
Rótulos brancos, vinhos de ouro |
Há poucos dias, contei em uma matéria a extrema simplificação de uma frase que ouvi há quase 40 anos - quando eu ainda nem bebia vinho - mas que ficou conservada em âmbar em algum escaninho de minha memória: "Vinhos bons são os que têm o rótulo branco!".
E parece que os vinhos servidos no memorável almoço oferecido pela importadora Wine Stock vieram reforçar a propriedade dessa duvidosa afirmativa. Todos os 6 rótulos dos vinhos borgonheses que provamos eram brancos, discretos, clássicos como que a gritar ao mundo que o importante estava dentro da garrafa e não do lado de fora.
Representado por sua produtora, Anne Moreau, o Domaine Louis Moreau fica localizado no coração de região de Chablis, possuindo parcelas em 5 dos vinhedos Grand Cru: Blanchot, Valmur, Vaudésir, Les Clos e Clos des Hospices, este último um monopole familiar situado dentro de Les Clos. Mas em função da fragmentação dos vinhedos, decorrente das leis napoleônicas - que determinavam que as terras deveriam ser repartidas igualmente entre todos os herdeiros - as áreas são muito pequenas, minúsculas até. Por exemplo, a parcela em Blanchot possui apenas a inacreditável dimensão de 0,1 hectare (mais ou menos um terreninho de 30x30 metros!). Quantas garrafas podem ser produzidas em uma área assim reduzida? Não faço ideia, mas me considero um privilegiado por ter provado um vinho assim tão exclusivo.
O Louis Moreau Chablis Grand Cru Blanchot 2006 (290 reais) foi uma beleza, com seus aromas florais, muita mineralidade, deliciosa acidez e elegante complexidade emprestada por curta passagem em carvalho de pequena parcela do vinho. E este ficou ainda melhor por eu ter sido contemplado com a companhia da suave Anne a meu lado, descrevendo individualmente e com grande entusiasmo seu filho dileto. Infelizmente, esse foi o único vinho do Domaine que nos foi oferecido e ficou aquele gostinho de quero-mais.

Os outros 5 vinhos degustados durante o almoço foram todos do Domaine Henri de Villamont, localizado em Savigny-les-Beaunes. Produzindo vinhos com algumas das mais míticas denominações da Borgonha, seus exemplares fizeram a festa entre os convidados. O Meursault 1er Cru Les Charmes 2007 (350 reais) com aromas de balas de mel, frutas tropicais e madeira mais presente do que o vinho anterior, acompanhou um delicioso carpaccio de salmão marinado com aneto e grãos de mostarda.
Como um obstinado apreciador de vinhos brancos, cheguei ao nirvana com um espetacular Corton-Charlemagne Grand Cru 2008 (550 reais). Que outra oportunidade teria eu de me deliciar com um vinho assim tão distante do meu bolso? Portanto, tratei de imprimir em meus neurônios as deliciosas impressões do vinho: aromas de flores brancas, frutas maduras e canela empacotados em muita elegância e perfeita acidez. O dia já estava ganho.
Mas quando pensei que nada de melhor chegaria a nossas taças, os tintos entraram matando a pau! Depois de um belo Corton Grand Cru Les Chaumes 2007, escortando o risoto de codorna, o diretor da vinícola, Benoît Bruot decidiu semear a discórdia entre os presentes e serviu, para acompanhar a paleta de cordeiro, dois vinhos grandiosos: o Clos de Vougeot Grand Cru 2007 (630 reais!!!) e o Grands-Echezeaux Grand Cru 2007 (750 reais!!!). Benoît quis mostrar como que dois vinhos produzidos com a mesma uva, pelo mesmo enólogo, usando as mesmas técnicas de vinificação e plantados em áreas distantes não mais de 20 metros uma da outra poderiam ser tão diferentes! "Isso é o terroir!", vibrava ele...
E conseguiu, pois os dois rótulos tinham uma diferença da água pro vinho, ou melhor, do vinho pro vinho! As opiniões se dividiram e enquanto alguns preferiam o primeiro, outros torciam pelo segundo. Eu, mais diplomático, preferi os dois...
A nova importadora Wine Stock iniciou suas atividades em 2009, atuando no mercado de São Paulo e oferecendo grandes vinhos de Bordeaux de safras que permitem que os mesmos possam ser comprados e bebidos de imediato. Dentre os rótulos disponíveis a pronta-entrega encontram-se os mágicos châteaux Haut-Brion, Latour, Cos d'Estournel, Lafite-Rothschild, Margaux e por aí vai. Com a chegada dos novos borgonhas, a carteira está pronta para atender aos paladares mais refinados. A partir de agora, em 2011, a Wine Stock estende suas atividades para o Rio de Janeiro e Brasília.
Se você estiver com o bolso recheado, vale a pena visitar a página da empresa (clique aqui) e garimpar o que eles têm a oferecer. Apesar dos preços altos (mas não caros) deve-se elogiar a importadora pela transparência de divulgar a tabela livremente para seus clientes!
Oscar Daudt |