O Fagiano in salmi com polenta bramata bianca (faisão marinado por 24 horas e cozido na própria marinada) custa estapafúrdios 140 reais! Meu Deus, acho que nunca vi em minha vida toda um prato assim tão caro! Quem será que vai ter a coragem de pedí-lo?
Ao final, dividi minha sobremesa, um Zuccotto, entre as mocinhas da mesa que, apesar de magrinhas, ainda não haviam ficado satisfeitas depois das 8 etapas da degustação.
Oscar Daudt |